Policial

24% dos produtos consumidos no Brasil têm origem ilícita

Um em cada quatro produtos comercializados no Brasil tem origem ilícita

Caminhonete carregada de cigarros contrabandeados.
Foto:PRF
Caminhonete carregada de cigarros contrabandeados. Foto:PRF

Foz do Iguaçu – Foi analisando dados das importações, do consumo interno e das exportações oficiais de países vizinhos como o Paraguai que o Idesf (Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras), com sede em Foz do Iguaçu, chegou a uma preocupante constatação. Um em cada quatro produtos comercializados no Brasil – mais precisamente 24% do que está à venda do lado de cá da fronteira – tem origem ilícita, fruto do contrabando ou de algum mecanismo ilegal para burlar o sistema financeiro e tributário. Juntos, eles impactam a economia brasileira em R$ 200 bilhões por ano.

Os números vão além. O mais recente estudo divulgado pelo Instituto, denominado de “O contrabando de defensivos agrícolas no Brasil”, chama a atenção para um problema que tem colocado em alerta máximo as forças de segurança e que vem crescendo vertiginosamente em um pequeno espaço de tempo e exigindo medidas urgentes: o contrabando de agroquímicos. Avançando ano após ano, este já é um mercado que somente em 2019 deve movimentar, sozinho, impressionantes R$ 9 bilhões.

Com quadrilhas que se ramificam, tendo no oeste do Paraná e no noroeste do Estado de São Paulo seus principais canais de distribuição, contam com a rota bem traçada e viciada do tráfico de drogas, de armas e de contrabando de cigarros da Costa Oeste paranaense.

O levantamento aponta que o caminho feito pelos agroquímicos na entrada no Brasil é o mesmo usado por traficantes e contrabandistas de outros produtos, indicando que as quadrilhas estão passando a explorar um novo nicho de mercado. “O contrabando de agroquímicos avança conforme nossas safras crescem, então, quanto maior a colheita, sinal de que mais produtos ilegais foram aplicados nas lavouras (…) As quadrilhas investem nesse segmento porque as penas são mais brandas do que para o tráfico de drogas, por exemplo”, afirma o presidente do Idesf, Luciano Barros.

“Então, é preciso, além de fiscalização intensa e serviço de inteligência, penas mais severas e sistemas de repressão que funcionem. Temos observado que o atual governo tem a intenção de intensificar a fiscalização e de promover ações nesse sentido”, seguiu.

Divisão

Mas se a logística é feita por profissionais do crime até os principais pontos de distribuição, dali até as lavouras a responsabilidade pelo transporte passa a ser de grupos distintos, muitos deles de conhecedores de princípios ativos e comerciantes, sobretudo os de pequeno porte, que colocam os agrotóxicos nas prateleiras como se fossem legalizados para a comercialização. Isso indica, segundo Luciano, que não devem ser raros os casos em que o produtor rural também pode estar sendo enganado, adquirindo produtos sem saber da procedência ilícita e a formulação correta do químico aplicado nas lavouras. “A maior parte desses produtos vem da China”, acrescenta.

Estudo será detalhado em evento regional

Esse trabalho de combate ao contrabando e os reflexos no desenvolvimento econômico e social das áreas da fronteira será abordado nesta semana em Cascavel em um evento agendado para esta terça-feira (15), a partir das 19h, na sede da PRF (Polícia Rodoviária Federal), com acesso livre e gratuito. “O foco é tratar dos desafios, como enfrentar esses problemas e as políticas públicas que podem ser adotadas”, completou Luciano Barros, que promove o evento.

O recente levantamento do Idesf, que será detalhado em Cascavel, trata ainda do problema relacionado aos medicamentos contrabandeados, que igualmente passam por uma crescente onda de entrada no País.

Paralelo ao estudo do Instituto, a Polícia Federal identificou que, enquanto os agrotóxicos são trazidos e transportados prioritariamente por homens, os medicamentos – principalmente abortivos e anabolizantes – são transportados por mulheres e em quantidades cada vez maiores.

Para Luciano Barros, esses são crimes silenciosos, mas que custam muito à sociedade, inclusive com muitas vidas.

Para o presidente do Idesf, é relevante destacar que a média observada pelo estudo indica que 24% de tudo o que é consumido no Brasil tem origem ilícita, mas que em alguns segmentos a margem é bem maior. “Os cigarros contrabandeados já representam 57% do tabaco consumido no Brasil”, recorda.

“O grande desafio para vencer esse problema é melhorar a qualidade do emprego e da renda nas áreas de fronteira e ter políticas públicas tributárias que não tornem os preços tão diferentes. Precisamos de avanços na legislação. Há anos que o tema vem sendo discutido, mas com pouca ação efetiva. No atual governo parece haver um esforço para conhecer melhor essa estrutura e desenvolver ações, mas de nada adianta fazer algo aqui, se no outro país não for feito também. Não digo nem bilateralidade, mas em multilateralidade”.