Curitiba - O CPPI (Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos) da Secretaria de Estado da Saúde, que fica na cidade de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, recebeu a primeira coleta de aranhas-marrons realizada neste ano. Os agentes de captura do centro coletaram 2,5 mil aranhas, que se somam as 20 mil já existentes no local, que foram capturadas no ano passado, destinados à extração do veneno para a produção do soro antiloxoscélico.
As aranhas são capturadas no Paraná, nas regiões do Centro-Sul e Norte Pioneiro e em Santa Catarina. Periodicamente elas chegam ao aracnidário e assim que desembarcam ao CPPI, é feita uma segunda triagem da espécie. Somente as Loxosceles spp (nome científico da aranha-marrom) são selecionadas. Na sequência, elas são hidratadas com algodão embebido em água e ficam durante 48 horas em quarentena.
Túlio Tácito, biólogo responsável pelo aracnidário, explica que a coleta é realizada uma vez por mês e que, com apenas algumas gotinhas de veneno, já é possível fazer uma ampola de soro. “A cada duas aranhas conseguimos uma ampola do soro contra a picada da aranha-marrom. A extração demora apenas alguns segundos e, caso a aranha não produza veneno, ela é separada e fica para a próxima vez”, explicou.
Extração
Para estimular a glândula de veneno, é dado um pequeno choque de um a quatro segundos, de 17 a 20 volts, dependendo do tamanho do animal. O veneno pode ser extraído tanto de machos quanto de fêmeas. Em 2024, as extrações renderam 3.769 miligramas de veneno bruto liofilizado (produto que passou por um processo no qual é congelado e, em seguida, a água é completamente removida, preservando a estrutura das proteínas que compõem o veneno). Após esse processo, o veneno é armazenado em um freezer.
No Centro existem duas duplas de profissionais, formado pelo biólogo responsável e técnico de laboratório, que realizam essa atividade. Cada dupla retira veneno de aproximadamente 400 aranhas-marrons por dia.
“Nós as alimentamos a cada 15 dias com pequenas baratas, que também reproduzimos aqui. Temos cerca de 45 mil baratas para alimentar todas essas aranhas. É um ciclo, é a cadeia natural se alinhando ao processo científico que, lá na frente, ajudará as pessoas em caso de acidentes”, descreveu o biólogo.
Atualmente, o CPPI apenas extrai o veneno das aranhas-marrons, imuniza o plantel de equinos para a produção do soro e produz o plasma hiperimune, faltando a etapa de processamento industrial e o envase no frasco-ampola. A expectativa é de que, a partir deste ano, o medicamento já possa ser produzido pelo CPPI por meio de uma parceria produtiva.
Além disso, neste mês, foi assinada a ordem de serviço de R$ 1,85 milhão do Governo do Estado para a conclusão da construção da área de imunização de equinos da seção de produção de plasma, o que permitirá a melhoria e ampliação do atual processo de produção.