Policial

Ordem do PCC: Metade dos agentes marcados para morrer é da região

Facção criminosa determinou a morte de agentes, juiz, procurador e delegado

Catanduvas – Na semana em que completa três anos a maior rebelião já registrada na região e que teria sido articulada pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) na PEC (Penitenciária Estadual de Cascavel) com cinco mortos, todos decapitados, o “salve” – que na gíria popular significa ordem, determinação – dado pelo PCC em alusão à comemoração dos 24 anos da facção criminosa no dia 31 deste mês ecoou no oeste do Paraná. Tanto que agentes penitenciários do Presídio Federal de Catanduvas reforçaram os cuidados e trabalham com esquema especial de segurança.

Na ação comemorativa do grupo, a determinação seria para matar pelo menos um juiz federal, um procurador da República, um delegado da Polícia Federal e quatro agentes penitenciários em Rondônia, mas o alerta máximo vale principalmente para o Paraná, já que o entendimento é que a ação do grupo deverá ocorrer onde há maior articulação da facção já tratada informalmente pelas forças de segurança como organização terrorista. Por aqui poderia estar ao menos metade desses agentes marcados para morrer.

E as investigações revelam que essa articulação está mais bem montada por aqui. Isso foi identificado a partir dos levantamentos feitos pelos serviços de inteligência depois que dois agentes que atuavam em Catanduvas foram assassinados em Cascavel, um em setembro do ano passado e outro em maio último.

Assim, o alerta máximo na região tem uma explicação bastante plausível. O PCC está com células de inteligência avançadas na região. Uma delas está em Salto Del Guairá, no Paraguai, onde estariam, por exemplo, líderes foragidos da Justiça brasileira. De lá eles comandam o tráfico internacional de drogas, de munições e de armas. As forças de segurança que atuam na fronteira reconhecem que este é o ano com maior número de apreensões de armas que preparariam facções criminosas pelo Brasil afora.Carregamentos

E se o que é pego é infinitamente menor do que aquilo que passa, sabe-se, por exemplo, que carregamentos com armas e munições circulam diariamente pela região, atravessando a fronteira com o Paraguai e a Argentina.

Esses articuladores do PCC estariam debruçados ainda na eliminação de todos os atravessados do esquema do tráfico de drogas. Segundo um agente da Polícia Federal que atuou no Paraguai em ações realizadas em parceria com a polícia nacional do país vizinho, para eliminar os atravessadores grandes facções como o PCC estão se aperfeiçoando em toda a cadeia produtiva. “Eles plantam a maconha, eles processam, eles embalam, eles transportam. Eliminando os atravessadores a rentabilidade é muito maior e a chance de serem pegos pela fiscalização é muito menor, afinal, são apenas as pessoas de um mesmo núcleo que ficam sabendo de todo o esquema e quanto menos pessoas sabem, mais difícil de vazar a informação”, reforça o agente.

Cascavel tem célula de inteligência do PCC

Além da célula em Salto Del Guairá, outra instalada na região preocupa e muito. Há um núcleo do PCC na cidade de Cascavel preparado para realizar ações como executar agentes de segurança. “Por que você acha que mataram dois agentes em Cascavel e não em Mossoró, não em Porto Velho nem em Campo Grande que é onde estão os outros presídios federais? Fizeram isso porque em Cascavel eles estão mais próximos de quem matar. Com um núcleo na cidade eles não precisam se deslocar, promover uma intensa logística para ir a outros pontos do País encontrar aqueles que eles planejam assassinar. Fica evidente que eles escolhem as vítimas aleatoriamente, aqueles agentes de segurança que estão ao alcance como aconteceu como o agente morto numa emboscada em setembro do ano passado e a psicóloga que foi morta em maio último. Nas duas situações os matadores estavam muito bem municiados de informações porque estavam sediados na base de Cascavel e sabiam da rotina dos agentes mortos”, alerta um investigador das forças de inteligência que por questões estratégicas e de segurança não pode ser identificado.

Após mapear a rotina desses agentes, a facção criminosa escolhe suas vítimas sem muitas dificuldades para executar seus planos.

Para o presidente do Sindicato dos Agentes Federais de Execuções Penais em Catanduvas, Carlos Augusto Machado, isso deve ser chamado de guerra assimétrica e desleal. “Eles nos atingem, matam hoje um agente, amanhã outro e não sabemos se daqui uma semana ou duas não será um de nós a próxima vítima”, desabafou.

A fala do agente está pautada na determinação para matar que vieram de dentro dos presídios trazidas para fora a partir das visitas intimas e sociais. Elas chegaram a ser interrompidas por 60 dias após a morte da psicóloga Melissa Almeida em maio deste ano em Cascavel, mas as visitas sociais retornaram há algumas semanas e estão sendo monitoradas. As visitas íntimas ainda estão interrompidas e não têm previsão para serem retomadas. “Entendemos que as visitas íntimas e sociais fomentam o home office do crime. Com as visitas os presídios voltaram a funcionar como escritórios do crime”, reforçou o presidente do sindicato.

“Por que você acha que mataram dois agentes em Cascavel e não em Mossoró, não em Porto Velho nem em Campo Grande que é onde estão os outros presídios federais? Fizeram isso porque em Cascavel eles estão mais próximos de quem matar”

Situação assustadora

O presidente da Federação do Sindicato Nacional dos Agentes Federais, Helber Jacoby, reconhece que a situação é assustadora: “O sistema penitenciário nacional foi lançado há 11 anos para isolar os líderes e as facções criminosas, mas da maneira que está hoje sem a política pública do governo central, ela está se mostrando defasada e carente (…) dentro dos presídios estão os líderes das facções mais perigosas do País e da América. Então só o que há de pior no crime organizado que está sob a nossa custódia. São chefes de facções que praticam todo tipo de barbárie que a sociedade é obrigada a assistir. É gente da pior espécie”.

Ameaças constantes

As constantes ameaçadas sofridas por agentes de segurança revelam que nada intimida os criminosos. Somente no Presídio de Catanduvas pelo menos 40% dos agentes já receberam ameaças de morte.

Segundo relato dos próprios profissionais de segurança, não há uma semana sequer sem que elas sejam proferidas. “Um preso que se recusou de fazer um procedimento de segurança há algumas semanas disse para mim que se eles quiserem eles nos matariam tudo novamente, dando a entender que uma nova ordem para matar poderia ser dada a qualquer momento”, comentou o agente.

Agentes mortos

Os dois agentes penitenciários mortos em Cascavel atuavam em Catanduvas. O primeiro assassinado na cidade foi Alex Belarmino no dia 2 de setembro de 2016. Ele saía da casa onde estava hospedado, na Região do Lago, e seguia para o presídio onde ministrava um curso quando foi surpreendido numa emboscada. Os assassinos foram presos meses depois e confirmaram que o crime ocorreu a mando do PCC.

A segunda morte foi a de Melissa Almeida no dia 25 de maio de 2017 quando chegava em casa, no Bairro Canadá, em Cascavel. Ela era psicóloga no Presídio de Segurança Máxima de Catanduvas. O marido dela, o policial civil Rogério Ferrarezzi também foi alvejado, mas sobreviveu. Parte do bando foi presa e dois bandidos foram mortos, um no confronto e outro horas depois. Na época ficou comprovado que o crime também foi ordenado pela facção criminosa que age dentro e fora dos presídios.

O PCC está hoje em 26 estados brasileiros e já criou raízes em cinco países.

Agente foi morto em emboscada no dia 2 de setembro do ano passado
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