Opinião

O melhor professor do mundo

Opinião de Mario Eugenio Saturno

O tema Educação sempre me foi caro, primeiro porque tive bons professores na rede pública – até a década de 1970 -, hoje os professores estão desprestigiados. Depois, fui professor universitário, incluindo o ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), também tive experiência em uma Escola Técnica particular de segundo grau, mas o que eu gosto mesmo de dizer é da minha experiência com a Crisma. Alguns preferem me caracterizar de “catequista”, como se isso fosse me diminuir no debate da Educação, como se fosse tema para eminências pardas somente.

O Padre Léo, que foi um grande pensador e comunicador católico – imitado até por um pastor evangélico -, dizia que Jesus era brincalhão, bastava ler a Bíblia para perceber. Creio que Deus não interferiu na escolha do melhor professor do mundo, mas me inspirou há algumas semanas a escrever que ser professor era exercer um sacerdócio e, curiosamente, foi escolhido o professor Peter Tabichi, que é membro da ordem religiosa franciscana. O Global Teacher Prize de 2019 foi concedido pela Fundação Varkey, organização de caridade dedicada à melhoria da educação para crianças carentes.

Não se deve esperar tamanha dedicação dos professores brasileiros, nem vou dar toda a razão ao deputado paulista Daniel José, do Novo, que diz que há muito professor ruim no ensino paulista, incluindo bêbados, mas certamente ele está correto em querer fazer um pente-fino, porque a vítima real é o aluno, indefeso, que é mal preparado para a vida.

O professor queniano Peter Tabichi é extraordinário, ele doa 80% de seu salário para apoiar os estudos dos seus alunos, na Escola Secundária Keriko Mixed Day, no vilarejo de Pwani. As crianças não conseguiriam pagar nem os uniformes nem o material escolar sem essa ajuda.

Tabichi está determinado a dar aos alunos uma chance de aprender ciência e ampliar seus horizontes. Suas classes deveriam ter 40 alunos, mas ele acaba ensinando classes de até 80 estudantes. E sua escola se apresenta com instalações precárias, inclusive com a falta de livros e professores. Como a internet é ruim, ele costuma frequentar um café para baixar os materiais necessários para suas aulas de ciências.

Tabichi disse que parte do desafio tem sido persuadir a comunidade local a reconhecer o valor da educação, o que o leva a visitar famílias cujos filhos correm o risco de abandonar a escola. Ele ainda tenta mudar a mentalidade de pais que querem casar as filhas cedo, para que elas continuem a estudar.

Todo esse esforço já teve recompensa, seus alunos foram bem-sucedidos em competições científicas nacionais e internacionais, incluindo um prêmio da Sociedade Real de Química do Reino Unido.

O professor também ensina técnicas de cultivo mais resistentes aos moradores dos arredores, já que a fome é uma realidade frequente na região.

Ele venceu entre outros 10 mil indicados de 179 países, entre eles a professora Debora Garofalo, já citada em artigo anterior. É preciso tomar esse e outros exemplos para que professores tenham humildade para ver os erros da classe e os deputados e os senadores elejam a Educação como prioridade da nação e tomem medidas que melhorem as carreiras e envolvam as famílias.

Mario Eugenio Saturno é tecnologista sênior do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e congregado mariano – cientecfan.blogspot.com

O professor queniano Peter Tabichi é extraordinário, ele doa 80% de seu salário para apoiar os estudos dos seus alunos (…) As crianças não conseguiriam pagar nem os uniformes nem o material escolar sem essa ajuda