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PF deflagra operação contra a importação de defensivos agrícolas ilegais em Santa Terezinha de Itaipu

A investigação foi iniciada em fevereiro de 2019

PF deflagra operação contra a importação de defensivos agrícolas ilegais em Santa Terezinha de Itaipu

Foz do Iguaçu/PR – A Polícia Federal deflagrou nas manhã desta tereça-feira (31), a Operação Ruta Negra*, para desarticular uma Organização Criminosa estabelecida em Santa Terezinha de Itaipu/PR, especializada na importação, comercialização e transporte criminosos de defensivos agrícolas ilegais.

Mais de 80 policiais federais cumpriram 20 mandados de busca e apreensão, um mandado de prisão preventiva e dois mandados de prisão temporária nas cidades de Santa Terezinha de Itaipu/PR, Foz do Iguaçu/PR, São Miguel do Iguaçu/PR, Medianeira/PR, Ubiratã/PR, Irati/PR e Lucas do Rio Verde/MT.

Veja o mapa com as principais rotas desse mercado:

A investigação foi iniciada em fevereiro de 2019, a partir de apreensões de cargas ilegais de agrotóxicos vindas do Paraguai. Verificou-se que a organização estaria relacionada com, ao menos, 10 prisões em flagrante por importação e transporte de agrotóxicos ilegais, receptação qualificada de veículos furtados ou roubados e adulteração de sinal identificador de veículo (adulteração de placas), ocorridas em Foz do Iguaçu/PR, Santa Terezinha do Itaipu/PR, Corbélia/PR, Céu Azul/PR e São Miguel do Iguaçu/PR.

Nessas ocorrências, foram apreendidas aproximadamente 1,8 toneladas de agrotóxicos ilegais (no valor de cerca de R$ 3,6 milhões), recuperados 3 (três) veículos furtados ou roubados e presas 10 (dez) pessoas.

Apurou-se que os criminosos atuavam pelo menos desde o ano de 2015 e supostamente foi responsável pela importação clandestina de dezenas de toneladas de defensivos agrícolas sem registro nos órgãos competentes, a maior parte de origem chinesa.

Em média, uma tonelada dos defensivos agrícolas mais comercializados pela organização tem valor aproximado de R$ 2 milhões.

Por se tratar de produtos que podem causar danos ambientais e à saúde humana, sua importação é regulamentada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

A importação ocorria por meio do lago de Itaipu, em pequenas embarcações, que utilizavam portos clandestinos da região. Em seguida, os agrotóxicos eram armazenados em entrepostos situados em Santa Terezinha de Itaipu/PR e Ubiratã/PR até serem comercializados nos estados do Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Rondônia, Amazonas e Pará.

No transporte rodoviário, os criminosos atuavam em comboio de três a cinco veículos, com constantes fugas das forças policiais e direção agressiva. Foram relatados, ao menos três acidentes de trânsito. Em um desses acidentes, ocorrido no início de 2017, na praça de pedágio situada em São Miguel do Iguaçu/PR, faleceu um dos supostos motoristas do grupo quando o veículo que conduzia se incendiou depois de ter colidido com outro carregado de agrotóxicos.

Um dos produtos mais importados pela organização criminosa era o benzoato de emamectina, popularmente conhecido como “Benzo”, utilizado no combate à Helicoverpa armigera, espécie de lagarta comum nas lavouras brasileiras de soja, milho, feijão e algodão.

Em razão de ser muito poluente, o benzoato de emamectina era absolutamente proibido no Brasil até o ano 2017. Posteriormente, foi liberado seu uso em concentração máxima de até 5% (cinco por cento). Durante as investigações, foram realizadas apreensões de benzoato de emamectina em concentrações de até seis vezes maiores do que a permitida.

Além da evasão fiscal, pelo não pagamento dos tributos devidos na importação e no comércio dos produtos, os crimes cometidos geraram danos ambientais em diversos estados da federação.

Por outro lado, o transporte irregular, em embarcações precárias, de grandes quantidades (geralmente entre 500kgs a 1 tonelada) desses produtos extremamente tóxicos, em concentrações até seis vezes superiores às permitidas pela legislação brasileira, por via fluvial, traz enorme risco de dano ambiental ao ecossistema regional, considerada a possibilidade de derramamento no rio Paraná.

Ao longo das investigações, surgiram indícios de que a organização receptava carros roubados ou furtados, adulterando suas placas. Esses veículos eram utilizados para o transporte dos agrotóxicos.

Também surgiram indícios de que os bandidos contavam com auxílio de funcionário de agência bancária em Foz do Iguaçu/PR para abertura de contas com documentos falsos e para movimentação de dinheiro ilegal obtido pelo grupo.

Além da prisão do líder da organização criminosa e de seus dois principais auxiliares, foram apreendidos dinheiro, veículos, embarcações e imóveis supostamente obtidos em razão das práticas criminosas.

Os investigados supostamente cometeram os crimes de importação e transporte de agrotóxicos ilegais, receptação qualificada, adulteração de sinal identificador de veículo (adulteração de placas), falsificação de documentos e de organização criminosa. Se condenados, podem receber penas de até 35 anos de prisão.

*O nome da operação faz referência a uma das principais rotas do mercado negro de defensivos agrícolas no Brasil.

Clique aqui e acesse o estudo completo sobre o mercado ilegal de defensivos agrícolas no Brasil. 

Atualização da operação:

– 3 flagrantes, sendo um de agrotóxico em Lucas do Rio Verde, um de posse ilegal de arma de fogo em Santa Terezinha de Itaipu e um de descaminho em Medianeira;
– 14 carros apreendidos;
– R$ 200 mil em cheques;
– R$ 124 mil em espécie;
– 5 presos;
– 300 kg de benzoato de emamectina.