Paraná - O Paraná enfrenta uma das mais severas crises hídricas dos últimos anos. De acordo com dados da Defesa Civil do Estado, apurados pela equipe de reportagem do Jornal O Paraná, mais de 50 municípios paranaenses já foram afetados pela estiagem prolongada desde o ano passado. Desse total, ao menos 36 cidades decretaram situação de emergência diante da escassez de chuvas e dos impactos acumulados na economia, especialmente no setor agropecuário.
Embora as chuvas tenham voltado a aparecer timidamente em algumas regiões do Estado nos últimos dias, o volume ainda está muito aquém do necessário para recuperar os reservatórios, abastecer a produção agrícola e garantir segurança hídrica às populações urbanas e rurais.
O capitão Vidal, da Defesa Civil do Paraná, afirma que o monitoramento é constante e que a situação permanece crítica. “As chuvas têm ficado abaixo da média nos últimos nove meses, causando a estiagem prolongada nos municípios. Estamos acompanhando sempre para poder orientar os municípios sobre as estratégias a serem adotadas”, destacou o capitão.
As regiões Norte e Oeste do Estado são as mais afetadas. Os prejuízos no campo já ultrapassam R$ 360 milhões somente em 2025, conforme levantamento preliminar de instituições ligadas ao setor agrícola. Em 2024, o cenário já havia sido alarmante, com perdas superiores a R$ 1,5 bilhão, segundo estimativas do governo e das federações de agricultura. O cenário se repete agora, com um agravante: a persistência do déficit hídrico eleva ainda mais os custos de produção e compromete a capacidade de recuperação das lavouras.
A falta de água tem gerado prejuízos em diferentes frentes. Agricultores paranaenses relataram perdas significativas na produção de forragem no inverno passado, essencial para alimentação animal. Isso forçou muitos produtores a recorrer à compra de insumos de terceiros, aumentando os custos de operação. Em casos mais extremos, houve redução dos plantéis como estratégia para garantir a sobrevivência econômica das propriedades. No campo, o custo de produção aumentou. Muitos produtores tiveram perdas na safra de culturas de forragem, obrigando-os a tirar dinheiro do bolso e adquirir de terceiros. Além disso, surgiu a necessidade de reduzir o plantel para permanecer na atividade.
O impacto também é sentido nas áreas urbanas. A escassez de água compromete o abastecimento doméstico, a produção industrial e até mesmo a prestação de serviços básicos. A Defesa Civil ressalta que o acompanhamento é feito com base em um sistema de monitoramento que registra a quantidade de chuvas em cada município, servindo de base para orientar ações emergenciais e políticas públicas de mitigação.
Investimentos
Em resposta à crise, o Governo do Paraná tem intensificado os investimentos na área. No ano passado, foram adquiridos e distribuídos equipamentos com um aporte de mais de R$ 20 milhões. Para este ano, já estão previstos outros R$ 16 milhões, que devem beneficiar 87 municípios diretamente afetados pela escassez hídrica. Os recursos serão usados em ações como aquisição de reservatórios móveis, sistemas alternativos de captação e distribuição de água, além de capacitação de equipes municipais.
Outro ponto de atenção crescente é o risco de queimadas, que aumenta significativamente durante períodos de estiagem prolongada. A vegetação seca, combinada com as altas temperaturas e o vento, cria um ambiente propício para a propagação do fogo. A Defesa Civil tem feito campanhas de conscientização junto à população e alerta sobre os perigos das queimadas ilegais. “É fundamental que a população compreenda os riscos e evite provocar qualquer situação desse tipo”, ressaltou o capitão Vidal.
Para prevenir e combater focos de incêndio, a Defesa Civil do Paraná também vem promovendo a formação de brigadistas, com foco especial em áreas de conservação ambiental. “Já participaram da parte teórica e, em maio, iniciam as orientações práticas”, afirmou o oficial. A ideia é preparar equipes locais para atuar de forma ágil em situações de risco, principalmente em regiões de difícil acesso.
Perspectiva
A perspectiva para os próximos meses não é animadora. Segundo projeções meteorológicas, o índice pluviométrico deve permanecer abaixo da média histórica, agravando ainda mais o cenário de seca em diversas regiões do Estado. Técnicos e especialistas alertam para a necessidade de medidas estruturais de médio e longo prazo, como a diversificação de fontes hídricas, investimentos em irrigação eficiente e o fortalecimento de políticas públicas voltadas à gestão integrada dos recursos naturais.
Além das ações emergenciais, o desafio maior está em tornar o Paraná mais resiliente às mudanças climáticas. A irregularidade das chuvas e os períodos prolongados de estiagem, que antes eram eventos esporádicos, agora se mostram cada vez mais frequentes e intensos. Essa nova realidade exige uma resposta articulada entre governo, setor produtivo, instituições de pesquisa e a sociedade como um todo.
A crise hídrica paranaense é um reflexo direto dos efeitos climáticos globais, mas também da necessidade urgente de repensar o uso da água, a preservação dos mananciais e o planejamento urbano e rural. Sem uma atuação coordenada, os prejuízos tendem a se acumular, afetando não apenas a economia estadual, mas também a qualidade de vida de milhões de paranaenses.