EM BRASÍLIA

Homens trans que geram filho serão identificados como parturiente na DNV

ADPF foi relatada na corte pelo ministro Gilmar Mendes. Foto: STF
ADPF foi relatada na corte pelo ministro Gilmar Mendes. Foto: STF

O STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu, ontem (17), que a DNV (Declaração de Nascido Vivo) do SUS deverá constar o termo parturiente para identificar o responsável legal pelo recém-nascido.  O termo será usado como “alternativo” para as definições de “mãe” e “pai”. A decisão foi tomada no contexto da ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 787, proposta pelo PT, questionando a omissão do Ministério da Saúde em reconhecer “homens trans” que gestam filhos. O partido considerava inadequado que essas pessoas fossem identificadas como “mães” por poderem gestar e gerar filhos.

A DNV é um documento emitido por hospitais e maternidades. A declaração é entregue aos pais ou responsáveis pelo bebê após o nascimento e precede o registro civil em cartório. Pela decisão, o Ministério da Saúde deverá alterar o layout do formulário da DNV para constar o campo “parturiente/mãe”, que deverá ser de preenchimento obrigatório. Antes de decisão, somente o termo mãe constava na declaração. A identificação do pai é opcional. A pasta também deverá comunicar as secretarias estaduais e municipais de Saúde sobre as mudanças.

Na decisão, a Corte também garantiu o atendimento de pessoas transexuais no SUS. Conforme o entendimento, as consultas e exames de todas as especialidades nos hospitais públicos devem ser realizados de forma independente do registro oficial do sexo biológico.

O ministro Gilmar Mendes foi o relator do caso e votou para reconhecer como solucionado o caso, uma vez que o Ministério da Saúde já havia alterado o documento para atender às demandas da população trans. Já o ministro Edson Fachin divergiu, por achar que a decisão judicial é necessária para não ser revertida no futuro.

PAI E MÃE

A conclusão do caso atendeu o voto do ministro André Mendonça que defendeu a manutenção dos termos “pai” e “mãe”, mas sugeriu a inclusão do termo “parturiente”. Também foi definido que o campo “responsável legal” passe a ser “responsável legal/pai”, de preenchimento facultativo. Os ministros Alexandre de Moraes e Nunes Marques acompanharam o voto do ministro Mendonça.

A ação do PT foi protocolada ainda durante o governo do então presidente Jair Bolsonaro. O partido alegou que pessoas trans não conseguem ter acesso aos serviços públicos de saúde após alteração do registro civil. A legenda relatou casos de homens transexuais que conservam o aparelho reprodutor feminino e não conseguiam agendar consultas ginecológicas. Da mesma forma, mulheres trans tiveram acesso negado a urologistas e proctologistas. A restrição ofende os princípios constitucionais do direito à saúde e à dignidade da pessoa humana, argumentou o PT.

A partir de agora, o Ministério da Saúde deverá promover as alterações em seus sistemas para que pessoas trans possam marcar consultas e exames de todas as especialidades médicas independente do registro do sexo biológico.

Os votos

Os ministros Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luiz Fux, André Mendonça e Nunes Marques votaram a favor das mudanças. Ainda, a ministra Rosa Weber e o ministro Ricardo Lewandowski, já aposentados, concordaram com a alteração. Os ministros Edson Fachin, Roberto Barroso e a ministra Cármen Lúcia divergiram parcialmente do voto do decano.