Brasil - A crise envolvendo o Banco Master ganhou novos contornos políticos e passou a dominar a agenda da oposição em Brasília, mesmo durante o recesso parlamentar. Em uma mobilização considerada enérgica e incomum para o período, deputados e senadores avançaram de forma acelerada na coleta de assinaturas para a instalação de uma CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), que pretende investigar a tentativa de compra da instituição pelo BRB (Banco de Brasília), o processo de liquidação conduzido pelo Banco Central e possíveis interferências externas no caso.
Na terça-feira (30), o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), articulador do requerimento, informou que a CPMI do Banco Master já alcançou 187 assinaturas, ficando a apenas 11 do mínimo exigido pelo Congresso Nacional para a abertura da comissão. Para que a CPMI seja instalada, são necessárias 198 assinaturas, sendo 171 de deputados e 27 de senadores — o equivalente a um terço da composição de cada Casa. Segundo Jordy, faltam sete deputados e quatro senadores para atingir o número necessário.
O parlamentar afirmou que a meta da oposição é alcançar o mínimo ainda antes do fim do recesso. “Em apenas uma semana já vamos bater o número necessário para instalação da CPMI”, declarou, destacando o ritmo acelerado da coleta. Jordy também anunciou que o requerimento permanecerá aberto mesmo após atingir o número mínimo. “Queremos o maior número de signatários da história. Assim que batermos 198 assinaturas, vamos divulgar quem assinou e quem ainda não assinou”, afirmou.
Tensão institucional
A CPMI pretende apurar suspeitas de fraude envolvendo a tentativa de aquisição do Banco Master pelo BRB, a liquidação da instituição determinada pelo Banco Central e eventuais interferências políticas e judiciais no processo. Jordy voltou a classificar a comissão como essencial e afirmou que o caso envolve uma “fraude bilionária” que precisa ser esclarecida. As declarações ocorreram um dia após a Procuradoria-Geral da República arquivar uma representação que pedia investigação da atuação do ministro Alexandre de Moraes no caso. O procurador-geral Paulo Gonet alegou ausência de elementos e provas que justificassem a abertura de apuração criminal.
Mesmo com o arquivamento pela PGR, a oposição sustenta que há fatos suficientes para investigação parlamentar. O caso ganhou ainda mais repercussão com a condução, pelo ministro Dias Toffoli, de uma acareação envolvendo o ex-banqueiro Daniel Vorcaro, o ex-presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, e o diretor de fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino Santos. Apesar de Toffoli ter delegado à Polícia Federal a condução dos depoimentos, interlocutores apontam que o roteiro inicial da acareação foi mantido, o que ampliou questionamentos e desconfianças sobre o processo.
A acareação, instrumento usado para confrontar versões divergentes em um processo penal, foi marcada antes mesmo da colheita de depoimentos individuais e da identificação formal de contradições, o que gerou críticas e alimentou o discurso da oposição de que o caso precisa ser analisado com maior transparência pelo Congresso.
Pressão na volta do recesso
O líder da oposição na Câmara, deputado Cabo Gilberto Silva (PL-PB), anunciou que as assinaturas necessárias para a CPMI já foram alcançadas e que o protocolo oficial ocorrerá após o fim do recesso parlamentar, em 2 de fevereiro. Segundo ele, a oposição vai pressionar o presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre, para que a leitura do requerimento seja feita logo na primeira sessão conjunta. “É muito importante que todos sejam investigados e que a verdade venha à tona”, afirmou.
Além da CPMI, a oposição também articula um pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, que teve o protocolo adiado para fevereiro com o objetivo de reunir mais assinaturas e ampliar o peso político da iniciativa. Atualmente, há dezenas de pedidos semelhantes em tramitação no Senado, mas os parlamentares avaliam que o caso do Banco Master tem potencial para “abalar a República”, como definiu Cabo Gilberto.
A ofensiva conta ainda com o apoio de senadores como Magno Malta (PL-ES), que aposta na pressão popular para manter o tema em evidência. “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, afirmou. Com a CPMI próxima de sair do papel, a crise do Banco Master promete seguir no centro do debate político em 2026.