Tem dias, mais do que outros, em que tudo que precisamos é silêncio. O mundo e as pessoas são muito barulhentos. Dificilmente conseguimos o silêncio total, algum ruído sempre existe. Sem dúvida que o ruído na nossa própria cabeça é aquele mais difícil de silenciar.
O silêncio é o que reequilibra. É mais que aquela placa na biblioteca ou no hospital. Para silenciar você precisa estar consciente. Para perceber que não há som à sua volta, você precisa prestar atenção.
Atenção plena, consciência e presença. O aqui e agora tomando conta de todos os recantos. A alma largada como uma pena flutuando. Não, não é fácil.
No entanto, ele está por aí. O silêncio permeia todas as coisas. O silêncio é fundamental na música, por exemplo. Aquele intervalo entre uma nota e outra. Aquele tempo para respirar do trompetista. Minúsculo e escondido, mas ele está ali e sem isso a música perderia o sentido, sairia do tempo e se tornaria um caos.
Façamos um exercício. Pare agora e preste atenção ao seu redor. O que você escuta? As pessoas conversando. O som dos carros. A bicicleta que passa na rua. Um cachorro latindo lá longe. A batida compassada dos ponteiros daquele relógio ali na parede. Aquele silêncio entre um segundo e outro, entre o “tic” e o “tac”.
O silêncio é espaço. O espaço é silencioso. A Lua em sua rotação não faz barulho (será?). Os planetas e suas órbitas gigantes. Será que não há nenhum som mesmo? Ou nós, que não conseguimos ouvir? O sol irradiando, tanta energia pulsando. Silêncio.
Precisamos de silêncio também para nossos olhos. Nesta vida de tanta informação e de tantas telas. Silenciar a mente exige que você se afaste disso tudo. Notícias, teorias, conversas, disputas, correria. Silêncio, cadê você?
Não, o silêncio não é o nada. O silêncio é alguma coisa. É um existir pacífico. É a árvore que está na frente da sua casa. Ela já fez barulho alguma vez? O vento que bate nela faz barulho. As folhas chacoalhando. Apenas para mostrar que ela está ali, nada mais.
O silêncio também pode perturbar. A demora para responder. Os silêncios retumbam com força em um conflito. Eles prenunciam o que está para ser dito. Aquela onda do mar que está prestes a quebrar e arrastar tudo.
O silêncio é acima de tudo um refúgio. Um esquecimento de si mesmo. Um exercício diário. Porque sempre queremos nos manifestar. Sempre dar a última palavra. O silêncio de quem está certo. O silêncio dá a razão.
Escute agora.
Shhh,
Silêncio.
Caê Martins, Carlos Eduardo dos Santos Martins
Anestesiologista – CRM/PR – 20965.