São Miguel do Iguaçu – Cerca de 200 policiais da Policia Federal, do Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e do Mato Grasso do Sul foram às ruas nessa quarta-feira em São Miguel do Iguaçu e Missal para o cumprimento de 130 ordens judiciais, sendo duas de prisão preventiva, quatro de prisão temporária, 51 mandados de busca e apreensão e 44 ordens de afastamento de sigilo bancário e fiscal dentro da Operação Apocalipse. As ordens foram expedidas pelo TRF4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região).
Foi necessário um caminhão da Polícia Federal para carregar dezenas de caixas da Prefeitura de São Miguel.
Durante a operação, a Prefeitura de São Miguel foi fechada e os computadores de várias secretarias, assim como diversos documentos, foram recolhidos pelos policiais. Além dessas medidas, por meio de 30 ordens específicas, foi realizado o bloqueio de ativos financeiros e patrimoniais na ordem de R$ 20 milhões.
“Trata-se de um crime silencioso, normalmente arquitetado dentro dos gabinetes de órgãos públicos, aparentemente inofensivos, mas que, na verdade, acaba acarretando sérios prejuízos na prestação de serviços públicos para a comunidade, principalmente relacionados à saúde, à segurança pública, à prestação de serviços etc”, disse o delegado regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado, Mozart Fuchs.
A operação, batizada de Apocalipse, tem seu nome relacionado ao padroeiro da cidade onde os fatos foram praticados, Arcanjo Miguel, o qual é reportado no livro de Apocalipse como um guerreiro na luta contra o mal.
Prefeito preso
Um dos alvos da operação foi o prefeito de São Miguel do Iguaçu, Cláudio Dutra, que está preso desde 23 de setembro devido a uma operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), referente a outra investigação sobre fraudes em licitações. Ele está na PEF (Penitenciária Estadual de Foz do Iguaçu), onde foi cumprida a segunda ordem de prisão.
Nessa investigação do Gaeco, Claudio Dutra é acusado de suposto envolvimento em organização criminosa que desviou R$ 8,6 milhões de recursos públicos destinados ao transporte escolar.
Além do prefeito, foram presos ontem o empresário Charles Zilio, o candidato a prefeito de São Miguel Lester Gomes de Moraes, o proprietário de um laboratório de análises clínicas de São Miguel do Iguaçu e outras duas pessoas.
A defesa de Cláudio Dutra nega que o prefeito seja chefe de uma organização criminosa e disse que pediu ao Tribunal Regional Federal acesso às provas da investigação. Além disso, diz que solicitou habeas corpus para que o prefeito seja liberado da penitenciária.
Já o advogado do empresário Charles Zilio afirma que serão tomadas as medidas cabíveis assim que tiver acesso às provas.
Esquema movimentou R$ 60 milhões
Segundo as investigações, 25 licitações em serviços de saúde, limpeza urbana, esporte e cultura foram direcionadas com participação de empresas de fachada para favorecer o empresário Charles Zilio.
“O grupo criminoso investigado constituía empresas, a maioria de fachada, com quadro social formado por pessoas relacionadas aos líderes. A partir do momento que, dentro do processo licitatório, o contrato era realizado, no curso da prestação de serviço inúmeras fraudes foram praticadas possibilitando o desvio de recursos para os líderes”, explicou o coordenador da Operação, delegado Adriano Chamme.
De acordo com ele, pessoas ligadas ao grupo eram colocadas em cargos estratégicos dentro da administração municipal que facilitariam a apropriação de verbas públicas para os líderes da organização. “A partir do momento em que o líder da organização criminosa assumiu o mandato, passou a criar, em conluio com o empresário, uma estrutura hierarquizada que possibilitou a ele praticar inúmeros crimes”, pontuou o delegado, sem citar os nomes do prefeito e de Charles.
Desvio milionário
No período de 2013 a 2020, foram movimentados mais de R$ 60 milhões de verbas públicas por meio de 25 contratos celebrados com as empresas do grupo investigado.
O delegado também afirmou que, além do prefeito de São Miguel do Iguaçu, servidores de primeiro e segundo escalões podem estar relacionados ao esquema de desvio de recursos públicos.
Dentro dos processos licitatórios foram encontrados robustos elementos que indicam que até o procedimento relacionado no combate da pandemia causada pelo novo coronavírus foi manipulado pela organização criminosa.