Política

Após cassação, ex-primeira-dama acusa vereadores

A defesa pretende recorrer da decisão na Justiça.

Após cassação, ex-primeira-dama acusa vereadores

Reportagem: Josimar Bagatoli

Lindoeste – Por seis votos favoráveis e apenas dois contrários ao relatório da Comissão Processante, a Câmara de Vereadores cassou o mandato do prefeito de Lindoeste, José Romualdo Pedro, durante sessão extraordinária na manhã de ontem (6). Quem assume a prefeitura é a vice, Alessandra Bueno da Silva (PPS).

No entanto, familiares de José Romulado disseram ontem que ele só deixaria o Paço sob força policial. A defesa pretende recorrer da decisão na Justiça.

Quando a sessão chegou ao fim, a esposa do prefeito cassado, Terezinha Maciel da Rosa Pedro, desabafou, aos gritos, dentro da Câmara e fez graves acusações contra parlamentares: “Eles sempre cobravam para aprovar projetos. Toda vez que [o Executivo] encaminhava projeto, queriam receber. Todos estão convidados a invadir a prefeitura… não vamos sair do gabinete, pode vir juiz, promotor, todos… não é dessa vez que perdemos a guerra, a guerra só começou. Vereador Douglas [Souza] quer enfiar a família na prefeitura… Devair desviando 280 mil (sic) da folha de pagamento… pegava da Rosângela toda gratificação da menina, e se acham os bonitos, que mandam no poder… Vocês têm que saber o que acontece. Não tenho medo de vereador. Não tenho medo de morrer e não tenho medo de falar a verdade”, acusou a ex-primeira-dama.

Os vereadores da Câmara decidiram fazer uma representação contra Terezinha devido às acusações.

Assinaturas

O articulador de toda a ação seria Jadiel Almeida Ferreira, que exerceu cargo de secretário de Finanças da Prefeitura de Lindoeste de 2017 a 2019. Era ele quem gerenciava os recursos, realizava os pagamentos e assinava os cheques com o prefeito.

Durante a sessão de ontem, o prefeito negou a participação no esquema: “A assinatura não partiu do meu punho, não fui eu que fiz. Tive negado pela comissão o direito de fazer as perícias… As senhas sempre ficaram com os secretários… é igual em todos os mandatos”, argumentou.

A defesa do prefeito alegou ainda que “não foram produzidas provas além das testemunhais: Roni Martins e Jadiel de Almeida, que confessaram o desvio, teriam alegado que o prefeito tinha conhecimento da fraude”.

Nas notas e nos cheques constam assinaturas do prefeito, que alega a existência de assinaturas falsificadas nos cheques – uma empresa particular de perícia foi contratada pelo prefeito e constatou uma assinatura “supostamente falsificada”.

José Romualdo implorou para que os vereadores o deixassem terminar o mandato. Ao fim da votação, o cassado chorou e foi consolado por secretários municipais.

A favor do relatório votaram os vereadores Douglas Henrique de Souza, Euri Chiero, Euzébio Silvério da Rocha, Junio José Geraldo, Marivone Salete Perin, Namir Vicente Teixeira. Votaram contra Clarinda Palhano e Rosalina de Jesus Silveira. Sidinei dos Santos não compareceu.

O caso também é investigado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).

A descoberta do esquema

Em janeiro do ano passado, após pedido de exoneração do ex-secretário Jadiel Ferreira, funcionários públicos detectaram irregularidades nas contas: um cheque de R$ 9,9 mil havia sido compensado por uma empresa de bebidas. O pagamento seria para uma clínica médica, conforme os documentos, mas ela não tinha prestado o serviço nem recebido o dinheiro. “Houve o pedido da nota fiscal, mas a empresa não entregou pois não reconheceu o serviço. O dinheiro caiu na conta de Cristiane Marins, da empresa de bebidas. Os funcionários foram atrás dela, que disse ter pego um empréstimo de Roni [Martins, cargo comissionado da prefeitura] para comprar palets para gelar cerveja”, relata o advogado Paulo Henrique, que defendeu o prefeito cassado José Romualdo.

Roni Martins trabalhava no setor de licitações e é primo da proprietária da empresa de bebidas.

Conforme os advogados do prefeito cassado, o esquema funcionava da seguinte maneira: Jadiel repassava os cheques da prefeitura para Roni, que fazia o depósito em contas de “amigos” ou emprestava a quem precisava de dinheiro, depois recebia os valores em espécie.

Presidente relata ameaças

Durante a sessão extraordinária, ontem, o presidente da Câmara, Namir Vicente Teixeira, relatou a existência de ameaças sofridas pelos parlamentares. “Esta Casa está fazendo o que a lei outorga a cada vereador. Temos que ter uma decisão. Existem muitas ameaças, esperamos que ninguém ameace vereador, independente do resultado”.

Antes da cassação, o presidente disse diretamente ao prefeito. “Não podemos, de parte alguma, fazer agressões e ameaças, se acontecer, a Justiça está sabendo. Se há prova ou não contundente, a Justiça dirá depois e a parte prejudicada poderá recorrer”, disse Teixeira, que ao fim da sessão afirmou que pessoas ligadas ao prefeito teriam ameaçado pôr fogo na Câmara e “pegar os vereadores de facão” caso houvesse a cassação.

*Matéria editada às 9h14. O nome da esposa do prefeito cassado é Terezinha Maciel da Rosa Pedro, não Alessandra Bueno da Silva conforme citado anteriormente.