Saúde

Servidores da enfermagem param; índice prudencial e repasse federal preocupam

Servidores da enfermagem param; índice prudencial e repasse federal preocupam

Cascavel – Um grupo de servidores municipais formado por técnicos de enfermagem e enfermeiros deflagrou greve na manhã de ontem (21), e promete permanecer até que suas reivindicações sejam atendidas, inclusive dormindo no local, em um acampamento montado em frente à Prefeitura de Cascavel. Apoiados pelo Sismuvel (Sindicato dos Servidores Municipais de Cascavel), eles reivindicam reajuste salarial.

O movimento ocorre menos de uma semana depois de o Município ter sido alertado pelo o TCE-PR (Tribunal de Contas do Estado do Paraná) por estar atingindo o limite prudencial com folha de pagamento. Os municípios devem respeitar a lei de responsabilidade fiscal, porque se extrapolar o limite, que é de 54%, os servidores públicos e o prefeito podem responder por improbidade administrativa; Cascavel está muito próximo dos 52%.

De acordo com o presidente do Sismuvel, Ricieri D’Estefani, o movimento de paralisação foi aprovado em assembleia da categoria no último dia 9 e expõe o problema de diálogo que, segundo ele, estão tendo com o prefeito de Cascavel, Leonaldo Paranhos. “Esperávamos que ele tivesse nos ouvindo há muito tempo já; estamos com este movimento justamente porque não há contato, nem diálogo com ele”, disse o representante sindical.

Ricieri reforçou que o movimento busca melhorias salariais, já que o piso foi resolvido e como o ano que vem é ano eleitoral, os aumentos precisam ser dados até o dia 30 de abril. “Fizemos a assembleia e comunicamos à Prefeitura, tudo dentro da legalidade, só que não conseguimos resolver, por isso, vamos manter o movimento por 10, 15 dias, ou seja, o tempo que precisar”, frisou.

Índice prudencial

Ainda pela manhã, um grupo de servidores, junto com os líderes sindicais, esteve reunido com a secretária de Planejamento de Gestão, Vanilse Pohl, que reforçou que repassou ao grupo que o Poder Público está aberto a retomar o diálogo para debater as reivindicações, mas o momento é de cautela por conta do índice prudencial. “Os anseios foram apresentados e a resposta que demos ao sindicato é que nesse momento é inviável o aumento salarial, já que estamos com o índice extrapolado”, reforçou.

O secretário municipal de Saúde, Miroslau Bailak, contabilizou que um total de 108 servidores, dentre eles, 10 enfermeiros, não foram trabalhar e aderiram ao primeiro dia do movimento, reforçando ainda que no próximo dia primeiro os servidores que tiverem diferenças a receber do piso nacional, tanto os técnicos, quanto os enfermeiros, estarão recebendo os valores. O secretário destacou que a maioria dos servidores “em greve” são de unidades de saúde, o que vai refletir no atendimento.

Reclamação

A reportagem do Jornal O Paraná esteve no movimento e conversou com uma técnica de enfermagem que trabalha há 12 anos em uma das UPAs, que reclamou que há 8 anos salário está defasado. Segundo ela, de acordo com o cálculo do sindicato, as perdas chegam a 70% e que a maioria eles (servidores da enfermagem), para melhorar o salário, precisam fazer horas extras, o que influencia diretamente na qualidade de vida. “Quando você recebe um salário digno, quando você é valorizado, você trabalha até com uma autoestima melhor”, disse.

“Não concordo, mas respeito”, diz Paranhos

Em vídeo divulgado em suas redes sociais, o prefeito Leonaldo Paranhos, disse que não concorda com a greve, mas respeita. Ele lembrou que em sete anos de mandato nunca passou uma greve, porque sempre manteve um bom relacionamento com os servidores. “Em uma greve todos perdemos, todos teremos prejuízos: o governo, o próprio servidor e a população, ainda mais uma greve no setor de saúde”.

O prefeito acrescentou que o movimento somente traz prejuízos à população que fica sem atendimento, aos colegas dos manifestantes que precisam se desdobrar para atender a demanda e, ainda, aos próprios servidores que terão os dias pardos descontados. “O diálogo sempre existiu, inclusive sempre apresentei números para a categoria saber das reais condições financeiras do Município, ou seja, nunca tive motivos para não atender os servidores”, falou.

Paranhos disse “estranhar” o movimento que não tem como foco o piso nacional, lembrando a proximidade do ano eleitoral. “Temos uma folha de pagamento de R$ 56 milhões e já conseguimos nestes sete anos avançar e recuperar perdas de muitos servidores, mas sempre com diálogo”, disse. Também lembrou que neste ano, especificamente, o Município está sofrendo com a queda de arrecadação, o que coincide com aumento do índice prudencial. “Quando cai a receita o índice cresce e, nem que tivéssemos condições de dar aumento, não podemos pagar, inclusive estamos fazendo campanhas como redução de ITBI e o Refic para conseguir elevar a arrecadação e equilibrar as contas neste fim de ano”, salientou.

Repasse Federal e os números

Logo no início do movimento de greve, em nota oficial, a Prefeitura de Cascavel reconheceu o direito dos profissionais que atuam no Município a cobrarem pelo piso da enfermagem e também endossa essa exigência da classe. No entanto, a responsabilidade desse pagamento é do governo federal, que ainda não repassou ao Município os recursos para complementar a folha.

Atualmente, a saúde pública de Cascavel conta com mais de 770 profissionais da classe, entre enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem. Desses, cerca de 480 recebem o piso, inclusive até acima do preconizado. De 2017 a 2023, o Município passou de 153 enfermeiros para 262 profissionais, um acréscimo de 71%. Já o número de técnico teve um salto de mais de 52%, saindo de 292 para 446 colaboradores.

De acordo com dados da Secretaria de Planejamento e Gestão, 100 enfermeiros têm a remuneração média de R$ 6.051,20. Já 78, que têm de 4 a 9 anos de serviço, recebem, em média, R$ 6,6 mil. Os 48 servidores de 10 a 15 anos de serviço têm um salário em cerca de R$ 7,1 mil. Por fim, 39 enfermeiros recebem mais de R$ 8,6 mil. Eles estão no serviço público há mais de 16 anos. Todos os enfermeiros do Município recebem salário acima do piso estabelecido.

Ainda, 119 técnicos de enfermagem recebem R$ 3,7 mil em média, e pelo tempo de serviço público, mais 60 técnicos ganham mensalmente cerca de R$ 4 mil. Valores superiores ao piso.

Foto: Paulo Eduardo/O Paraná