Foz do Iguaçu – Com pelo menos 200 pessoas – entre homens, mulheres, crianças e adolescentes – que podem ter sido vítimas do tráfico internacional, o Paraná se destaca no cenário nacional para combater esse tipo de crime. O alerta vai além: o oeste chama a atenção porque a região tem se referenciado, no mau sentido, como importante caminho de quadrilhas ou coiotes em busca dessas vítimas, a maioria delas para serem obrigadas a se prostituir no exterior. É que por aqui eles contam com a facilidade em sair do País pela tríplice fronteira sem deixar pegadas e rastros.
Outra condição preocupante é a dificuldade de saber quantos paranaenses podem estar em condições de tráfico neste momento porque há um número bastante expressivo de casos que jamais chegam às autoridades. Essas cerca de 200 vítimas chegaram às forças de segurança por meio de denúncias e rastreamentos em curso.
Devido a essas condições que o Centro Internacional para o Desenvolvimento de Políticas Migratórias, ao traçar um importante e preocupante mapa indicando as principais potencialidades ligadas ao tráfico de pessoas no Brasil, resolveu trazer capacitações para enfrentamento ao problema à região.
Em parceria com organizações, instituições, forças de segurança e os serviços de apoio, foram traçadas metas e proposto o aprimoramento de medidas para o enfrentamento a esse tipo de crime que não para de crescer, muda de características, de alvos e costuma ser difícil de ser diagnosticado.
Segundo a coordenadora do Núcleo Estadual de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Seju (Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Emprego), Silvia Xavier, apenas uma cidade da Região Sul do Brasil foi selecionada para receber essa capacitação por considerar sua condição preocupante e de vulnerabilidade que facilita esse tipo de crime: Foz do Iguaçu, que sediará, na próxima semana, encontro voltado para a região tríplice: Brasil, Paraguai e Argentina.
Vulnerabilidade na fronteira
O Encontro Atenção Brasil – Fortalecendo a Capacidade do Governo Brasileiro no Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas será terça e quarta-feira (21 e 22), na sede da Delegacia da PRF (Polícia Rodoviária Federal), em Foz do Iguaçu, quando se espera reunir de 80 a 120 pessoas ligadas direta ou indiretamente, de setores governamentais e não governamentais, no atendimento às vítimas, na repressão e na tentativa de minimizar e frear essas práticas. “Minha fala nesse evento será na terça-feira e esperamos pessoas de toda a região oeste e dos países próximos nessa capacitação. Esse é um tipo de crime muitas vezes subnotificado. É preciso enfrentar o tráfico de pessoas porque ele existe, está próximo e é extremamente nocivo à sociedade”, destacou a coordenadora do Núcleo Estadual de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Seju, Silvia Xavier.
A capacitação espera ainda contribuir para aumentos nos números de investigações, acusações e condenações relacionadas ao crime.
Aparecem como parceiros o MPF (Ministério Público Federal), a Divisão de Direitos Humanos do Departamento de Polícia Federal, a Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública e o Instituto Migrações e Direitos Humanos.
Além de Foz do Iguaçu, a capacitação ocorre ainda em Belém, Boa Vista, Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo.
Resultados
Espera-se com a capacitação a formação de grupos-alvo mais bem treinados para aplicação mais rápida e eficiente da nova legislação de enfrentamento ao tráfico de pessoas, considerando uma abordagem centrada na vítima; aprimoramento das capacidades das instituições federais envolvidas na formulação e implementação da política de enfrentamento ao tráfico, em particular em esforços relativos às investigações, acusações e condenações do crime e melhor identificação e referenciamento das vítimas e possíveis vítimas de tráfico, quaisquer que sejam as modalidades (exploração laboral, exploração sexual, adoção ilegal, tráfico de órgãos, entre outros).
Caminhada pelas vítimas de abuso
Mais de 400 pessoas, entre membros da rede de proteção, secretarias municipais, conselhos de direito, além de crianças e adolescentes assistidas por entidades sociais participam na manhã desta sexta-feira (17) da caminhada alusiva ao Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes em Foz do Iguaçu.
Durante o percurso de quase dois quilômetros (entre o 34º Batalhão de Infantaria Mecanizado, na Avenida Brasil até a Praça da Paz, na Avenida JK), os manifestantes aproveitarão para divulgar os canais de denúncias, como o Disque 100 e alertar a população sobre o problema. A concentração começa às 8h30.
Reportagem: Juliet Manfrin