Cotidiano

Brasileiro é eleito o melhor goleiro do mundo no futsal

RIO – Depois de sete temporadas no futsal do Cazaquistão, onde precisou aprender a lidar com o inverno rigoroso, que atinge 30°C negativos, e a falar russo fluentemente, o goleiro tijucano Léo Higuita, de 29 anos, conseguiu algo ainda mais difícil: reconhecimento. Pelo Kairat Almaty, clube com o qual tem contrato até 2020, foi campeão europeu e mundial da modalidade. Naturalizado cazaque, ele ajudou a classificar o país pela primeira vez para um mundial. O próximo será em setembro, na Colômbia.

A maior recompensa pela trajetória veio na semana passada, quando o fã do ex-camisa 1 da seleção colombiana René Higuita foi escolhido pela revista “Futsal Planet”, a mais importante da modalidade, o melhor goleiro do mundo no ano. De férias no Rio, foi no ginásio do Club Municipal, onde fez muitas partidas na infância, que o jogador recebeu O GLOBO-Tijuca para relembrar momentos da carreira.

— Estou muito feliz com essa escolha, mas me manter no topo do mundo será ainda mais difícil do que chegar a ele, e vou trabalhar para seguir aqui. A adaptação ao Cazaquistão foi muito difícil e levou tempo, mas hoje eu já me considero cazaque. Estou muito bem adaptado e sou grato. Foi o país que me acolheu e me permitiu viver esse sonho — afirma o goleiro de 1,80m, que atua com a camisa número dois.

No Kairat, ele é dirigido pelo brasileiro Ricardo Cacau, que gosta de utilizar goleiro-linha. Isto é: frequentemente, ele tira o goleiro do time para botar um quinto jogador de linha, que pode defender com as mãos dentro da área. O objetivo é ter mais jogadores no ataque, mas a equipe fica mais vulnerável na defesa sem um goleiro de ofício.

Habilidoso também com a bola nos pés, Léo chegou ao Kairat para suprir esta deficiência e logo caiu nas graças de Cacau, treinador também da seleção, que o convidou para se naturalizar cazaque. Durante o processo, surgiu uma convocação para um amistoso pela seleção brasileira, que ele rejeitou.

— Eu sempre quis jogar pela seleção brasileira e fiquei anos esperando uma oportunidade que nunca veio, mesmo tendo sido campeão mundial. A convocação veio quando eu já tinha assumido este compromisso com o Cazaquistão. Além disso, era só um amistoso: eles poderiam nunca mais me chamar, o que me impediria de ser convocado por qualquer outro país com o qual eu tivesse algum vínculo. Eu não tenho dúvidas de que atuar pela seleção do Cazaquistão me ajudou a ser escolhido o melhor do mundo, porque isso amplia a visibilidade do atleta — analisa.

Beneficiado pelo reforço, o técnico Ricardo Cacau se derrete em elogios ao pupilo e o qualifica como essencial para os resultados conquistados pelas duas equipes.

— Higuita é um líder nato, um jogador de alto-astral. Tecnicamente, ele é tão bom com os pés quanto com as mãos, e treina muito. É isso que garante os resultados que obtivemos e nos ajuda a vencer potências, como o Barcelona, duas vezes, e a seleção da Itália, superada por nós no campeonato europeu. Seria um jogador muito bom para a seleção brasileira, que, por dificuldade de observação, perde atletas que acabam assumindo outras nacionalidades — critica.

O Cazaquistão está no grupo E do Mundial, ao lado de Ilhas Salomão, Costa Rica e Argentina, cabeça de chave e adversária da estreia, que acontece no dia 12 de setembro.