Economia

Saque do FGTS: Injeção na economia regional pode chegar a R$ 190 milhões

Apesar de estímulo com Semana do Brasil, varejo recomenda pagamento de dívidas para ter nome limpo no fim do ano

Lojas aderem à Semana do Brasil, colorem as vitrines e esperam melhora das vendas- Foto: Aílton Santos
Lojas aderem à Semana do Brasil, colorem as vitrines e esperam melhora das vendas- Foto: Aílton Santos

Reportagem: Juliet Manfrin

Cascavel – A partir da próxima semana, dia 13, para ser bem exatos, começam os saques dos R$ 500 das contas ativas do FGTS. O dinheiro extra deve aquecer o comércio, que nesta semana lançou a Semana da Pátria, com objetivo de atrair o consumidor com descontos. Contudo, pelo menos no oeste do Paraná, os lojistas têm outra sugestão: quem tiver dívidas, que as priorize.

A recomendação é do presidente do Sindilojas (Sindicato dos Lojistas e do comércio Varejista de Cascavel e Região Oeste do Paraná), Leopoldo Furlan. Segundo ele, quem vai sacar os R$ 500 do FGTS e tem dívidas atrasadas, que priorize a quitação, nem que seja apenas de parte do saldo devedor.

Pode até parecer estranho alguém que represente o varejo, em tempos de vacas magras, pedindo para que as pessoas paguem as contas em vez de comprar mais. É que, segundo Furlan, isso tem uma justificativa.

Como a maior parte das pessoas com dívidas em atraso deve até R$ 500, colocar as contas em dia agora não comprometerá o 13º salário no fim do ano, deixando os consumidores aptos para as compras de fim de ano, quando ocorrem a Black Friday (neste ano, em 29 de novembro) e o Natal. “O movimento mais importante agora é pagar as contas, ter o nome limpo no fim de ano e, lá na frente, gastar com consciência para que em fevereiro ou março de 2020 não volte para a lista dos maus pagadores”, alerta.

Injeção extra

Estima-se que os mais de 380 mil trabalhadores espalhados pela região, que têm direito a sacar o recurso, poderão injetar cerca de R$ 190 milhões na economia regional. Somado com a parcela do 13º de aposentados e pensionistas, que está sendo paga desde o fim de agosto, o incremento na economia é de R$ 395 milhões.

Por todo o Estado, somente o saque do FGTS poderá representar um impacto de quase R$ 4 bilhões, isso, é claro, se todos buscarem esse recurso. “Pode parecer pouco, mas na soma ajuda muito. Qualquer recurso na economia nesse período fraco para as vendas é algo positivo, mesmo que seja apenas para pagar as contas. A inadimplência do consumidor deixa o lojista em uma situação muito preocupante também”, reforçou Furlan.

O pior ano desde 2017

Ainda de acordo com o presidente do Sindilojas, Leopoldo Furlan, este tem sido o pior ano dos últimos três para o comércio. Caminhando para o fim de 2019, as projeções não são necessariamente animadoras.

O Dia das Crianças deve ser uma espécie de termômetro para as vendas de dezembro, mas o que de certo se sabe é que, até o momento, as expectativas estão bem tímidas, apesar de as vitrines começarem a ganhar destaque com os brinquedos. “Acredito que possa haver uma ou outra contratação para o fim do ano, mas será menor que no ano passado pelo que se tem observado”, destacou.

Nesta semana, a chamada Semana do Brasil, cujo objetivo é incentivar as vendas com promoções específicas de segunda-feira (2) até o dia 12, pode remeter a um aumento nas vendas, mas, segundo Furlan, nem todas as lojas aderiram a esta primeira edição. “Os comerciantes locais têm seu critério para aderir e oferecer promoções neste período. Isso vai variar muito conforme o estoque disponível, a troca de coleção e a possibilidade de o comerciante vender mais barato”, completou.

A novidade é que várias lojas devem abrir as portas neste sábado, dia 7, feriado de Independência. Os acordos coletivos já possibilitaram isso em boa parte da região.

Varejo reduz previsão de crescimento de 7% para até 2%

A crise de demanda percebida no Brasil, estimulada pela queda no emprego e na renda, atinge em cheio o setor varejista. O diretor de Planejamento e Gestão da Fecomércio-PR (Federação do Comércio do Estado do Paraná), Rodrigo Sepulcri Rosalem, observa que a economia em 2019 não se recuperou conforme o previsto, influenciada por uma série de fatores como a frustração pela demora na votação da reforma da Previdência, por exemplo, e a falta de recursos na própria máquina pública.

Por conta disso, as projeções mudaram de forma expressiva. “Acreditamos que a economia começará a reagir conforme as reformas forem caminhando, mas está mais devagar, a geração de empregos está ocorrendo de forma mais sutil… No início do ano tínhamos uma previsão de crescimento do varejo que até se manteve no primeiro trimestre. NO ano, esperávamos crescer no Paraná 7%, mas, como a coisa não foi andando nos meses seguintes, isso não vai acontecer”.

Hoje, a projeção varia de 2% a 3% para o ano no Paraná, talvez chegue a 4%, se houver algum fato mais excepcional neste último quadrimestre. “Entre os pontos positivos que podem contribuir está a PEC da Liberdade Econômica, que vai refletir em mais emprego e renda. Se for possível implementá-la de forma real, aí o crescimento pode chegar a 4%. Hoje, no cenário atual, o crescimento vai variar de 2% a 3%”, completou.

Mesmo assim, para Rosalem, também é imprescindível priorizar o pagamento ou a renegociação das dívidas com os recursos do FGTS. “É melhor pagar e voltar a ter crédito lá no fim do ano, isso é mais saudável para todos, para quem tem para receber e para quem está com dificuldades para pagar”, recomenda.