POLÍTICA

“Solução” de Lula para segurar a inflação é não comprar o que está caro

Foto: ABR
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Brasil - Quem  não lembra desse “surto de sinceridade” do então candidato Lula, quando em plena campanha, em 2022, disse em um evento com cooperativas em São Paulo: “Precisamos, então, discutir como é que vamos criar trabalho para o povo brasileiro, para as mulheres e homens que querem estudar, trabalhar e querem ter certeza que vão construir famílias. Precisam ter casa para morar e viver uma vida digna. Como é que a gente vai responder isso? Queria dizer para vocês que eu não sei como fazer”.

Agora, já como presidente, depois de dois anos de mandato, o presidente Lula segue fazendo declarações. Mostra que, como declarou durante a campanha, não sabe ou tem muita dificuldade para encontrar soluções para o drama do brasileiro que vê seu poder de compra cada vez mais encolhido.

Durante entrevista para emissoras de rádio em Salvador, Lula disse que é preciso educar a população para combater a inflação. Sem assumir qualquer responsabilidade, Lula disse que o aumento da inflação dos alimentos, de 7,69% em 2024, é culpa da alta do dólar, do aumento das exportações e do que chamou de uma “arapuca” do Banco Central.

“Uma das coisas mais importantes para que a gente possa controlar o preço é o próprio povo. Se você vai no supermercado e você desconfia que tal produto está caro, você não compra. Se todo mundo tiver a consciência e não comprar aquilo que acha que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar para vender, porque, senão, vai estragar.”

Lula

“O povo não pode ser extorquido, não pode ser extorquido. As pessoas não podem tirar proveito porque o povo está comprando. A pessoa sabe que a massa salarial cresceu, então aumenta o preço, a pessoa sabe que o salário mínimo aumentou, então aumenta o preço. Não. É preciso que se tenha responsabilidade em todos os setores da cadeia produtiva, ninguém pode explorar ninguém”, disse o presidente.

Lula manteve as críticas ao Banco Central que, segundo ele, foi “totalmente irresponsável” ao permitir o aumento do dólar. Isso dificulta a “desmontagem” das consequências econômicas. O presidente também destacou que não tem poderes para congelar preços ou intervir diretamente nas fazendas. Portanto, está trabalhando em conjunto com empresários e ministérios para encontrar soluções para reduzir os preços.

Sob controle

Em 2024 a inflação ficou em 4,83%, acima dos 4,5% que representavam o teto da margem de tolerância. Alimentos e bebidas registraram inflação de 7,69%, gerando impacto direto no preço final e arrochando o bolso do consumidor. Mesmo assim, para Lula a inflação está “totalmente controlada”. Mas o Banco Central entende, conforme a última ata, que o cenário é “adverso”. Um dos motivos é justamente o aumento “significativo” do preço dos alimentos. Portanto, já indicando novo aumento da Selic, instrumento utilizado para buscar o controle inflacionário.

Oposição reage

Logo após as declarações, pelas redes socais a oposição criticou Lula com ironias. O presidente do PP, senador Ciro Nogueira, disse:

“Se o arroz está caro, é só não comer. Se o gás está caro, é só não cozinhar. Se a gasolina está cara, é só ficar em casa. Nada de cortar gastos nos ministérios, colocar gente competente nas estatais ou gerir melhor a economia. Para o governo, basta que os brasileiros parem de comer, beber e se deslocar que os preços caem”.

Senador Ciro Nogueira

Já o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), também ironizou: “No governo Lula, se a comida tá cara, ‘não compra’. Se o aluguel tá caro, ‘mora na rua’. Se o remédio tá caro, ‘morre’. E assim segue o governo do cinismo, deixando o povo cada vez mais pobre enquanto sua família vive no luxo bancado pelo Brasil.”

E a promessa da picanha foi lembrada pelo senador e ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro.

“Segundo Lula, basta a população não comprar produto caro que a inflação será reduzida! Sinal de que o Governo perdeu o controle e não sabe o que fazer mais. A promessa de campanha não era de picanha e cerveja barata para todo mundo?”, questionou Moro.

Sérgio Moro

Desafio a Bolsonaro

Com postura de quem vai mesmo buscar a reeleição em 2026, Lula voltou a atacar o ex-presidente Bolsonaro. Afirmou que se ele for candidato, vai derrotá-lo outra vez.

“Se o cidadão que foi presidente, com as bravatas que ele fala, com as mentiras que ele conta, com as provocações que ele faz, quiser ser candidato, ele sabe que eu o derrotei quando era oposição [em 2022] e ele tava com a máquina na mão. Se esse cidadão acha que ele vai voltar, ele pode tirar o cavalo da chuva que, quantas vezes ele for candidato, quantas vezes eu vou derrotá-lo”, disse.