Janeiro é considerado o mês de conscientização sobre a saúde mental, importante, inclusive, em situações de tratamento de doenças como o câncer. Segundo pesquisa internacional, publicada na revista Psychooncology, ex-pacientes da doença têm 10% mais transtornos psíquicos que população em geral. Os resultados do estudo chamam atenção para a importância de práticas relacionadas à saúde mental no tratamento oncológico de crianças e jovens, bem como de outras faixas etárias, de familiares e profissionais de saúde.
Segundo Marcelo Milone Silva, da Sobope (Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica), a boa prática começa por tratar toda criança e jovem com câncer em hospitais especializados. “A partir disso, as ações serão voltadas para minimizar os problemas e traumas decorrentes da experiência do tratamento”.
O especialista comenta que o avanço nas condições de tratamento melhorou a perspectiva de qualidade de vida e cura de pacientes com câncer em geral para mais de 80% na atualidade. Com isso, foi possível avaliar os efeitos provocados pela terapia e na vida dos pacientes e seus familiares durante e após o tratamento, como transtornos psíquicos, entre eles, depressão, ansiedade e medo.
“Ao avaliar a população em geral, ex-pacientes de câncer apresentam uma maior prevalência, por exemplo, de alterações da saúde mental. Por isso, constatou-se que o tratamento necessário para a cura dos pacientes também é prejudicial à saúde psicológica”, explica o médico oncopediatra.
Em busca do equilíbrio
O diagnóstico do câncer mexe não apenas com aspectos mentais de crianças e jovens, mas também de familiares e profissionais de saúde. Afinal, de acordo com Milone Silva, são inúmeros procedimentos, quase sempre associados a algum desconforto físico e emocional, diversas internações e diferentes níveis de gravidade. Também os frequentes deslocamentos são cansativos e longos, interferindo no convívio familiar e social.
“Não é raro que o paciente falte aos compromissos relacionados ao tratamento ou mesmo o abandono no meio da terapia. Assim, a atenção à saúde mental é fundamental para diminuir o absenteísmo e os impactos do tratamento oncopediátrico”, diz o especialista.
O médico da Sobope considera que o suporte psicólogo durante e após o tratamento, seja para o paciente ou para sua família, é fundamental: “Até porque as situações e reações dos pacientes serão diferentes conforme a faixa etária, ambiente familiar e social em que o paciente está inserido, exigindo abordagens distintas, mas bem fundamentadas para cada caso”.
Sobre a Sobope
Fundada em 1981, a Sobope tem como objetivo disseminar o conhecimento referente ao câncer infantojuvenil e seu tratamento para todas as regiões do país e uniformizar métodos de diagnóstico e tratamento. Atua no desenvolvimento e divulgação de protocolos terapêuticos e na representação dos oncologistas pediátricos brasileiros junto aos órgãos governamentais. Promove o ensino da oncologia pediátrica, visando à divulgação e troca de conhecimento científico da área em âmbito multiprofissional.