Cascavel – Os quase 50 pacientes que esperam nas UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento) por leitos de hospital e uma mensagem enviada pelo secretário de Saúde de Cascavel, Rubens Griep, ao presidente do Consamu (Consórcio Intermunicipal Samu Oeste) e prefeito de Palotina, Jucenir Stentzler, acusando-o de matar pessoas por vaidade e destruir o trabalho realizado pelo Consórcio em Cascavel, sinalizam um possível boicote do Consamu à cidade.
Sobre a mensagem, Rubens disse se tratar de um desabafo: “Estamos em uma situação complicada desde a saída do Dr. Rodrigo Nicácio [da direção técnica do Consamu]. Cascavel não entendeu ainda a dinâmica desse processo, o fato é que há uma lentidão muito grande na saída de pacientes das UPAs, uma situação que já havíamos avançado muito desde a implantação da Macrorregulação”, afirma Rubens.
A morte a que Rubens se refere trata-se de um paciente de Cascavel que foi transferido para Toledo no fim de semana e não resistiu. “Essa morte, no nosso entendimento, poderia ter sido evitada. Quando você tira um diretor-técnico e coloca outra pessoa que não tem o preparo, você está colocando em risco a saúde das pessoas. Nós queremos entender o que levou a tudo isso. Se fosse para melhorar com a saída do Nicácio, nós não deveríamos ter retrocedido com esse excesso de pacientes”, afirma Rubens.
Na mensagem enviada a Jucenir, Rubens diz que não vai autorizar o pagamento ao Consórcio. Cascavel representa mais da metade do custeio do Consamu e, por ano, repassa mais de R$ 25 milhões entre o consórcio e a operação compartilhada da UPA Tancredo.
Questionado se suspendeu o pagamento, Rubens não respondeu.
Após denúncia de superlotação, demora na transferência e ainda da morte de um paciente, o vereador Fernando Hallberg esteve ontem à tarde na UPA Tancredo e cobra respostas. “Há 48 pessoas esperando leito em Cascavel. Não dá para deixar as UPAs lotadas e as pessoas esperando por atendimento também. Eu não quero acreditar que é um boicote, mas, se for, precisa ser apurado e resolvido. Já solicitei números de regulações dos meses anteriores e vou amanhã [hoje] mesmo pedir a ajuda do Ministério Público. O que não podemos é permitir que as pessoas esperem ou até morram como aconteceu no fim de semana por conta da falta de regulação”, ressalta Fernando.
Falta de preparo
O prefeito de Cascavel, Leonaldo Paranhos, não descarta a possibilidade de boicote, mas também cita a falta de preparo do substituto de Rodrigo Nicácio: “O Dr. Rodrigo é especialista em regulação. Ele sabia como fazer, com quem falar e como evitar o caos. Quem sabe esse novo profissional não esteja preparado para bater de frente com isso e a situação fica como está”, afirma Paranhos.
Ele ainda afirmou que pediu à Secretaria de Saúde um levantamento do perfil dos pacientes que aguardam leitos para tentar entender o que está acontecendo: “Precisamos entender por que não há a regulação. Além disso, pedi também um levantamento dos números de regulações dos meses anteriores para analisarmos se houve diminuição ou não, para a partir disso tomarmos providencias”, complementa Paranhos.
Consamu acusa falta de leitos
A reportagem do Jornal O Paraná tentou contato com o presidente do Consamu, Jucenir Stentzler, mas ele não atendeu às ligações nem respondeu.
O novo diretor-técnico do Consórcio, Gustavo Henrique do Nascimento, garante que não há boicote. O que está havendo, segundo ele, é uma falta de leitos justificado pela superlotação dos hospitais, tanto do HU (Hospital Universitário) quanto do São Lucas, que recebem os pacientes regulados. Disse ainda que, mesmo com a saída de Nicácio, a parte técnica do consórcio vem funcionando normalmente.
Sobre a morte ocorrida no fim de semana, explica que o paciente foi regulado para o Hospital Bom Jesus, de Toledo, por conta da falta de vagas em Cascavel. O paciente de cerca de 30 anos seria um caso extremamente grave: “Ele estava acamado havia cerca de 16 anos e teve uma infecção gravíssima em uma úlcera. Ele entrou no nosso sistema como vaga zero [quando a vaga precisa ser providenciada imediatamente pelo Estado] e foi levado ao Bom Jesus, único lugar que tinha vaga. Ele foi encaminhado no sábado pela manhã, à tarde deu entrada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e à noite acabou falecendo”, detalhou Gustavo.
Demora no atendimento
Com muitos pacientes internados nas UPAs, o reflexo é sentido no atendimento às consultas. Na UPA Tancredo, na tarde de ontem, havia pacientes esperando por seis horas pelo atendimento.
De acordo com diretor-técnico do Consamu, que administra o local, Gustavo Henrique do Nascimento, a demora não tem relação com o número de pessoas internadas, já que são equipes distintas de médicos que fazem consultas e cuidam dos acamados.
Já o prefeito Leonaldo Paranhos contradisse e afirmou que existe relação, sim, pois a equipe é a mesma. “São sete médicos no local e eles precisam se dividir. Então quanto mais gente internada, mais demora o atendimento”.
A Secretaria de Saúde de Cascavel informou que os pacientes são atendidos conforme o protocolo de classificação de risco preconizado pelo Ministério da Saúde.
A Secretaria de Saúde ressaltou que é comum que a procura por atendimento nas UPAS seja maior no início da semana, com queda após a quarta-feira. As demandas são as mais variadas, porém, a maioria é classificada como verde, ou seja, pacientes não urgentes. A Secretaria informa que ontem não foi verificada falta de médicos e que a escala estava completa.