Cotidiano

Empresas aderem aos ?escape games? para avaliação de funcionários

RIO — Uma tia-avó milionária declara que deixará dois quadros valiosíssimos para seus sobrinhos como herança. Mas, no leito de morte, informa que toda a sua fortuna foi roubada por seu companheiro. Para que os sobrinhos possam recuperar as obras de arte, eles são enviados ao ateliê do senhor Faussaire, um homem que negociou as peças com a máfia mundial. Os sobrinhos têm 60 minutos para encontrar as telas e sair com elas do local. Caso contrário, serão mortos pelos bandidos. A história é fictícia e foi criada pela Escape 60’, empresa que chegou à Barra há dois meses apresentando enigmas para serem resolvidos em grupo, em cenários bem elaborados. O público-alvo são pessoas que querem se divertir. Mas a brincadeira tem atraído a atenção de empresas interessadas em usar a estrutura oferecida para aplicar dinâmicas de grupo originais.

André Aguiar é gerente de vendas de uma empresa multinacional que pediu para não ser identificada. Ele tem 48 anos e tira férias regularmente para viajar com a família. Embora tenha filhos, não se lembra da última vez que foi a um parque de diversão. O mais próximo que chegou disso ultimamente, conta, foi ao entrar numa das salas da Escape 60’. Gostou tanto do jogo que sugeriu que sua empresa recorresse à atividade, ideia prontamente aceita.

Na ida com outros funcionários ao local, Aguiar atuou de duas formas. Na primeira vez, ajudou a resolver o enigma de “O falsário”. Na segunda, acompanhou a dinâmica a partir do centro de monitoramento.

— Foi ótimo jogar duas vezes, porque há uma complementação. Ao participar, adquire-se a experiência, e, ao acompanhar de fora, enxerga-se mais claramente as características dos participantes — analisa.

Ana Déia Rodrigues, gerente da unidade da Escape 60’ no shopping Downtown, revela, que em apenas dois meses, a participação corporativa já representa 30% do movimento. Além das empresas, escolas e cursos de idiomas levam seus alunos para jogar:

— Oferecemos uma experiência que vai além das dinâmicas de grupo aplicadas tradicionalmente nas empresas.

HABILIDADES E ANSEIOS REVELADOS

Fernanda Eragus é gerente da Octagon, uma empresa de marketing esportivo que tem escritório do Rio e em São Paulo. Ela também recebeu a sugestão de um funcionário e coordenou uma ação simultânea com colaboradores das duas cidades. E garante que, daqui em diante, terá dificuldade de realizar as dinâmicas tradicionais.

— Na forma tradicional, a sensação que a gente tem é que o colaborador participa porque a empresa impõe a atividade. No escape game dá para ver que ele o faz por vontade própria — analisa.

2016 911512500-201605232154281427.jpg_20160523.jpgA intenção, conta Fernanda, era promover a integração da equipe, mas ela conseguiu identificar traços de liderança, ansiedade, competitividade e colaboração. E não descarta a possibilidade de usar espaços como esse com outras finalidades.

— É possível mapear o perfil dos colaboradores e até fazer avaliações para futuras seleções — acredita.

Além de “O falsário”, a unidade do Downtowm tem outras salas, com mais quatro jogos: “Operação resgate”, “A missão”, “Laboratório do doutor Mortare” e “R.I.P – Rest In Peace”. É possível desvendar crimes, fazer resgate, e realizar missões e vivenciar história de terror.

Os escape games surgiram há três anos, na Ásia, com o objetivo de reunir um grande número de pessoas em torno de um enigma que deve ser resolvido em no máximo uma hora. A brincadeira, que já foi comparada ao filme “Jogos mortais”, ao jogo “Criminal case” e até a um videogame da vida real, chegou ao Brasil há cerca de um ano, em São Paulo. No Rio, além da Barra, Jacarepaguá e Zona Sul têm salas onde é possível praticar a atividade.