Política

FHC e mais de 20 ex-presidentes se juntam a campanha por adiamento de eleição do BID

Em carta, os chefes de Estado e de governo reunidos sob a égide do Clube de Madri consideram que não existem condições para a realização da eleição agora e apelam ao seu adiamento até março do próximo ano

Madri – A campanha pelo adiamento da escolha do próximo presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), prevista para 12 de setembro, continua a tomar forma. No fim de julho, o alto representante para Política Externa da União Europeia, Josep Borrell, encaminhou uma carta a todos os países com capital no banco – entre eles, muitos do Velho Continente – para propor o adiamento do processo para depois das eleições presidenciais nos Estados Unidos, ação que foi endossada poucos dias depois por vários governos latino-americanos, incluindo Argentina, Chile e México. Nessa terça-feira, 22 ex-presidentes e primeiros-ministros latino-americanos – incluindo Fernando Henrique Cardoso -, europeus e asiáticos se juntaram à moção.

Em carta, os chefes de Estado e de governo reunidos sob a égide do Clube de Madri consideram que não existem condições para a realização da eleição agora e apelam ao seu adiamento até março do próximo ano, “dando aos Estados-membros a oportunidade de aprofundar o debate sobre o papel do BID, sua liderança e a resposta institucional adequada para a recuperação da crise da covid-19″.

Embora não o mencionem explicitamente, o adiamento também impediria Donald Trump de alcançar seu objetivo de fazer presidente da instituição um de seus colaboradores mais próximos e membro proeminente da linha-dura do Partido Republicano Mauricio Claver-Carone.

A nomeação de Claver-Carone romperia a norma não escrita que diz que a presidência da organização deve ser de um latino-americano. Se o democrata Joe Biden vencer as eleições nos Estados Unidos em novembro, praticamente ninguém duvida que ele tentará moderar os ânimos e desistir de indicar um compatriota à direção do BID.

Além de Fernando Henrique Cardoso, também assinam o texto o ex-premier espanhol Felipe González e os mexicanos Ernesto Zedillo, Vicente Fox e Felipe Calderón. Eles sugerem a nomeação de um presidente interino que manterá as rédeas do BID até a primavera de 2021, como já acontece na OMC (Organização Mundial do Comércio).

Governo brasileiro é contra

O governo brasileiro divulgou ontem uma declaração conjunta com outros 16 países pedindo que as eleições para a presidência do BID não sejam adiadas, em resposta ao movimento encabeçado por Josep Borell.

“A eleição do presidente do BID é de extrema importância para nossa região e para conduzir o banco no enfrentamento do maior desafio da era contemporânea”, afirma a nota do governo brasileiro e aliados. “Nossos povos precisam de soluções que não podem ser adiadas”.

Na nota conjunta dos Ministérios da Economia e das Relações Exteriores, o governo brasileiro se associa a outros países, o principal deles os Estados Unidos. Na América do Sul, assinam o texto Bolívia, Colômbia, Equador, Paraguai, Suriname, Guiana e Venezuela. A lista de nações inclui ainda Bahamas, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, Jamaica, Panamá e República Dominicana.

A nota destaca ainda que a reunião da Diretoria Executiva do BID decidiu que a eleição para presidente do banco ocorrerá nos dias 12 e 13 de setembro, em reunião virtual do conselho de governadores. O texto insta os países-membros a cumprir, “no prazo e forma indicados”, as resoluções já aprovadas pelos diretores e governadores.

“Será extremamente importante preservar a integridade desse processo e das decisões tomadas pelos diretores e governadores do banco para proteger os interesses da região, bem como a soberania hemisférica de nosso banco interamericano”, completa.