Policial

Pesquisa revela índice alarmante de estresse e insatisfação

Insatisfação, estresse e ameaças são rotina na vida de agentes penitenciários

Cascavel – No ano passado, o Sindarspen (Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná) elaborou um questionário e perguntou aos profissionais que representa como estão a saúde e as condições de trabalho nas penitenciárias do Paraná. Intitulado “Operários do Cárcere”, o levantamento apontou dados alarmantes de como se sentem esses trabalhadores quando estão na ativa e depois que deixam o plantão e seguem para o convívio familiar.

Hoje, nove em cada dez agentes em atuação no Paraná são homens. De todos os ouvidos pela pesquisa, mais de 2 mil profissionais, entre homens e mulheres, 44,3% têm de 41 a 50 anos, 54% são pós-graduados ou especialistas e apenas 0,1% não tem o Ensino Fundamental completo.

Quase 57% estão na profissão de 11 a 22 anos e 13,6% são os novatos, ocupam a função de um a três anos. Sete em cada dez agentes no Paraná são casados e 65% têm um ou mais filhos. E é justamente nestes dois últimos indicadores que mais pesam os dados estatísticos a seguir. “Perto da metade dos agentes que tenho contato ou convivo toma algum tipo de antidepressivo. A maioria de nós não sai com a família e vive o medo constante, como se estivéssemos fazendo algo de errado. Nós somos apenas os profissionais dentro da cadeia, mas vivemos uma vida de cárcere fora dela porque não sabemos o que nos espera da porta para fora de casa e da porta para dentro da penitenciária”, revela um agente.

As ameaças, verbalizadas ou não, são uma realidade constante na vida desses profissionais. Ainda de acordo com a pesquisa feita pelo SIndarspen, um em cada quatro agentes já foi ameaçado explicitamente. Um em cada cinco diz se sentir extremamente estressado com o trabalho e quase 15% não conseguem se desligar do trabalho após o fim do plantão, enquanto apenas 11% conseguem não misturar a vida pessoal com a familiar e outros 10% reconhecem que o trabalho exerce uma influência bastante negativa em sua vida familiar.

Porém, em um questionamento direto sobre a influência do trabalho na vida pessoal, metade se mostrou muito insatisfeita ou insatisfeita com os reflexos que um ambiente exerce sobre o outro. “O agente é um só. Ele vive uma vida que não consegue se libertar totalmente dela depois que sai do trabalho. Essa pressão provocada pelo ambiente, pela insegurança e pela sobrecarga resultam nisso”, reforçou o agente.

Proteção individual

Quanto à salubridade do ambiente onde atuam, 54% dos agentes penitenciários se disseram muito insatisfeitos e sete em cada dez deles reconhecem que há muitas falhas no fornecimento ou disponibilidade de equipamentos de proteção individual. “Não temos equipamentos necessários para fazer os procedimentos, basta ver como é que começou a última rebelião. Um dos colegas estava trabalhando nos reparos, a cerca elétrica não funcionou, os presos fizeram uma pirâmide humana e o renderam. Se tivesse EPIs [Equipamentos de Proteção Individual] e condições de salubridade, situações como essa, em que colegas nossos foram feitos reféns por quase dois dias, não teriam ocorrido. É uma vida de terror de se sentir ameaçado o tempo inteiro”, seguiu outro agente.

“Nossos agentes não são reféns somente durante uma rebelião, nós somos reféns o tempo inteiro”, denuncia a presidente do Sindarspen, Petruska Niclevisk Sviercoski.

“Nossos agentes não são reféns somente durante uma rebelião, nós somos reféns o tempo inteiro” (Presidente do Sindarspen, Petruska Niclevisk Sviercoski)

Ambiente de trabalho desagrada seis em cada dez agentes

Quase 60% dos agentes ouvidos estão muito insatisfeitos com o ambiente de trabalho e um percentual idêntico está insatisfeito ou muito insatisfeito com a autônima – ou a falta dela – para trabalhar. “Não temos autonomia alguma, para tudo dependemos do Depen ou da direção, às vezes um procedimento mais simples que poderia ser adotado pelos agentes do plantão não pode ser feito sem comunicar ou pedir autorização”, denuncia um agente penitenciário.

Ao menos 85% dos agentes penitenciários estão insatisfeitos ou muito insatisfeitos com a política de recursos humanos, 72% avaliam que não há oportunidades no ambiente de trabalho e 90% estão descontentes com as capacitações que deveriam ser oferecidas.

O levantamento

A pesquisa que resultou no informativo Operários do Cárcere teve como objetivo dar voz a esses profissionais e revelar à sociedade a realidade vivida dentro e fora das cadeias.

Dos quase 3 mil sindicalizados no Sindarspen em todo o Paraná, foram aplicados 960 questionários em nove cidades onde há unidades prisionais e 861 questionários foram validados para esses dados estatísticos. “Este levantamento mostra a realidade que estamos vivendo há anos. Nada começou agora e as tragédias que têm acontecido são todas anunciadas”, reforça a presidente do Sindarspen, Petruska Niclevisk Sviercoski.

Rebelião na PEC: Terror anunciado

Cascavel – No início de novembro, os paranaenses acompanhavam estarrecidos mais uma rebelião em penitenciária estadual que ganhou repercussão nacional.

A PEC (Penitenciária Estadual de Cascavel) foi tomada, pela segunda vez em três anos, por pelo menos 500 dos quase mil presos no dia 9 de novembro. Eles destruíram toda a estrutura, provocaram mortes – oficialmente se fala em uma, mas quem estava lá dentro garante que pelo menos dois presos foram assassinados pelos próprios companheiros – e 28 presos feridos e outros três agentes penitenciários.

Na linha de frente da ação dos rebelados estava, mais uma vez, os agentes penitenciários. Três foram feitos reféns, dois deles trabalhavam no regime PSS (Processo Seletivo Simplificado).

Um deles resgatado foi retirado pelo Pelotão de Choque na primeira noite do motim enquanto era violentamente agredido. Sofreu várias fraturas e precisou ser internado. Um segundo agente ficou em poder dos presos por mais de 24 horas e o outro só foi liberado no fim da rebelião, após 43 horas de um terror que já havia sido anunciado. “Eu acredito que esta rebelião começou na primeira marretada que destruiu o cadeião da 15ª Subdivisão Policial, em dezembro do ano passado”, disse, durante o motim, o advogado do Sindarspen (Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná), Jairo Ferreira Filho.

Na época, todos os 500 detentos foram levados para a PEC que havia acabado de passar pela reforma após a destruição de 80% do complexo na rebelião de agosto de 2014.

Clima tenso

A situação dentro da PEC continua tensa. Com o presídio destruído, os presos se apertam, em um espaço de 0,6 metro quadrado para cada um, durante 24 horas por dia. Quase 800 presos estão amontoados em duas alas que, apesar de cobertas, não têm estrutura para comportá-los. Por dias eles ficaram somente de cueca, sem acesso a roupas, cobertores e colchões, além de terem o local das refeições prejudicado e um espaço minúsculo para a higiene pessoal, o qual todos compartilham.

As visitas estão suspensas e só devem ser retomadas assim que as reformas forem concluídas, mas não há prazo legal para que isso ocorra. “Eles [detentos] estão extremamente revoltados, estressados. São muitos presos de facções criminosas muito próximos uns dos outros. É mais uma vez uma bomba-relógio”, alerta um agente.

O assunto também preocupa a OAB: “Temos informações de que uma nova rebelião pode começar a qualquer momento pelas condições que os presos se encontram lá. Esse é o nosso maior temor”, afirmou o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em Cascavel, Charles Daniel Duvoisin.