FRONTEIRA
Sem apelos ouvidos, motoristas avisam que vão parar tudo na terça
Excesso de fiscalização e redução do Scanner revolta caminhoneiros
Foz do Iguaçu – As condições de trabalho dos caminhoneiros que atravessam a fronteira do Brasil com Paraguai pela Ponte da Amizade vêm se agravando e os apelos por ajuda continuam sendo ignorados. A categoria já sofre com a fiscalização minuciosa e demorada do Exército paraguaio, noticiada diversas vezes pelo Jornal O Paraná e que faz com que motoristas aguardem dias na fila, sem qualquer segurança e assistência básica. Sem resposta, eles decidiram cruzar os braços.
Agora, de acordo com o SindiFoz (Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas de Foz do Iguaçu-PR e região), a situação se agrava por conta da redução do horário de funcionamento do scanner da Receita Federal, pelo qual os caminhões passam para fiscalização, o que tem feito caminhoneiros demorarem dias para conseguir retornar ao Brasil. Assim, uma viagem que deveria ser bate e volta, pode demorar até 15 dias. “Motoristas estão permanecendo cinco dias vazios no Paraguai devido à redução do horário do scanner. Anteriormente, o equipamento operava 24 horas e, desde a pandemia, passou para oito horas de funcionamento”, lamenta o presidente do Sindifoz, Celso Antonio Gallegario.
Segundo ele, os caminhoneiros pedem a volta do funcionamento 24 horas do scanner e que, em caso de falha, que o Exército fiscalize os veículos. “Precisamos que repatriem os veículos vazios 24 horas por dia para que não tomem espaço dos carregados na fila”, frisa o presidente.
Greve geral
O sindicato já acionou o Ministério da Infraestrutura, que prometeu auxiliar nas discussões. A categoria espera que a situação seja resolvida o quanto antes, mas uma greve geral de motoristas paraguaios e brasileiros já está marcada para começar na próxima terça, dia 22 de setembro.
Gallegario ressalta que a greve neste momento deve impactar de forma significativa na exportação e na importação de produtos, únicas operações permitidas na fronteira do Brasil com o Paraguai desde março. “A indústria brasileira está exportando muito neste momento. Para o Paraguai são levados produtos industrializados de consumo como: alimentos, bebidas, higiene pessoal e limpeza e de lá vêm produtos agrícolas, arroz, milho, soja e trigo. O impacto será grande e para toda a macrorregião”, alerta o presidente do Sindifoz.
O Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos pede o fim da espera e da falta de assistência. “Basta de ficarmos parados em filas e sendo assaltados e hostilizados. Queremos scanner 24 horas e maior agilidade das autoridades brasileiras e paraguaias”, ressalta.
A Ponte da Amizade está fechada desde 18 de março. Apenas veículos de carga estão autorizados a fazer a travessia, e sob rigoroso esquema de fiscalização.
Receita não prevê ampliação
A Receita Federal afirma que o problema não está do lado brasileiro e que não há previsão nem necessidade de ampliação do atendimento do scanner, pois a capacidade máxima de cruze (número de veículos que passam pelo equipamento) não é atingida. Segundo a Receita, no último dia 8 entraram no Brasil 314 caminhões, sendo o dia com o maior número de veículos registrado na semana passada. A capacidade da RF é para 420 caminhões por dia, de segunda a sexta, e de 210 aos sábados. Mas, na maioria das vezes, o número de caminhões que entram não chega a 200 por dia.
A Receita reitera ainda que não ingere em demoras de liberação no Paraguai, que, com a fiscalização do Exército tem gerado demora de dias para a liberação dos veículos desde o início da pandemia. Informa também que não fará cruze fora do horário, pois já trabalha abaixo da capacidade.
O órgão ressalta que o problema é do lado paraguaio e que não faria diferença ampliar o horário do scanner, porque não há filas do lado brasileiro e o Paraguai libera bem menos caminhões do que a Receita Federal é capaz de atender. Assim, se o horário fosse ampliado, a equipe ficaria ociosa. O período de cruze é de segunda a sexta, das 8h às 11h45, das h13 às 16h30h, e, no sábado, das 9h30 às 13h15.
Ponte está perto de reabrir
Cidade do Leste – Em entrevista coletiva nessa terça-feira (15), o ministro da Saúde do Paraguai, Julio Mazzoleni, informou que apresentou ao presidente da República, Mario Abdo Benítez, uma minuta do protocolo relativo à abertura gradativa da fronteira com o Brasil.
“Isso se ampara em várias circunstâncias, levando-se em consideração à situação epidemiológica do Alto Paraná, onde se registra uma diminuição dos casos confirmados e internados”, alegou o ministro.
Ele explicou que será estabelecido um perímetro de circulação para os turistas que entrarem na área comercial de Cidade do Leste por um período de 24 horas. E considerou que a reabertura da Ponte da Amizade ocorreria em curto prazo.
A Ponte Internacional da Amizade está fechada desde 18 de março, o que gerou prejuízos de milhões de dólares para os comerciantes que dependem do turismo de compras. Além disso, o setor fala em cerca de 75 mil desempregados com o fechamento da passagem.
Decreto brasileiro autoriza a entrada de moradores de fronteira, desde que haja reciprocidade. Ou seja, se a ponte for aberta nessas condições, bastará que o governo paraguaio autorize. O decreto de fechamento da fronteira brasileira vence dia 26 de setembro.