Cascavel e Paraná - Enquanto o governo brasileiro promove um “tímido diálogo” quanto ao tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros, as cadeias produtivas já sentem os primeiros reflexos da medida que, se não prorrogada, entrará em vigor em 1º de agosto. As cadeias produtivas das carnes de boi e de peixe reduziram seus abates para fins de exportação aos americanos. Estimativas dão conta de que se a taxação for mantida, o Brasil perderá US$ 42 bilhões entre 2025 e 2026. Mais que a perda econômica, a da cadeia produtiva é a pior parte na avaliação do presidente da Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo), Tirso Meirelles.
Em entrevista à reportagem do Jornal o Paraná, o presidente da Padrão Beef, pecuarista Lindonez Rizzotto, admitiu que a arroba do boi na região Oeste do Paraná, desde o anúncio do tarifaço de 50% sobre os produtos brasileiros, está com preço em “queda livre”. De R$ 312,00 há uma semana, ontem (16) já estava sendo comercializada a R$ 300. “Somente nesta quarta-feira, o preço da arroba na região Oeste caiu R$ 5”, disse. Segundo ele, esse reflexo nos preços é atribuído ao novo comportamento dos frigoríficos. E a tendência é de baixar ainda mais enquanto há ocorrer um resultado mais sólido envolvendo a negociação entre Brasil e Estados Unidos.
Negócios travados
O anúncio de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos, somada aos 26% já existentes para a carne bovina, elevou a cautela no setor pecuário. A medida ainda não entrou em vigor, mas o mercado já sente os efeitos: os negócios estão travados com a indústria fora das compras. Os EUA são hoje o segundo maior destino da carne bovina brasileira. Se a nova tarifa for implementada, o produto nacional perde competitividade e tende a ser redirecionado para outros mercados, o que demanda tempo e ajustes.
As exportações de carne bovina fresca, congelada ou refrigerada do Brasil renderam US$ 269,931 milhões em julho (4 dias úteis), com média diária de US$ 67,483 milhões, de acordo com a Secex (Secretaria de Comércio Exterior). A quantidade total exportada pelo País chegou a 48,715 mil toneladas, com média diária de 12,178 mil toneladas. O preço médio da tonelada ficou em US$ 5.541,00. Assim, em relação a julho de 2024, houve alta de 48,4% no valor médio diário da exportação, ganho de 18,1% na quantidade média diária exportada e avanço de 25,7% no preço médio.
Argentina
A taxação de 50% dos produtos brasileiros pelos EUA pode beneficiar o setor de carnes da Argentina, diz relatório da Rosgan, mercado de gado da Bolsa de Rosário.
Segundo a Rosgan, uma possível disrupção comercial entre Brasil e Estados Unidos geraria um vácuo nesse mercado. Isso poderia representar, por um lado, uma oportunidade para que a Argentina coloque parte de sua produção; mas, por outro lado, também uma ameaça em relação a outros destinos, dada a agressividade com que o Brasil provavelmente buscará realocar seus excedentes no restante do ano, indicou o relatório.
Se forem confirmadas as negociações de um acordo tarifário diferenciado com o governo argentino por ora, apenas rumores, a possibilidade de conquistar uma maior participação na cota de exportação para o mercado norte-americano permitiria aumentar substancialmente o valor por tonelada exportada, em comparação com o que atualmente é pago pela China, segundo o relatório.
30 mil toneladas em alto-mar
A indústria exportadora de carne bovina estima que cerca de 30 mil toneladas de mercadoria com destino aos Estados Unidos estão paradas em alto-mar após o anúncio do governo norte-americano de imposição de tarifa adicional de 50% sobre produtos importados brasileiros.
“Temos cerca de 30 mil toneladas de carne bovina produzidas que estão nos portos ou em alto-mar. A nossa preocupação é como será o desdobramento a partir de 1º de agosto”, afirma o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa. “É um volume em torno de US$ 150 milhões a US$ 160 milhões que já estão produzidos e a caminho dos Estados Unidos. É uma preocupação adicional ao produtor de carne bovina”, apontou. “Nossa sugestão de imediato é, se possível, uma prorrogação do início dessa taxação porque existem contratos em andamento e não há tempo hábil de desfazer esses contratos até dia 1º”, observou o presidente da Abiec.
Status sanitário paranaense leva o Chile a selar importação carnes bovina e suína
O Chile reconheceu o Paraná como livre de febre aftosa sem vacinação e de peste suína clássica. Esse processo permite a exportação de carne bovina e suína do Estado para o país sul-americano, uma vez que existe o sistema de pre-listing para as exportações de proteína animal, o que traz mais oportunidades para os produtores.
O acordo já tinha sido costurado há alguns meses. Em abril deste ano, Chile e Brasil assinaram uma declaração conjunta da abertura do mercado brasileiro para o mel chileno e do reconhecimento do Paraná como zona livre de febre aftosa sem vacinação e de peste suína clássica.
O Paraná já tem o reconhecimento internacional como área livre de febre aftosa sem vacinação pela Organização Mundial da Saúde Animal desde 2021. A conquista é fruto de mais de 50 anos de trabalho e parceria entre iniciativa privada, entidades representativas do agronegócio e governo estadual. O mesmo trabalho resultou na classificação como zona livre de peste suína clássica independente.
O Paraná é o segundo maior produtor de suínos do Brasil. A produção de carne suína cresceu por cinco anos consecutivos no Paraná nos anos recentes. Em 2018, foram abatidos 9,3 milhões de porcos, número que ultrapassou a barreira de 12,4 milhões de animais em 2024, uma variação de 34% no período.
No 1º trimestre de 2025, uma nova boa notícia para a suinocultura paranaense: houve um aumento de 32,5 mil unidades produzidas em relação aos três primeiros meses de 2024. Com isso, o Estado passou a responder por 21,9% da produção brasileira, atrás apenas de Santa Catarina, responsável por 29,4% da participação nacional.