A entrevistada de hoje, na sequencia da série exclusiva do jornal O Paraná com os vereadores eleitos pela primeira vez para o exercício do mandato em Cascavel, é Bia Alcantara (PT). Bia conquistou 1.699 votos nas urnas no dia 6 de outubro e foi a única mulher a conquistar o mandato para a próxima legislatura. Além disso, Bia tem 22 anos é a vereadora mais jovem eleita na história de Cascavel. Essa foi a primeira vez que Bia disputou um cargo político. Durante a conversa, Bia destacou a importância da representatividade feminina na Câmara de Cascavel e também a missão que será ser a única vereadora mulher.
Ela também falou sobre os planos e expectativas para o mandato na Câmara de Cascavel. Confira entrevista na íntegra, em vídeo, no portal www.oparana.com.br.
O Paraná – Bia, você foi a única mulher eleita para a próxima legislação. Qual é o peso dessa eleição de ser a mais jovem da Câmara e também a única mulher?
Bia Alcantara – Quanto ser a mais jovem, eu fico muito feliz de receber esse título, porque é um sinal de que Cascavel está buscando renovação na política, buscando renovação na Câmara. É um peso e ao mesmo tempo um privilégio de poder dialogar com pessoas que, talvez em outro momento, em outra situação, com outros representantes não gostariam de estar no espaço da Câmara Municipal. Então, nesse sentido, eu fico orgulhosa de ter sido escolhida como representante por essas 1.699 pessoas, de poder cumprir esse papel. Quanto a ser a única mulher, me entristece muito. Logo que saiu o resultado, que fechou as urnas, eu fiquei feliz por ter sido eu escolhida, mas muito triste, porque eu achei que o eleitorado de Cascavel ia ter mudado um pouco nesses últimos quatro anos, que a gente ia conseguir pelo menos dobrar o número de mulheres na Câmara Municipal.
Então ter visualizado que eu seria a única mulher foi muito decepcionante pra mim, com certeza. Mas vou cumprir meu papel de representar as mulheres. Desde muito mais jovem do que eu sou agora, eu venho inserida nos movimentos de mulheres; cresci num ambiente que me fez pensar muito na importância de defender as mulheres. E vou continuar cumprindo isso no meu mandato, vai ser um mandato muito voltado às mulheres, ainda mais por eu ser a única, então eu vou ter que olhar muito para as demandas das mulheres de Cascavel.
O Paraná – Você também é um dos nomes da renovação. Qual a importância dessa oxigenação para o legislativo cascavelense?
Bia Alcantara – É muito importante porque, assim como eu defendo uma transição geracional da gente buscar novas lideranças, mais jovens, eu defendo também que haja novos nomes, com novas ideias, para construir novas trajetórias, talvez trazerem pessoas para a política que não tinham contato antes. Então, quando uma nova pessoa se elege, ela se elege também com novas pessoas que a elegeram e que vão olhar para a política de um âmbito diferente; que vão ter outra pessoa com quem contar. Então, eu vejo com muita importância o fato de eu ter sido eleita e de outras pessoas que não estavam na Câmara ainda terem sido também.
O Paraná – E agora como guerreira solitária a partir de 2025, como será a defesa da pauta das mulheres na Câmara de Cascavel?
Bia Alcantara – Será muita aguerrida.Hoje a gente tem a Procuradoria da Mulher que quem participa é a Professora Liliam e a Professora Beth Leal quem coordena. E eu pretendo continuar, mesmo sozinha. Nós temos também a Comissão de Mulheres do Direito da Mulher na Câmara Municipal, que eu também continuarei fazendo defesa da comissão; estarei na comissão e através dos meus projetos, através das indicações, requerimentos, conseguir olhar muito para as mulheres; para os nossos direitos que precisam ser garantidos e para as novas coisas que a gente quer alcançar. E com o princípio de que eu quero sempre estar dialogando com essas mulheres, com os diferentes âmbitos que existem de mulheres aqui em Cascavel, das classes mais baixas, das mulheres em vulnerabilidade que eu acho que precisam ainda mais de atenção.
O Paraná – Jovem, mulher e de esquerda. Você acredita que terá vida fácil na Câmara?
Bia Alcantara – Não, vida fácil não. Na verdade, ao meu ver, todo político não tem uma vida fácil, não deveria ter pelo menos. Mas eu acredito, sim, que vai ser desafiador, tanto como mulher, como tendo 22 anos, mas que a gente vai cumprir meu papel de estar ali sendo a resistência, falando dos princípios do meu partido, falando dos princípios da esquerda, fazendo essa defesa. Como mulher jovem, conseguindo dialogar com pessoas que talvez não tivesse interesse na política se fosse outra representação, que eu acho que é um objetivo muito importante pra mim. […] Então, acho que não vai ser fácil, mas que o trabalho vai ser feito.
O Paraná – Você pretende discutir pautas ideológicas na Câmara de Cascavel?
Bia Alcantara – Eu acredito que política é ideológica. Eu não sei o que as pessoas têm muito como ideia de ideologia, mas quando você se coloca à disposição para um cargo político, quando você se coloca numa Câmara Municipal, na Prefeitura você está defendendo uma ideologia, não tem como você não estar. Todos aqui temos uma ideologia. E se eu me coloquei à disposição, se eu fui votada pautando nas coisas que fazem parte da minha ideologia, eu vou, sim, defender na Câmara Municipal.
O Paraná – Quais são as suas principais bandeiras?
Bia Alcantara – Mulheres, cultura, meio ambiente, educação e isso coloco como uma das prioridades, até porque é o que me inseriu na política e é o que eu venho lutando muito aguerridamente. E estudo também para ser professora, sou filha de professora, então para mim é muito importante. Diversidade também, quando eu falo de diversidade não é só a questão do gênero, da sexualidade, mas diversidade de religião, de cultura, de etnias, então que é muito importante conversar sobre isso aqui em Cascavel, que é uma cidade tão conservadora e que não tem muita acessibilidade para as pessoas, para as diferentes pessoas, nós somos todos diversos. Juventude, obviamente.
O Paraná – Quais as suas expectativas para a legislatura?
Bia Alcantara – Eu acredito que, pensando na falta de diversidade que diminui o número de mulheres, diminui o número de pessoas negras também na Câmara Municipal, talvez seja uma legislatura que a gente encontre menos embates, não sei. […] Eu acredito que vai ser uma legislatura que vá participar muito da base do Governo Renato Silva, não como um todo, mas que muitos vereadores vão estar na base; então que vai cair na verdade na mesma situação da atual, então vai ter um pouco de dificuldade de fazer os debates contra o próprio Executivo, até porque em outras câmaras existem, por exemplo, a bancada de oposição e assim como foi na atual legislatura, eu acredito que não vai ter uma bancada de oposição. O debate fica um pouco limitado dessa forma.
O Paraná – O que o seu eleitor pode esperar de você como vereadora?
Bia Alcantara – Muito diálogo. Eu já tenho conversado com eles, me comprometido a fazer reuniões com regularidade pra conversar, fazer avaliação do mandato e também entender o que eles esperam do mandato, fazer muitas visitas, muito diálogo. Eu fui eleita com essa linha de conversar com as pessoas, olho no olho, ser muito aberta, querer conversar mesmo, não só ‘eu cuspir o que eu acho e você escuta e vê se você concorda’, mas de conversar, escutar pessoas. Às vezes ela tem uma opinião diferente da minha e a gente pode crescer juntos, eu aprender com ela e ela aprender comigo.
O Paraná – Você estará na base do prefeito eleito Renato Silva?
Bia Alcantara – Não. Ah não, né? Nossos partidos são opostos, não faria nem sentido. Mas eu digo assim: a política é feita através do diálogo, eu falo muito disso. Mas é porque se eu dissesse que eu estou fechada ao diálogo com o Renato Silva, eu estaria cometendo um erro, dizendo que eu não vou fazer política. A gente irá dialogar e trabalhar junto na medida do possível, mas ser base não teria cabimento.
O Paraná – Os novos vereadores eleitos ou os que se reelegeram já te procuraram pra falar a respeito da eleição da Mesa Diretora?
Bia Alcantara – Essa discussão tá ainda num momento um pouco preliminar, ainda faltam uns meses, então está ainda nas conversas, nas articulações. E eu digo por mim, a gente ainda não tem muita noção de como tá o cenário no geral. Mas já temos noções de quais vão ser os nomes, de quais são as propostas de cada um. O Alécío Espínola, provavelmente, virá pra reeleição e ele vai continuar o mandato que ele já tem como presidente, então a gente já espera um pouco como vai ser o posicionamento dele na Câmara Municipal. E aí o outro nome que tem sido colocado é o do Tiago Almeida, que foi o mais votado.
O Paraná – Você gostaria de complementar alguma coisa nessa nossa conversa?
Bia Alcantara – Eu gostaria de complementar dizendo que o meu mandato será, sim, voltado ao Partido dos Trabalhadores, até porque eu sou guiada pelo meu partido, eu acho que essa é a grande função da gente se candidatar através de um partido, que as discussões, o mandato seja baseado nos valores do partido, mas que eu fico aberta sempre a diálogo.