Diferentes combinações de hormonas femininas, fatores genéticos ou ambientais e causas desconhecidas tornam as mulheres mais vulneráveis a certas doenças como a esclerose múltipla ou a fibromialgia.
Há nove doenças que afetam mais as mulheres do que os homens. Eduarda Comenda, especialista em Medicina Interna do Hospital Lusíadas Lisboa, revela quais são.
- Esclerose Múltipla
É uma doença crônica, inflamatória e degenerativa que perturba o sistema nervoso central e surge frequentemente entre os 20 e os 40 anos. Afeta três a quatro vezes mais mulheres do que homens e por isso é uma das hipóteses colocadas pelos médicos perante doentes do sexo feminino nesta faixa etária e que apresentem sintomas da doença:
– Fadiga;
– Visão turva;
– Alteração do equilíbrio;
– Perda da força muscular (que pode ocorrer não só em ataques temporários, nos chamados surtos da doença, mas também como um processo gradual);
– Alterações da sensibilidade;
– Queixas urinárias (dificuldade em urinar ou em esvaziar completamente a bexiga, urgência miccional);
– Queixas intestinais;
– Problemas sexuais (na mulher, perda de sensibilidade nos órgãos sexuais, dispareunia (dor intensa durante e após o ato sexual) ou incapacidade de atingir um orgasmo).
Os sintomas da EM (Esclerose Múltipla) variam muito (dependem da localização da inflamação e da desmielinização no sistema nervoso central) e podem ter uma evolução gradual e insidiosa, ou, pelo contrário, surgir em surtos, seguidos de períodos de remissão com recuperação total ou parcial.
As causas da EM não são conhecidas, mas a ciência sabe que há fatores relacionados com o aparecimento da doença: ambientais, de hereditariedade e imunológicos. Sabe-se que a EM é tanto mais frequente quanto mais afastado do equador está o país onde a pessoa passou infância/adolescência. É provável que as pessoas com EM, por razões hereditárias, sejam, até certo ponto, propensas a desenvolver a doença. Ou seja, um fator ambiental desconhecido poderá ativar o sistema imunológico, conduzindo a alterações na imunidade que levam ao aparecimento da doença.
- Neoplasia da mama
O cancro de mama é a neoplasia mais frequente no sexo feminino e representa cerca de 25% de todos os cancros diagnosticados nas mulheres. A evolução das taxas de incidência das neoplasias mais frequentes mostra um aumento progressivo e gradual dos tumores da mama, do cólon e do pulmão, de acordo com o esperado. É a segunda causa de morte por cancro nos países desenvolvidos. Muito embora seja muito mais frequente no sexo feminino, há homens com neoplasia da mama (um homem para cada 135 mulheres).
- Lúpus Eritematoso Sistémico
Esta doença inflamatória crônica de origem autoimune surge mais frequentemente entre os 20 e os 45 anos e é dez a 15 vezes mais frequente no sexo feminino. A diferença é explicada por fatores genéticos, hormonais (estrogênios) e ambientais, que participam no aparecimento da doença, causando alterações imunológicas (produção de autoanticorpos) que levam ao aparecimento dos sintomas. Leia mais sobre lúpus na página ao lado.
- Infecção urinária
A infecção urinária é mais comum no sexo feminino e isso se deve ao fato de a uretra feminina ser mais pequena, pelo que as bactérias chegam com mais facilidade à bexiga causando infecção. As bactérias intestinais são frequentemente causadoras de infecção urinária, devido à proximidade entre o meato urinário e o ânus. As mulheres grávidas, sexualmente ativas ou na menopausa, são mais suscetíveis às infecções urinárias.
- Fibromialgia
A doença afeta 2% a 10% da população e está presente em todas as idades e grupos étnicos e culturais. A única grande diferença é a sua prevalência por gênero: a fibromialgia é sete vezes mais comum no sexo feminino.
As mulheres são quem mais sofrem com a doença, que se caracteriza por dor músculo-esquelética crônica e difusa, que envolve os quatro membros e o tronco e se mantém por mais de três meses, frequentemente associada a outras patologias, tais como depressão, síndrome do cólon irritável, fadiga, distúrbios do sono e alterações reumatológicas.
A fibromialgia não tem cura e compromete a qualidade de vida do paciente, mas o tratamento da doença permite uma melhoria significativa dos sintomas.
- Depressão nas mulheres
A depressão é atualmente a quarta causa de incapacidade no mundo e deverá ser a segunda até 2020, segundo a estimativa da OMS (Organização Mundial da Saúde). A doença tem uma maior prevalência no sexo feminino, afetando duas vezes mais mulheres, mas a ciência não tem uma explicação única para esse fato. Até porque, apesar da investigação desenvolvida, persistem dúvidas relativamente à origem da doença.
Atualmente, a depressão é referida como uma doença multifatorial, ou seja, com várias causas envolvidas no seu aparecimento:
– Algumas teorias referem uma explicação genética e estudos feitos com gêmeos monozigóticos corroboram a existência de uma tendência familiar. No entanto, não é claro como é feita a transmissão genética.
– São igualmente importantes as causas físicas, como o desequilíbrio hormonal (patente na adolescência, depressão pós-parto ou associada à menopausa).
– A doença surge ainda associada a certas patologias (neurológicas, infecciosas ou oncológicas) e como efeito secundário de alguns medicamentos.
- Doença celíaca
A doença celíaca é uma doença autoimune que ocorre em indivíduos com predisposição genética, causada pela permanente sensibilidade ao glúten. A cada quatro doentes celíacos, três são mulheres e esse desequilíbrio se mantém em todas as faixas etárias, só desaparecendo na terceira idade.
Nesses doentes, a ingestão de glúten, mesmo em pequenas quantidades, leva o organismo a desenvolver uma reação imunológica contra o próprio intestino delgado, provocando lesões na sua mucosa que se traduzem pela diminuição da capacidade de absorção dos nutrientes. Trata-se de um problema crônico.
A eliminação do glúten da alimentação permite que o intestino regenere por completo da lesão e o organismo recupere, mas, se houver reintrodução do glúten, a inflamação regressa e os sintomas reaparecem.
- Doenças Sexualmente Transmissíveis nas mulheres
Mesmo com o desenvolvimento de novos métodos diagnósticos e de tratamento, as DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) mantêm elevada prevalência, especialmente no sexo feminino, que muitas vezes não refere a queixas. Frequentemente subvalorizadas do ponto de vista clínico e em termos de saúde pública, as DST podem provocar infertilidade, gravidez ectópica, malformações fetais ou infecções neonatais. A cada ano ocorrem, entre adultos de 15 a 49 anos, cerca de 340 milhões de novas infecções curáveis transmitidas através relações sexuais, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde). AS DSTs são infecções de diferentes tipos que têm em comum o fato de serem transmitidas através da relação sexual:
DST venéreas causadas por bactérias – Gonorreia, clamídia (mais frequente nas mulheres, atingindo cerca de 45% das jovens que mantêm relações sexuais sem proteção), a sífilis e a úlcera mole venérea. Todas elas podem ser curadas se forem tratadas adequadamente.
DST virais – Infecção por HPV, herpes genital, hepatite B e HIV.
DST causadas por parasitas – Pediculose e a tricomoniose (a mais frequente em todo o mundo, representando 50% das DST com cura).
- Lesão por Esforço Repetitivo (LER)
A “expressão” generalista LER (Lesões por Esforços Repetitivos) surgiu nos anos 50 para designar um conjunto de patologias, síndromes e/ou sintomas músculo-esqueléticos que afetam particularmente os membros superiores.
Aproximadamente 85% dos pacientes são mulheres na faixa etária dos 20 aos 40 anos. O aparecimento de LER está diretamente relacionado com a atividade profissional e são elas quem mais sofrem com esse tipo de lesões músculo-esqueléticas.
A LER, provocada pela execução de movimentos repetitivos e contínuos, favorecida por uma postura incorreta ou levantamento de pesos, é cada vez mais comum e surge associada ao uso das novas tecnologias (nomeadamente à utilização do computador).