
Aos poucos, o Brasil vem deixando para trás o rótulo de país da cerveja para se render aos encantos do vinho. Apesar da liderança da cerveja como bebida alcoólica preferida (54%), o vinho aparece em segundo lugar, com 33%, com base em pesquisa feita recentemente pelo Estudo de Mercado do Instituto MDA Pesquisa, em parceria com o Sebrae e o Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado do Rio Grande do Sul – Consevitis.
Já o levantamento apresentado pela Ideal Bl Consulting traça um cenário do mercado brasileiro de vinhos no primeiro trimestre deste ano. No total, o volume comercializado fechou em R$ 4 bilhões, ou seja, “tomou” 82,5 milhões de litros, um crescimento de 7% em relação ao mesmo período do ano passado. O reflexo desse comportamento foi sentido no desempenho do varejo. As vendas, chamadas de sell-out, resultaram em um crescimento de 2,4% na categoria de vinhos tranquilos (aqueles que não contêm gás) e, nos espumantes, 10%.
O consumo mundial de vinho em 2024 foi estimado em 214 milhões de hectolitros (unidade de medida que equivale a 100 litros), o menor nível desde 1961, com uma queda de 3,3% em relação ao ano anterior. Apesar dessa queda global, alguns países como o Brasil têm apresentado crescimento no consumo da bebida. Os Estados Unidos lideram em volume de consumo de vinho, seguidos por França, Itália, Alemanha e Reino Unido. Em termos de consumo per capita, Portugal se destaca como o maior consumidor de vinho do mundo, seguido por França e Itália. No Brasil, o consumo médio per capita é de aproximadamente 2 litros, e as expectativas para 2025 apontam para um aumento.
R$ 3,9 bilhões
A movimentação financeira do setor nos primeiros 90 dias deste ano no Brasil foi estimada em R$ 3,9 bilhões, com aproximadamente 110 milhões de garrafas vendidas, a um preço médio de R$ 35,06 por unidade. Considerando que o primeiro trimestre costuma representar cerca de 17% do volume anual, a projeção é de que o mercado ultrapasse os R$ 22 bilhões em faturamento até o final de 2025.
Apesar de o momento econômico não ser dos mais favoráveis, com inflação elevada e juros exorbitantes, os resultados são considerados expressivos. As importações de vinho cresceram 14% em volume e 15% em valor. No ranking dos vinhos importados, o maior consumo no Brasil é do vinho chileno, seguido do brasileiro, português e argentino.
O principal desafio é a rentabilização da cadeia vinícola. Conforme a pesquisa, o preço médio ao consumidor dos vinhos importados cresceu 4%, mesmo índice do vinho fino nacional e abaixo dos 5% registrados nos vinhos de mesa. Os vinhos brancos impulsionaram a expansão, com alta de 28% no total, entre rótulos nacionais e importados. Na América do Sul, a Chardonnay liderou as preferências, seguida por Sauvignon Blanc e o Moscato chileno. Na Europa, destacaram-se a região dos Vinhos Verdes, em Portugal, a Borgonha, na França, e o Alentejo, também em Portugal.
Esse desempenho no primeiro trimestre de 2025 é tido como melhor do que o esperado, principalmente por se tratar de um mercado competitivo e cauteloso, sujeito a instabilidades. No Brasil, o destaque fica por conta da ProWine, a principal porta de entrada para marcas que desejam investir nas Américas. Maior feira de vinhos e destilados do continente, o evento é totalmente voltado para o mercado B2B e, em 2024, reuniu mais de 15 mil visitantes profissionais, sendo 90% deles tomadores de decisão, e a exposição de mais de 1.400 marcas de 34 países.
História do vinho no Paraná remonta à imigração
A história do vinho no Paraná tem ligação com a imigração. Em geral, o início das vinícolas ocorreu com os avôs e/ou bisavôs dos atuais proprietários, que vieram de países da Europa, trazendo o hábito de ter um parreiral e produzir vinho colonial para o consumo próprio. Nos últimos anos, um movimento de profissionalização tem permitido que os produtores transformem história em negócio. O resultado é que os vinhos e a uva paranaenses têm ganhado destaque nacional.
De acordo com o Deral (Departamento de Economia Rural), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab), os parreirais – de mesa e para transformação agroindustrial – estão distribuídos em 3,5 mil hectares no Paraná, que proporcionam a colheita de 50 mil toneladas de uvas por ano. Marialva, conhecida como “Capital da Uva Fina do Paraná”, responde por mais de 10% da produção estadual. O município, inclusive, possui, desde 2017, o selo de Indicação Geográfica (IG), concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) à Associação Norte Noroeste Paranaense dos Fruticultores (Anfrut).
O melhor vinho do Paraná pode ser considerado o “Censurato Cabernet Sauvignon”, da Vinícola Franco Italiano, localizada em Colombo. Este vinho conquistou medalha de ouro no concurso internacional Vinalies, na França, e é reconhecido por sua qualidade e sabor.
A Vinícola Franco Italiano, em Colombo, tem se destacado na produção de vinhos premiados. Além do “Censurato Cabernet Sauvignon”, a vinícola também produz o “Wine Club Franco Italiano Teroldego”, reconhecido como o melhor vinho da categoria no Brasil.
Outras vinícolas paranaenses também têm recebido reconhecimento pela qualidade de seus vinhos, como a Vinícola Araucária e a Famiglia Zanlorenzi.
Para quem deseja conhecer mais sobre os vinhos paranaenses, a região de Colombo e a cidade de Bituruna, conhecida como a capital do vinho do Paraná, são ótimos destinos para enoturismo.
Capital paranaense do vinho
Quem chega a Bituruna é saudado, logo na entrada, por um monumento no formato de um garrafão de vinho com a frase: “Bituruna, terra do vinho”. A importância da bebida para o município do Sul paranaense também está presente nos cachos de uva no brasão da cidade, na cor roxa da sua bandeira e nas festas do Vinho e da Uva, que já se tornaram tradição na região.
Bituruna abriga quatro vinícolas e 117 produtores de uva. A vocação para a produção de vinhos se explica pela presença de descendentes de italianos, que vieram do Rio Grande do Sul na primeira metade do século XX, trazendo na bagagem, além da técnica e dos equipamentos necessários para a produção da bebida, as primeiras mudas de parreira. O clima subtropical e as configurações de solo e relevo fizeram com que a atividade prosperasse e criasse raízes fortes nas novas gerações de viticultores e vinicultores.