Cotidiano

Lava-Jato: cooperação internacional já recuperou cerca de R$ 5 bilhões

2015072492263.jpgRIO ? A delação do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, feita em setembro de 2014, seis meses depois de deflagrada a maior operação de combate à corrupção no país, foi o primeiro passo para força-tarefa da Lava-Jato iniciar as tratativas de cooperação internacional com países usados para abrigar contas de políticos, operadores e funcionários da estatal envolvidos no desvio de dinheiro.

O Ministério Público Federal (MPF) registra 108 pedidos de cooperação internacional com 36 países, alguns deles conhecidos paraísos fiscais. O resultado é animador: O MPF estima que a ?Car Wash?, tradução literal da Lava-Jato na Europa e nos Estado Unidos, já recuperou R$ 5,3 bilhões.

Até agora, R$ 659 milhões foram repatriados. Há ainda R$ 2,4 bilhões em bens de réus bloqueados somente na Suíça, esperando uma ordem judicial para voltar aos cofres públicos. O restante, está espalhado pelo mundo. Para confirmar o retorno de todo o dinheiro, em regra os países exigem que os donos dos recursos estejam condenados pela Justiça.

Lava-Jato ? 6/6

Da delação de Paulo Roberto Costa para cá, foram firmadas 50 colaborações premiadas, consideradas fundamentais pelo MP para rastrear o dinheiro.

? Esse êxito de repatriação foi conseguido graças à técnica psicológica que Curitiba e o Ministério Público de Brasília utilizaram em combinar a delação premiada com a cooperação. Então, no momento que se fazia o acordo se ajustou que os colaboradores devolveriam ou concordariam com a repatriação dos valores pelos canais de cooperação. A combinação dessas técnicas explica o sucesso dessas operações ? afirma o secretário de Cooperação Internacional da Procuradoria-Geral da República, Vladimir Aras.

Do total de pedidos, 94 são de cooperação ativa (quando o Brasil é quem solicita informações) e outros 14 de colaboração passiva (quando outro país pede dados ao Brasil). Os pedidos ativos são divididos em três categorias: obtenção de prova documental (quebra de sigilos) ou testemunhal (tomada de depoimentos); rastreamento, bloqueio e recuperação de ativos e localização e captura de foragidos (extradição no final).

AS EMPREITEIRAS NO EXTERIOR

Já os passivos, até o momento, têm sido basicamente sobre informações de contratos de empreiteiras que atuam fora do país, como é o caso da Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão. Há também pedidos da justiça americana para julgar ações propostas por investidores minoritários que tiveram perdas em papéis da Petrobras, denominadas Class Action.

Para o secretário da PGR, a novidade recente fica por conta de países como o Principado de Mônaco, antes avessos a colaborações do gênero, terem se tornado ?grandes parceiros? da justiça brasileira no rastreamento desse dinheiro.

? O fato de a Suíça aumentar a cooperação, com enorme número de pedidos de colaboração aceitos, influenciou outras nações a também nos ajudarem, como é o caso de Mônaco ? destaca Aras

Segundo o secretário da PGR, o número de pedidos ainda vai crescer, principalmente os passivos.

? A partir do amadurecimento das investigações em outros países é de se esperar que haja mais interesse em saber sobre irregularidades em contratos firmados com empresas brasileiras envolvidas na Lava-Jato.

Além de Paulo Roberto Costa, os depoimentos do ex-diretor internacional da Petrobras Nestor Cerveró e do ex-gerente da estatal Pedro Barusco, mais o do empresário Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, da Toyo Setal, e do consultor Júlio Camargo, foram considerados de grande importância para seguir a trilha do dinheiro.

Mas não somente delações e colaborações premiadas ajudaram as autoridades brasileiras na recuperação de ativos. Troca de informações entre procuradores brasileiros e suíços, com missões da PGR ao país europeu, e a parceria da PF com a empresa canadense Research in Motion, fabricante dos telefones BlackBerry, foram cruciais para o cumprimento de ordens judiciais de quebra de sigilo de acusados de receber propina do esquema de corrupção fora do país.