Opinião

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Por elson Valente

O Enem vive um tempo exótico

O Enem nasceu com um formato, mas se transformou em outra coisa. Ele nasceu para ser uma prova de avaliação das competências dos jovens, mas não deu certo. Em seguida, tentou-se vender a ideia de que é uma prova seletiva, um vestibular barato. E ficamos com esse troço que ninguém sabe o que é. A ideia de ter uma forma simplificada de ingresso à universidade é bem-vinda, mas isso não serve para todos os estudantes do ensino médio.

Se esses alunos não conseguem êxito no concurso de habilitação, com os conhecimentos amealhados nas escolas, é a prova concreta de que o ensino que lhes foi ministrado era de baixo nível.

É preciso trocar de modelo por algo que venha efetivamente a funcionar, sendo notável a ideia de valorizar a educação média. Os exames parcelados, a cada ano, somando resultados para uma avaliação final parecem-nos o que de melhor foi sugerido, dividindo com mais inteligência o esforço dos alunos, além de obrigar as escolas a uma distribuição mais adequada da carga de conhecimentos a ser exigida dos que a ela têm acesso. O assunto é muito rico, instigante, e ainda será objeto de muita discussão pelas “autoridades educacionais” do País.

Quando se debate o que deve ser lecionado aos nossos alunos, a partir de uma nova concepção de currículo, a variedade é imensa. Na discussão em torno do assunto, a imaginação é o limite. Chegamos ao absurdo de ler propostas de cortar episódios como a Inconfidência Mineira, o Brasil Império e a revolução Farroupilha sob o pretexto de que não contêm elementos indígenas ou afrodescendentes em número expressivo. Querem reescrever a nossa história. Alguns professores defenderam a tese de que devemos abandonar os estudos das nossas matrizes eurocêntricas, o que atingiria a língua portuguesa, a sua literatura, e também a história do Brasil. Como abrir mão de tanta riqueza cultural?

A briga pelo aperfeiçoamento da educação brasileira não se limita mais a meia dúzia de abnegados. Hoje, há o generalizado convencimento de que é preciso mudar e para melhor. Os discursos não são originais e esperar por milagres improváveis é deixar o sistema caminhar para um nó inexorável. Quem ganharia com isso?

A ser verdade o que foi proclamado em Brasília, ninguém mais poderia ser escritor, dando asas à imaginação. Só se poderia escrever sobre vivências claras, com o evidente abandono de tudo o que pudesse privilegiar a criatividade. Ou seja, ninguém deve dar bola para a gramática e a ortografia.

Os conhecimentos de leitura e interpretação não passam de precários. Como pretender alunos críticos, reflexivos e investigativos, se lhes falta o essencial, que é o domínio da língua portuguesa?

Especialistas em educação apontam erros mais frequentes anotados nas provas do Enem: 1. Falta de adequada ordenação de ideias, o que prova não ter o aluno o hábito de escrever; 2. Falta coerência e coesão nos textos; 3. Inadequação ao tema proposto (por falta de familiaridade com o tema indicado, o aluno foge para outro mais confortável); 4. Dificuldade em estruturação de parágrafos; 5. Erros de concordância nos tempos verbais, fragmentação da frase, separando sujeito do predicado por vírgula, utilização equivocada de verbos e pronomes, o que em alguns casos leva até a prejudicar a compreensão do texto.

Se os alunos têm dificuldades de escrever e expor com clareza suas ideias é porque sua cota de informação e leitura é mínima, para não dizer inexistente.

Assim, são criados os fundamentos literários para trabalhar o lirismo, a narrativa (conto, romance, epopeia etc) e outros tipos, como as memórias. Identificar o gênero é um primeiro e fundamental exercício, a que se deve somar o exame da estrutura da narrativa: enredo, personagem, tempo, ordem de relato, suspense, apresentação e desfecho.

As escolas brasileiras têm um punhado de papéis reunidos sob o nome de “proposta político-pedagógica” (PPP), seja lá o que isso queira dizer: começa com uma frase do Paulo Freire e termina citando Rubem Alves. Porque no Brasil o que importa é acessório. O legal é colocar xadrez na escola, é ensinar teatro.

A liberdade de pensamento está contida na Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, inciso IV, considerada como um direito fundamental. Além disso, é corroborada com o dispositivo 220 também da Carta Magna que reza: “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nessa Constituição.”

Faz parte da natureza do ser humano a comunicação com seus semelhantes. É normal que as pessoas exponham suas ideias em rodas de amigos, ou mesmo em assuntos profissionais. Quando a pessoa expressa seus pensamentos está, na verdade, mencionando suas opiniões, convicções sobre qualquer assunto, seja esse assunto de importância ou de valor, ou sem valor relevante. Trata-se, pois, da liberdade de expressão do pensamento.

O pensamento é um direito totalmente livre, cada pessoa pode pensar e refletir sobre o assunto que quiser e ter a opinião que bem entender. Assim, ninguém pode proibir alguém de pensar, mesmo que suas ideias sejam as mais absurdas possíveis, visto que estamos falando do foro íntimo da pessoa, o mais íntimo de todos, o pensamento, que reflete o que cada um sente e esconde, os mais variados desejos e segredos.

No entanto, no momento em que esse pensamento é expressado, da maneira que for, e atingir a honra de outra pessoa ou extrapolar os limites do aceitável, o direito surge para defender aqueles que se sentirem prejudicados, material ou moralmente, pelas opiniões ou reflexos do pensamento dos outros. Nesses termos, as consequências podem ser tanto relacionadas ao direito civil e, até mesmo, ao direito penal.

A boa interpretação deve ser buscada na combinação dos vários meios apontados. A interpretação, por um só aspecto, via de regra, conduz a conclusões defeituosas e errôneas.

Sua função é dizer se a educação é legal ou ilegal, conforme sejam ou não cumpridos os prazos e as formalidades, fazendo com que a legislação passe a ter antes, um caráter punitivo do que reforçador.

A legislação educacional sempre foi tema de preocupação para diversos segmentos da organização e administração escolar do sistema educacional brasileiro.

A educação brasileira vive um tempo curioso, para não dizer exótico. As novidades se sucedem – e o ensino está cada vez pior. Além disso, há o desprezo pelas regras gramaticais e ortográficas, como se houvesse um desejo recôndito de prestigiar a ignorância.

 

Nelson Valente é professor universitário, jornalista e escritor