Opinião

O custo da crise

Por Carla Hachmann

Com índices de desemprego assombrosos e taxas de inadimplência recordes, a crise econômica que o Brasil atravessa nos últimos cinco anos provoca consequências alarmantes. Uma delas é a perda do poder aquisitivo, outra é o aumento da desigualdade social. Prova disso é que o País registra novo recorde na diferença de rendimentos entre pobres e ricos.

Conforme a série histórica da PNADC (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua) do IBGE, iniciada em 2012, nunca foi tão grande a lacuna entre os rendimentos obtidos pelo 1% mais rico do País e dos 50% mais pobres quanto no ano passado. Os mais ricos ganham 33,8 vezes a mais que os mais pobres. No topo, o rendimento médio foi de R$ 27.744; na metade mais pobre, de R$ 820.

Esse buraco entre ambos aumentou porque o rendimento real do trabalho da metade mais pobre caiu ou subiu bem menos do que o dos mais ricos, sobretudo nos últimos anos.

De 2017 para 2018, por exemplo, o ganho dos 10% mais pobres caiu 3,2% (para R$ 153 em média) enquanto o do 1% mais rico aumento 8,4% (para R$ 27.774).

Outro fator importante é a queda de domicílios atendidos pelo Bolsa Família, de 15,9% no total do País em 2012 para 13,7% em 2018. E isso não significa que essa diferença “ganhou mais” e por isso saiu do programa.

Para se ter uma ideia da concentração de renda: os 10% da população com os maiores ganhos detinham 43,1% da massa de rendimentos (R$ 119,6 bilhões). Na ponta debaixo, os 10% mais pobres dividiam apenas 0,8% da massa (R$ 2,2 bilhões). Isso no ano passado.

Os dados se agravam na análise regional, com grande concentração no sudeste, mas uma comparação chama atenção: o Sul, com cerca da metade da população do Nordeste, tem massa de rendimentos maior do que a dos nove estados nordestinos (R$ 47,7 bilhões ante R$ 46,1 bilhões).

Ou seja, os mais pobres ficaram mais pobres e os mais ricos ficaram mais ricos.