Cotidiano

Com restrições e valores mais altos, transporte escolar volta às atividades

Após fiscalização da Transitar, 113 veículos estão aptos a levar os estudantes em Cascavel

Com restrições e valores mais altos, transporte escolar volta às atividades

Após praticamente um ano parados por conta da pandemia do novo coronavírus, os veículos do transporte escolar se preparam para voltar a rodar. A Transitar (Autarquia Municipal de Mobilidade, Trânsito e Cidadania) já concluiu a vistoria e habilitou 113 veículos: 31 que fazem o transporte escolar rural e 82 que atuam na área urbana. Mas quem não garantiu os contratos ano passado, agora está tendo uma surpresa na hora de negociar os valores.

O encarregado do Setor de Transportes Alternativos da Transitar, Claudinei Andrade, lembra que essa autorização é semestral e vale até 31 de julho. “É importante verificar os dados antes de contratar um serviço. Para este semestre, por exemplo, deve estar visível no canto direito superior do para-brisa o selo informando o ano ‘2021’ com o número 1 [referente à primeira vistoria]. No segundo semestre, nova inspeção será convocada”, explica Claudinei.

Com o selo garantido, é hora de voltar ao trabalho. Após os prejuízos devido à suspensão e a cancelamentos de contratos, os empresários que atuam no ramo começam 2021 com mais otimismo, mas ainda preveem muitas dificuldades.

De acordo com o presidente do Sinesca (Sindicato das Empresas de Transporte Escolar Rodoviário Municipal e Intermunicipal de Cascavel), Félix dos Santos, responsável pelo Transporte Tio Jairo, dos 105 veículos que fazem parte do sindicato, pouco mais 80 voltarão a trabalhar. “Nosso setor considera esse retorno um dos primeiros passos mais concretos para nossa reestruturação. Este ano será apenas de sobrevivência. Não teremos lucros e muito menos vamos conseguir recuperar os prejuízos do ano passado”, comenta.

Muitos proprietários de vans ainda tentam resolver pendências de 2020. Roseane Matias ficou com duas vans paradas na garagem. “Eu me vi sem renda, sem auxílio, com parcelas de uma das vans para quitar. Tive que continuar realizando os pagamentos de duas monitoras, mesmo que reduzidos. Os impostos não deixaram de ser cobrados. Sem citar os gastos com minha casa, minha família… O que aliviou foi um dinheiro que eu tinha guardado, que foi usado”.

A professora aposentada trabalha com transporte escolar desde que deixou as salas de aulas há oito anos. Ele fala sobre a compreensão dos clientes. “Minha sorte foi contar com o bom senso de alguns pais que pagaram parte das mensalidades por alguns meses, mas esses valores vão ter que ser abatidos nos contratos deste ano”, explica.

 

Procura pelo serviço já começou a aumentar; os valores também

A procura pelo transporte já começou principalmente por alunos de escolas particulares, onde as aulas já começaram de maneira presencial e, como os pais deixaram o home office para retornar às atividades nas empresas, o serviço tem sido bastante solicitado.

Segundo o presidente do Sinesca, Félix dos Santos, a procura segue de forma gradativa. “Primeiro tivemos a procura dos alunos de ensino superior que estudam à noite. Quase 100% dos passageiros já retornaram. Agora, a demanda está maior para alunos das escolas particulares. Os pais dos alunos da rede pública ainda não sabem exatamente como serão as aulas, então aguardam para contratar o serviço”, explica Feliz.

O entendimento com o proprietário da empresa durante a pandemia fez com que a médica Margarete Silva de Godoy permanecesse com o serviço para este ano. “Meus filhos já iam para a escola de van. Estão com 9 e 12 anos. Moramos no Bairro Country e eles estudam no Centro. Ano passado,  devido à pandemia, conseguimos um acordo com a empresa, suspendemos o contrato e reativamos agora, sem reajuste no valor”.

O retorno do ano letivo no sistema híbrido fez surgir uma nova opção para a nutricionista Lúcia Maria Petrokski fechar o contrato com a empresa. “Na escola do meu filho, as aulas serão presenciais duas vezes por semana. Nos outros dias, ele continua fazendo as atividades de casa, devido ao sistema escalonado. Trabalho em horário comercial e, por isso, precisei contratar a van. Fiz um contrato de janeiro a abril, pagando metade da mensalidade. A partir de maio, começo a pagar o valor integral. Foi uma conversa franca com o proprietário, que entendeu nossa demanda e, em contrapartida, a gente sabe que essa retomada é importante para eles, pois sofreram muito ano passado com a pandemia. Tudo é conversado”, explica.

Mas a história tem sido diferente para os novos contratantes. Foi o que aconteceu com a dona de casa Maria Ester Oliveira. “Pesquisamos ano passado e cobraram R$ 180 para levar meu filho do Bairro São Cristóvão para o Centro. Este ano, os valores repassados variam de R$ 250 a R$ 300. Não fechei. Vou ter que mudar a logística da casa e levá-lo eu mesma por enquanto”.

Os empresários afirmam que fatores como alta do combustível e a necessidade de readaptação nas atividades, como a exigência na redução do número de alunos por veículo devido ao distanciamento social, não estão sendo repassados para o consumidor. “Cada empresa tem sua própria maneira de negociar o valor do serviço. Ano passado, o aumento no valor de diesel chegou a quase 20% e os motoristas não estão conseguindo repassar isso para o contratante. Vamos supor que atue na região norte. Os endereços são muito próximos, o veículo vai andar menos e o motorista vai fazer um preço menor. Nas escolas particulares, do centro por exemplo até os horários são diferenciados e o serviço passa a ser quase que exclusivo por isso tende a ser mais caro”, argumentou Felix, do Transporte Tio Jairo.

 

Reportagem: Patrícia Cabral