* Por Neuso Rafagnin
Três meses atrás, o Sindhotéis divulgou um artigo a respeito da crise econômica provocada pela inércia dos governos diante da pandemia, intitulado “Turismo de Foz do Iguaçu à beira do colapso”. Infelizmente todas as nossas previsões, feitas em 23 de abril, foram concretizadas. Para ser exato, foram superadas negativamente.
À época, concluímos o alerta afirmando: “O turismo reivindica soluções para hoje a fim de evitar o caos logo ali adiante. Do contrário, levaremos ainda mais tempo para sairmos dessa crise sem precedentes na Terra das Cataratas”. O pior aconteceu. O caos econômico que atinge empresas e trabalhadores hoje é uma realidade em nossa cidade. A próxima cena é sabida: caos social!
Sim, distúrbios tais como os enfrentados por nossos vizinhos. Estamos acompanhando, tristemente, uma multidão de trabalhadores ocuparem ruas e avenidas de Ciudad del Este para protestar contra as medidas dos governos de restrição ao funcionamento dos estabelecimentos comerciais. Boa parte, mães e pais em desespero pela falta de renda para comprar comida e pagar contas básicas de água, luz e moradia.
Pela falta de ação concreta, o prefeito de Foz do Iguaçu, Chico Brasileiro, e o governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior, empurram deliberadamente ao precipício milhares de profissionais do turismo – principal indústria motriz da nossa economia. Hoje, ambos os gestores estão ali, à beira do abismo, olhando inertes as pessoas agonizando ao falir sem dignidade alguma.
Para refrescar a memória dos dois governantes: entre as 60 cidades com mais emprego formal no Paraná, Foz do Iguaçu foi a mais impactada pela perda de vagas com carteira assinada, nos primeiros seis meses deste ano, como mostram os números divulgados pelo novo Caged. O saldo negativo de 5.691 postos de trabalho (maioria do turismo) representa 9,49% dos quase 60 mil empregos formais que existiam no início do ano.
E mais: dos atuais 54 mil trabalhadores com carteira assinada, 18 mil tiveram redução proporcional de jornada de trabalho e de salário ou suspensão temporária do contrato. Considerando o movimento praticamente zero do turismo, as fronteiras fechadas e o comércio desaquecido, qual será o destino dessa legião laboral após o período temporário de proteção de emprego? Falidas, as empresas não terão outra alternativa a não ser demitir em massa.
Dessa forma, caminhamos para fechar o ano com o pior saldo na balança de empregos. Em 2002, registramos saldo negativo de 1.147 vagas. Portanto o saldo negativo parcial de 5,6 mil postos de trabalhos a menos já é cinco vezes pior que o registrado nas duas últimas décadas. Ao mesmo tempo, temos vários municípios vizinhos e do estado com saldo positivo na geração de emprego. Por que Foz, mesmo sendo terrivelmente castigada, não tem tratamento diferenciado dos governantes?
Além dos funcionários do turismo com carteira assinada, o turismo tem um universo de trabalhadores como autônomos, profissionais liberais e MEIs, como guias de turismo, transportadores e motoristas, além daqueles que vivem de freelas para hotelaria e gastronomia. Com os atrativos turísticos fechados e sem movimento de turistas na cidade, essa é outra categoria diretamente afetada pela pandemia.
Mesmo diante desse cenário, as reivindicações em defesa da hotelaria e gastronomia ao prefeito Chico Brasileiro e ao governador Ratinho Junior são ignoradas em sua maioria. Sequer foram atendidos os pedidos de ampliação do horário de atendimento de gastronomia, extensão do transporte coletivo para a locomoção dos profissionais ou suspensão das faturas da Copel e Sanepar cobradas na forma de valor fixo.
Como alertamos em abril, o turismo foi o primeiro setor a sofrer com a covid-19. Na ocasião, escrevemos que seria o último a sair da crise…