SÃO PAULO ? O Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Gilberto Kassab, ouviu críticas e preocupações da comunidade científica reunida nesta quarta-feira em São Paulo, especialmente em relação à fusão das pastas e aos recursos cada vez mais escassos para o setor.
Kassab defendeu que a mudança “fortalece” a pasta e aumenta a eficiência da máquina pública. Ele prometeu ainda lutar para aumentar os recursos destinados à pasta. Ele disse que a pasta conseguiu o retorno de R$ 1 bilhão dos R$ 38,5 bilhões que estavam contingenciados.
O encontro foi organizado a pedido do próprio ministro pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) que, ao lado de outras 13 entidades, enviou no mês passado ao presidente interino, Michel Temer, um manifesto contra a fusão dos dois ministérios. Ao todo, já são cartas de 15 entidades contra a junção das pastas.
No documento, eles classificaram a medida como “artificial” e prejudicial ao desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação do País.
? Os argumentos colocados de redução de custos não se sustentam. Não sei se a população está de acordo com a redução deste ministério. Porque uma transformação tão drástica sem diálogo? Acho que é uma fragilização política essa fusão ? disse Ennio Candotti, vice-presidente da SBPC.
O ministro reconheceu que a economia com a fusão das pastas é “irrisória”, mas ressaltou que esse não foi o principal motivo para que o governo tomasse essa decisão. Ele entende que a junção dá “mais peso” ao ministério e pode trazer mais orçamento para o setor.
? A economia é irrisória, essa não foi principal razão. A maior razão é a eficiência. Ninguém acredita que um governo com 39 ministérios seja eficiente. Essa redução é para trazer mais eficiência à máquina pública.
Candotti lembrou que o Ministério da Cultura foi recriado após forte mobilização do setor artístico brasileiro e afirmou que a comunidade científica vai continuar se articulando para que a fusão seja revertida. Pesquisadores trocaram suas fotos no currículo da plataforma Lattes por imagens com a frase #FicaMCTI. A iniciativa foi da Associação dos Docentes da UFRJ (ADUFRJ).
? Esse movimento vai crescer e estamos aguardando uma resposta sobre essa modificação drástica que não convence muitos.
O presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich, disse ter ficado bastante preocupado ao ler o documento “Uma Ponte para o Futuro” elaborado pelo PMDB, partido do presidente interino. Segundo Davidovich, no documento a palavra “ciência” não aparece nenhuma vez.
? Nós temos uma visão de futuro para o país que considera que não existe uma teoria econômica aceitável sem investimento em ciência.
Ele destacou ainda que, mesmo em tempos de crise, países da Europa, China e Estados Unidos aumentaram o investimento em ciência e tecnologia.