ACIDENTES

Com aumento de mortes no trânsito, Cascavel quer delegacia especializada

Entenda a proposta de uma Delegacia Especializada em Delitos de Trânsito em Cascavel, debatida na audiência pública recente - Foto: Luiz Felipe Max/SOT
Entenda a proposta de uma Delegacia Especializada em Delitos de Trânsito em Cascavel, debatida na audiência pública recente - Foto: Luiz Felipe Max/SOT

Cascavel e Paraná - A violência no trânsito, que neste ano teve um aumento considerável no número de mortes, feridos e acidentes, levou os órgãos de trânsito e o Legislativo Municipal a se mobilizarem para debater a criação e instalação de uma Delegacia Especializada em Delitos de Trânsito em Cascavel. Na noite de ontem (3), foi realizada uma audiência pública na Câmara de Vereadores, promovida pela Comissão de Segurança Pública e Trânsito, representada pelos vereadores Policial Madril, Antonio Marcos e Fão do Bolsonaro, com organização do vereador Hudson Moreschi.

O encontro reuniu representantes dos poderes públicos, de entidades ligadas ao trânsito e da sociedade civil para discutir a urgência da proposta diante do preocupante cenário em Cascavel. Neste primeiro semestre, o município registrou 27 mortes em acidentes de trânsito, sendo 8 na área urbana e 19 nas rodovias, principalmente, em trechos que cortam o perímetro urbano da Capital do Oeste.

Para o vereador Hudson Moreschi, que está à frente da proposta, a audiência é fundamental para garantir a participação da sociedade civil, considerada essencial na construção coletiva de soluções, sendo o primeiro passo para conquista da delegacia especializada. “Vamos envolver todos os segmentos organizados da comunidade para construir, juntos, uma resposta eficaz a essa realidade alarmante”, destacou.

Investigação e educação

A delegacia terá como foco principal a investigação, prevenção e punição de delitos de trânsito, com ênfase nos casos previstos nos artigos 302 e 303 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que tratam de homicídio e lesão corporal culposa na direção de veículo automotor. O atendimento a acidentes com morte será prioritário, com diligências imediatas, levantamento de câmeras, perícias técnicas e oitivas de testemunhas.

Outro objetivo da delegacia, que deverá ser chamada de Dedetran, é promover a educação para o trânsito, por meio de campanhas de conscientização em parceria com o Detran e entidades locais. A expectativa é que a iniciativa iniba comportamentos de risco, como embriaguez ao volante e excesso de velocidade, além de garantir punição adequada aos infratores. A proposta segue o modelo da delegacia de Curitiba, que apresenta índice de elucidação superior a 90% nos casos de mortes no trânsito.

Moreschi afirmou que a proposta busca garantir mais celeridade e eficiência nas investigações de crimes de trânsito, especialmente os que envolvem vítimas fatais. Além disso, a nova delegacia deverá reforçar ações preventivas com operações integradas entre Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal e órgãos municipais.

A audiência contou com a participação de representantes de todos os órgãos de trânsito, incluindo o delegado adjunto da Delegacia de Trânsito de Curitiba, Edgar Dias Santana. Estiveram presentes também o presidente do Detran Paraná, Santin Roveda, o promotor de Justiça Alex Fadel e Mônica Souza, mãe de Fernando Lourenço, atropelado e morto em junho do ano passado no cruzamento das ruas Paraná e Piquiri.

Soma de esforços

Para a presidente do Cotrans (Comitê Intersetorial de Prevenção e Controle de Acidentes de Trânsito), Luciane de Moura, a delegacia vem somar forças ao trabalho realizado há anos pelos membros do comitê, buscando elucidar as causas dos sinistros e óbitos com investigações feitas por especialistas — o que hoje não ocorre devido à falta de efetivo.
“Já é hora de termos uma delegacia que vá a fundo nas investigações, para sabermos as reais causas e o que contribuiu para isso”, afirmou.

Moura citou casos em que há dúvida, por exemplo, sobre a possibilidade de suicídio, e ressaltou que esse tipo de situação exige um trabalho minucioso, que poderá ser feito pela delegacia.


“Temos nossa análise com base em algumas questões e irregularidades, mas não vamos muito além, porque o Cotrans não tem função investigativa. A implantação da delegacia fará diferença, inclusive para o Ministério Público, onde os casos são julgados”, frisou.

O presidente do Detran Paraná, Santin Roveda, destacou que ninguém sai de casa esperando morrer no trânsito e reforçou a importância de uma mobilidade urbana segura. Sobre a instalação da delegacia, explicou que os recursos são da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná. “Temos essa delegacia em Curitiba. É uma unidade que se aprofunda nos casos, com uma investigação mais detalhada, que vai além das ocorrências do dia a dia. Trata de situações mais complexas do que aquilo que se vê rotineiramente no trânsito”, explicou.