Cotidiano

Food trucks caem no gosto do carioca e invadem eventos

RIO — Basta um evento no Rio, de qualquer proporção, ou uma simples caminhada pelas ruas para se ter a chance de encontrar um food truck em atividade. Os restaurantes sobre rodas viraram uma deliciosa mania carioca. De acolhimento estudantil a grandes feiras e celebrações particulares, os caminhões são quase unanimidade com seus donos que jogam nas 11, em cozinhas pequenas, e lidam com um público que olha nos olhos. A alternativa de ter um espaço gastronômico com investimento mais baixo e em formato flexível fez, definitivamente, a cabeça dos empresários. Entre prós e contras, eles mostram com seus produtos inovadores e clientes fiéis que os food trucks vão além da febre. Chegaram para ficar.

Sucesso em solo americano, os caminhões chamaram a atenção de Marina Braga, sócia do Larica Gourmet. Formada em gastronomia, ela decidiu abrir, em 2014, o truck especializado em hambúrgueres com Ana Cecília Mendes, publicitária com bufê de finger food na bagagem. A ideia deu certo. Em um dia na rua, o Larica chega a vender 70 lanches, sem contar os eventos semanais.

— Quando ainda não tínhamos as redes sociais, os clientes mandavam mensagem para saber o nosso paradeiro. Tem gente que nos segue até Niterói, Campo Grande — conta Marina.

Com 160 gramas de blend bovino, cebola caramelizada, farofa de bacon e maionese de iogurte, tudo servido num pão de abóbora, o Larica Burguer é o mais pedido. Deixa de lado o estigma de junk food do sanduíche e faz jus à frase estampada no caminhão: “Fome é vazio e larica é a expectativa de preenchê-lo com algo delicioso”.

Só que um restaurante móvel tem lá os seus desafios.

— Dentro do veículo é tudo diferente. Temos que nos locomover pelas ruas esburacadas, fazer manutenção. O bom é que o retorno do público é imediato, não há intermediários — aponta Ana.

O Larica fica na Gávea, às quintas-feiras, entre a PUC e o Planetário; e na Praça General Tibúrcio, na Urca, às sextas-feiras.

Antes de chegar no Brauni, Priscila e Renato Lagden venderam o clássico doce americano durante um ano até largarem seus empregos na área de moda. Mas nada de Nutella ou doce de leite. O casal buscou sabores inovadores, como pimenta e flor de sal. Na hora de montar o truck, a influência americana permaneceu, mas com inspirações vintage. Isso inclui a música ambiente, o barbecue com Jack Daniel’s, o mac and cheese e a limonada de garagem. Renato Ladgen explica a ideia das caixas de som e a cor preta do teto ao chão:

— Temos uma identidade da noite. Não é só um ponto de comida. As pessoas querem ouvir um som, desopilar. Optamos pelo marketing sensorial, num ambiente com uma experiência completa.

O Brauni fica na Rua Menna Barreto, em Botafogo, às terças-feiras; no Largo do Machado às quintas-feiras; e no Jardim Botânico, em frente ao Parque Lage, aos sábados.

A salsinha semidefumada é fornecida por uma família alemã do interior de São Paulo; o pão é feito com fermentação natural; e o queijo, grana padano, é gratinado. Até chegar ao produto ideal, os sócios do Forasteiro, food truck cujo carro-chefe é o hotdog, demoraram seis meses. A inspiração surgiu da iguaria típica de Mainz, na Alemanha, mas o queijo dá um gosto de brasilidade, explica Geraldo Guedes, um dos sócios. O diferencial é o molho de tomate com curry e especiarias, que proporciona um sabor levemente picante. O preço do hot dog (R$ 23) deixa claro o público-alvo do Forasteiro, que fez um ano em março.

— É um público viajado, normalmente jovem, que preza pela qualidade e gosta de experimentar algo diferente.

O Forasteiro também tem no cardápio um sanduíche de pernil desfiado (R$ 20), de produção própria. A iguaria é cozida na panela lentamente (24 horas) com ervas da Provence, marinada no vinho e servida no pão ancienne. O caminhão fica toda quarta-feira no Jardim Botânico, em frente ao Parque Lage; às sextas-feiras, em Botafogo, nas Rua Mena Barreto, esquina com São João Batista; e aos sábados, no Largo do Machado.

SEMPRE MAIS OPÇÕES

O Dogaria Truck, criado pelo engenheiro João Pedro Badue, é outro exemplo do alcance cada vez maior dos food trucks, agraciados pela mobilidade.

— Já fizemos cerca de 40 eventos, inclusive os shows do Coldplay e do Lollapalooza — conta Badue.

Especializada em cachorro-quente, a marca foi criada há um ano, depois que o engenheiro tirou uma ideia antiga da manga. Há 15 anos, ele descobriu uma lanchonete em Nova York que vendia um cachorro-quente com a salsicha do mesmo fornecedor do hot dog das ruas.

— Eu gostei do produto e dos acompanhamentos. A lanchonete fazia um sucesso monstruoso — lembra.

Badue comprou as salsichas, trouxe para o Brasil e, após um ano de testes, conseguiu com que um fabricante produzisse uma similar para o seu food truck, que começou no Rio, dentro de um galpão em Botafogo.

— O resultado foi uma salsicha pouco química e 100% bovina — explica Badue, que mais tarde passou a contar com a ajuda de um freguês que virou sócio. Rodrigo Brites, administrador do Instagram Garfo Carioca frequentava o truck ainda no galpão.

O cachorro-quente do Dogaria pode ser servido com cheddar e farofa de bacon; catchup de curry com maionese temperada; e chilli e maionese temperada com farofa de bacon. Às segundas-feiras, o truck costuma estar em frente ao Palácio do Catete e, às sextas-feiras, na Praia do Leme.

O Descolado é daqueles que arrastam seguidores. A empresária Bruna Ayres vai a qualquer lugar para saborear pelo menos dois dos quatro tipos de hambúrgueres servidos. Às vezes, come todos, admite. O que mais sai é o Bacon Lovers (180 gramas de carne bovina, pasta de gorgonzola, cheddar, molho especial, fatias de bacon, rúcula e pão com gergelim). A harmonia entre a pasta de gorgonzola e o molho especial, que são mais salgadinhos, e a carne, é um dos pontos fortes.

— O Descolado tem os melhores hambúrgueres da cidade. Todo fim de semana vou atrás deles — afirma Bruna. O food truck fica toda sexta-feira no Largo do Machado, das 17h às 22h.

Para os que gostam da linha mais leve, há o Tapí Tapioca, nascido nas ruas e hoje voltado para eventos. O food truck foi criado pelo casal Marianna Ferolla e Diogo Zaverucha, dois apaixonados pelo Nordeste e pela iguaria, vendida a R$ 16, em média. Os recheios diferentes e a goma fininha foram escolhas certeiras, afirma a moça:

— Achamos que estava na hora de a tapioca ficar mais carioca. Fizemos a goma mais fininha e crocante. Desde o início, queríamos trabalhar com recheios diferentes, como o de queijo brie com mel trufado e amêndoas torradas.