Roteirista experiente, Claudia Jouvin estreia como diretora

RIO ? Cena única. Sala de um apartamento. Dia nublado. Claudia Jouvin, 37 anos, morena de corte chanel, conjunto preto, está sentada em um sofá cinza com almofadas coloridas. Reclinada, olha séria para o papel de parede preto de listras brancas. Em instantes, encara o interlocutor (fora de quadro) e sorri como quem recorda um sobrenome.

? Cresci imaginando a hora em que ia lançar meu primeiro filme. Imaginava algo especial. Mas é normal. Lanço filme e levo filho em aniversário, o gato pega pulga, pego outro trabalho… A vida continua. Tudo é material para novas histórias ? diz a diretora e roteirista, cujo primeiro longa- metragem, ?Um homem só?, estreia dia 29 de setembro.

O filme reflete as múltiplas influências de Claudia, um misto quente de comédia romântica, ficção científica e drama cotidiano ? tudo com um notável apuro estético (?você pode dizer muito com linguagem visual?, diz ela, também desenhista). Há sete anos na cabeça da diretora, filme parte de uma premissa incomum: Arnaldo (Vladimir Britcha), infeliz no trabalho e no casamento com Aline (Ingrid Guimarães) e apaixonado por Josie (Mariana Ximenes), procura uma clínica para fazer um uma cópia sua ? e deixar a cópia em seu lugar. Ainda sem saber o que o público vai achar do seu filme, Claudia comemora o sucesso no Festival Gramado, onde ?Um homem só? recebeu três prêmios: melhor fotografia (Adrian Treijido), melhor ator coadjuvante (Otávio Müller) e melhor atriz (Mariana).

? Espero que vejam que foi feito com a melhor das intenções ? brinca a diretora. ? Minha busca é fazer um trabalho que não é hermético e nem populista. Não dá para ignorar meu background, meu universo de referências de rock, quadrinhos, séries, todo tipo de cinema: eu sou pop. O Kleber Mendonça (diretor do político ?Aquarius?) vai ser o Kleber, a Júlia Rezende (diretora do escrachado ?Meu passado me condena?) vai ser a Júlia. Tem que ser genuíno.

Claudinha, como todos a chamam, frequenta sets de filmagem desde menina, levada pelo pai, Claudio Paiva, roteirista e cartunista (da Revista O GLOBO, inclusive). Quando ainda cursava Cinema, fez curtas premiados. Na TV Globo desde 2004, assinou scripts para as séries ?A diarista?, ?A grande família? e ?Mister Brau? ? novela, confessa, não é sua praia. Também desenha, paixão que a aproximou do marido (outro cartunista), Allan Sieber, com quem teve o gorducho Max em 2013. No cinema, é parceira do diretor José Eduardo Belmonte, para quem escreveu ?O gorila? (2012) e ?Entre idas e vindas? (2016) e outros projetos inéditos.

Durante esta trajetória, cultivou uma turma de profissionais amigos (ou profissionais amigos) ? todos convocados na hora de fazer ?Um homem só?. E não podia ser diferente, diz Claudia:

? Tem uma frase que eu repito muito: não vim nessa vida para me aborrecer. Quando alguém vem me recomendar uma pessoa e diz ?Fulano é ótimo, mas um pouco chato?, respondo ?Não quero, obrigada?. Quero que as experiências sejam divertidas. E têm sido. Trailer de ‘Um homem só’

Claudia cresceu com a mãe, a psicóloga Solange (que também desenha!), e o meio-irmão Andrei, 11 anos mais velho. Depois foi morar com o pai, sua nova esposa e a meia-irmã Maria, 14 anos mais nova. Uma adolescente ?nerd, mas com vida social?, era fascinada por cultura pop e colecionava amizades. Uma das integrantes mais antigas da turma é Maria Carneiro da Cunha, sócia da Giros Produtora ? e, claro, produtora do filme de estreia da melhor amiga. Elas se conheceram no curso de teatro Tablado e ficaram próximas quando repetiram o primeiro ano do ensino médio no Ceat (Centro Educacional Anísio Teixeira), emblemático colégio liberal em Santa Teresa.

? Quando ela foi fazer Cinema na Estácio de Sá, eu praticamente fui junto. Fazia produção dos vídeos dela, o pessoal achava que eu estudava lá. Fizemos muita festa juntas, fomos em muitos shows. E seguimos próximas, mas em momentos mais família, ela com o Max e eu com o João ? diz Maria, grávida de seis meses. ? Ia produzir o filme de qualquer jeito e pensei até que a gente fosse se estressar mais, mas a verdade é que ela confia muito na equipe, é muito talentosa e muito compreensiva, tem uma segurança rara para uma editora estreante.

Claudio sempre achou que a filha tinha talento para direção ? inclusive, ficou apreensivo quando ela falou que queria ser roteirista como ele.

? Pensei: ?Ai, meu Deus, vai sofrer, escolha péssima…? ? diz o veterano de clássicos como ?TV Pirata? e ?Sai de baixo” ? Agora, quando ela falou: ?Vou dirigir meu roteiro?, pensei tudo de novo! ?Mas está tão bem de roteirista…? Enfim, ela sempre sabe o que quer, vai atrás e consegue. Acho que, como pai, fiz um bom trabalho.