Cotidiano

Com apoio de Pequim, Carrie Lam é eleita para o executivo em Hong Kong

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HONG KONG ? Carrie Lam, apoiada pelas autoridades de Pequim, se tornou neste domingo a primeira mulher a ocupar o cargo de chefe do Executivo de Hong Kong, em eleições muito criticadas pela oposição pró-democracia, que expressa temor pelas liberdades no território chinês semiautônomo.

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Esta foi a primeira eleição desde os protestos da ?revolução dos guarda-chuvas? de 2014, que pedia eleições realmente democráticas e que enfrentou o até agora chefe do Executivo Leung Chun-ying, considerado pelos opositores uma marionete de Pequim. Ele deixará o cargo em julho, após cinco anos de mandato.

O chefe do Executivo é eleito por um comitê de 1.194 membros, a maioria deles partidários das políticas de Pequim. Desde 1997, quando Hong Kong deixou de ser uma colônia britânica e foi devolvido para a China, o território é governador com o lema “um país, dois sistemas”, que deveria garantir maior independência.

Mas 20 anos depois, a influência de Pequim é cada vez mais evidente e os moradores temem perder sua forma de vida e sus liberdades, mais amplas que na China continental.

De acordo com o resultado oficial, Lam recebeu os votos de 777 membros do comitê, contra 365 para John Tsang, considerado mais moderado. O terceiro candidato, o liberal Woo Kwok-hing, recebeu apenas 21 votos.

Nos últimos anos, a frustração dos que desejam mais democracia ante a crescente influência do governo chinês resultou em movimentos que pedem a autodeterminação ou até mesmo a independência de Hong Kong.

Os críticos acreditam que Lam aprofundará as divisões já existentes, mas ela afirma que deseja unificar novamente Hong Kong.

? Hong Kong, nossa casa, sofre com graves divisões e acumulou muita frustração. Minha prioridade é curar estas fraturas ? disse, após a vitória.

Lam se comprometeu a defender o lema “um país, dois sistemas” e a proteger seus valores centrais, incluindo a liberdade de expressão e um Poder Judiciário independente. Ela era favorita desde o início do processo.

Hong Kong New Leader

Os movimentos pró-democracia são muito hostis a Carrie Lam desde 2014, quando ela apoiou um pacote de reformas promovido por Pequim, o estopim para a ‘revolução dos guarda-chuvas’.

O plano prometia eleições livres para a escolha do chefe do Executivo em 2017, mas desde que os candidatos fossem pré-selecionados. O projeto foi rejeitado pelo Parlamento de Hong Kong, dominado pelo movimento pró-democracia, e as reformas foram abandonadas.

Centenas de manifestantes, entre eles o líder pró-democracia Joshua Wong, se reuniram neste domingo diante do edifício em que aconteceu a votação para protestar contra a designação da autoridade central e defender o direito de eleição do próprio governo.

A polícia impediu a passagem das pessoas que tentavam romper o cordão de isolamento. Em outra área da cidade, partidários de Pequim organizaram um evento com música militar e bandeiras da China e de Hong Kong.

? Continua sendo uma escolha do governo de Pequim ? lamentou à AFP Nathan Law, deputado pró-democracia que integra o comitê de eleição, mas que disse ter votado em branco.

Os membros do comitê representam diversos setores, do empresarial até a educação, mas excluem os 3,8 milhões de eleitores do território. Li Ka-shing, o homem mais rico de Hong Kong, foi um dos que votou neste domingo.

Os membros pró-democracia dentro do comitê apoiaram Tsang, ex-secretário das Finanças, mas não foi suficiente. Os ativistas também o consideram um simpatizante de Pequim.

A nova chefe do Executivo terá que enfrentar a divisão em Hong Kong, onde os mais jovens não acreditam mais no sistema.

O território também enfrenta o aumento expressivo dos preços da habitação, estimulado por investidores da China continental, situação que complica a vida cotidiana dos moradores.

Lam prometeu concentrar-se nas questões sociais, incluindo a pobreza e a moradia, mas seus opositores acreditam que também abordará a situação política

A influência de Pequim foi percebida em alguns incidentes recentes, como o desaparecimento em 2015 de cinco editores de Hong Kong conhecidos por publicar revelações escandalosas sobre a elite política chinesa. Alguns deles apareceram mais tarde na China continental.