AGRONEGÓCIO

Tarifaço: "Letargia" preocupa FAEP que cobra abertura de canal urgente

A tarifa de 50% dos Estados Unidos preocupa o agronegócio do Paraná, afetando exportações e a economia local - Foto: AEN
A tarifa de 50% dos Estados Unidos preocupa o agronegócio do Paraná, afetando exportações e a economia local - Foto: AEN

Brasil, Estados Unidos e Paraná - A decisão do governo dos Estados Unidos de impor uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros, a partir de 1º de agosto de 2025, acendeu um alerta no agronegócio paranaense. A medida ameaça a competitividade das exportações agropecuárias e industriais, com reflexos diretos sobre a economia do Estado. O alerta é do Sistema FAEP, entidade que representa os produtores rurais do Paraná, que critica a lentidão do governo federal e cobra urgência em um posicionamento diplomático.

Em nota técnica, o presidente interino da FAEP, Ágide Eduardo Meneguette, afirmou que a imposição unilateral da tarifa coloca em risco as relações comerciais entre os dois países e afeta diretamente quem produz no campo. “O setor precisa de segurança e previsibilidade para continuar gerando emprego, renda e desenvolvimento. O governo federal deve abrir um canal de negociação urgente para preservar nossos acordos e minimizar os impactos”, destacou.

Exportações em risco

Os Estados Unidos são o segundo principal destino das exportações do Paraná, com US$ 1,58 bilhão em 2024. Só no primeiro bimestre de 2025, as vendas somaram US$ 214 milhões, colocando o país como o terceiro maior comprador de produtos paranaenses. Entre os itens mais afetados pela tarifa estão produtos florestais (madeira, celulose e papel), café, pescados, couros e alimentos.

Com a sobretaxa, o Paraná perde competitividade frente a países com acordos comerciais mais vantajosos com os EUA, como México e Canadá. “Essa medida ameaça uma relação historicamente importante para o Paraná, principalmente para o setor rural”, pontua Meneguette.

Impactos

O agronegócio é um dos pilares da economia estadual. O Paraná lidera a produção e exportação de proteínas animais (frango, suíno, tilápia) e tem forte presença em grãos, lácteos e alimentos processados. Com a nova tarifa, esses produtos perderão espaço no mercado internacional, já altamente competitivo.

O setor madeireiro e de papel, tradicionalmente dependente do mercado norte-americano, também será duramente afetado. Já no caso das proteínas animais, margens de lucro reduzidas poderão levar a cortes de produção, perda de mercados e aumento do desemprego, especialmente no interior. Especialistas alertam ainda para um possível efeito dominó, com outros países adotando medidas semelhantes, ampliando as dificuldades para os exportadores brasileiros.

Foto: FAEP

Reflexos imediatos

Com base econômica no agronegócio e na exportação de produtos industriais ligados ao campo, o Paraná poderá sentir os efeitos da tarifa já nos próximos meses. Municípios cuja economia depende da agricultura e da agroindústria são os mais vulneráveis. Além das perdas diretas nas vendas externas, há risco de retração da produção, adiamento de investimentos e queda de arrecadação.

Empresas já começaram a revisar contratos e renegociar prazos com clientes internacionais diante das incertezas provocadas pela nova política tarifária dos EUA. “É um momento que exige união de esforços para proteger a capacidade produtiva do Brasil e preservar os mercados que tanto custaram a ser conquistados”, finalizou Meneguette.

Cobrança por diplomacia permanece

A FAEP reiterou disposição para colaborar com o governo federal na tentativa de reverter ou amenizar os efeitos da medida. A entidade cobra uma atuação diplomática rápida e eficaz, com possível acionamento de organismos como a Organização Mundial do Comércio (OMC), para garantir a continuidade dos fluxos comerciais.

“O Paraná não pode arcar sozinho com os prejuízos de uma decisão unilateral que ameaça empregos, renda e o desenvolvimento de municípios inteiros. O Brasil precisa ter uma postura firme nas negociações internacionais”, declarou Meneguette.

Além do prejuízo imediato nas exportações, a nova tarifa compromete investimentos, planejamento e contratos que dependem de estabilidade nas relações comerciais. “Trata-se de uma medida que impacta diretamente a economia do campo, que sustenta milhares de empregos e gera riqueza para o Paraná e para o Brasil”, completou.

Agro defende previsibilidade

A FAEP ressalta que a solidez do agronegócio brasileiro foi construída com muito esforço, tecnologia e investimentos contínuos para conquistar espaço no mercado internacional. Perder competitividade agora significaria não apenas prejuízos econômicos, mas também um retrocesso no desenvolvimento de regiões inteiras que dependem do setor para gerar empregos e renda.

“O setor produtivo precisa ter garantias mínimas para seguir investindo, inovando e crescendo. Não podemos deixar que medidas unilaterais de outros países coloquem em risco todo esse trabalho. O diálogo e a diplomacia são as melhores ferramentas que temos para defender os interesses do Brasil”, concluiu Meneguette.

Enquanto o governo brasileiro prepara sua reação oficial, o agronegócio paranaense segue atento. As próximas semanas serão decisivas para o futuro das exportações e das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos.

Brasil segue “negociando”, diz Haddad

Um tanto quanto distante das afirmações do presidente Lula, o ministro Fernando Haddad (Fazenda), disse que o Brasil não vai sair da mesa de negociação com os Estados Unidos. Em entrevista à Rádio CBN, o ministro afirmou que o governo brasileiro não vai deixar a mesa de negociação, mas não descarta que o tarifaço sobre os produtos brasileiros possa mesmo ter início a partir do dia 1º de agosto.

“O Brasil não vai sair da mesa de negociação. A determinação do presidente Lula é de que nós não demos nenhuma razão para sofrer esse tipo de sanção e a orientação dele é a seguinte: o vice-presidente [Geraldo] Alckmin, o Ministério da Fazenda e o Itamaraty estão engajados permanentemente [na negociação]. Mandamos uma segunda carta [ao governo dos Estados Unidos] na semana passada, em acréscimo à de maio, da qual nós não obtivemos resposta até agora, mas nós vamos insistir na negociação comercial para que possamos encontrar um caminho de aproximação dos dois países que não têm razão nenhuma para estarem distanciados”, acentuou o ministro.