Economia

Nem chineses vão pagar preço da carne, diz CNA

De acordo com o presidente da CNA, o ajuste será feito pelo consumidor e pelo mercado

Nem chineses vão pagar preço da carne, diz CNA

Brasília – O preço da carne bovina chegou a um patamar que até mesmo os chineses não estão dispostos a pagar, o que deve provocar um recuo no valor, inclusive no Brasil, segundo a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

Os preços médios da carne bovina importada pela China saíram de US$ 4.600 por tonelada para US$ 5.200 por tonelada, com picos próximos aos US$ 6 mil por tonelada. “São valores recordes que nem os chineses estão dispostos a pagar. Por isso, haverá o ajuste”, disse o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi.

Mas o presidente da CNA, João Martins, alertou que os preços não voltarão aos patamares passados: “Ninguém espera que voltem os preços de 60 dias atrás”, disse Martins em evento de balanço anual da entidade, em Brasília. Até a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse semana passada que o preço da carne não volta ao patamar anterior.

No período citado por Martins, a arroba do boi em São Paulo subiu cerca de 45%, de uma média de R$ 160 para R$ 230, e boa parte desse reajuste chegou ao varejo. A disparada ocorreu depois do aumento das importações chinesas, da redução na oferta brasileira e do crescimento do consumo no mercado interno.

De acordo com o presidente da CNA, o ajuste será feito pelo consumidor e pelo mercado. Ele lembrou que o avanço favorece os pecuaristas, já que os preços estavam “achatados e custo de produção em alta”. Além do aumento nas importações chinesas, a redução na oferta brasileira e o crescimento do consumo no mercado interno motivaram a disparada no preço da carne bovina.

Lucchi afirmou que não há possibilidade de falta de carne no mercado interno, pois o volume exportado do produto em novembro, pico das vendas, correspondeu a 22% a 23% da oferta total. “Se tomarmos esse volume como base, vamos exportar 28% da produção em 2020. Mas a capacidade de reação do pecuarista é grande e vamos ter aumento na oferta”, explicou.

Este ano houve um aumento de 39,5% das exportações da carne bovina brasileira para a China, mercado que representa 24,6% de todas as vendas do produto brasileiro. As vendas de suínos cresceram 49% para a China e as de frango avançaram 27,7%.

Segundo Lucchi, as carnes suína e de frango seguiram os aumentos “não tão proporcionais como o da bovina” e a entidade acredita que no início de 2020 haverá o ajuste também nesses produtos. “Normalmente, o consumo interno cai no início de cada ano. Isso está bem equalizado, porque a capacidade de resposta do setor produtivo é enorme.”

Grande mercado

A CNA avalia que a Ásia continuará como “um importante parceiro do agronegócio brasileiro” em 2020, com aumento de exportações e inclusão de novos produtos na pauta de comércio, como frutas, lácteos, produtos apícolas, cafés especiais e pescados.

Dos principais destinos de exportação do setor em 2019, três são asiáticos – China, Japão e Irã – e os outros são Estados Unidos e União Europeia. Esses cinco mercados responderam por 63% das vendas externas do setor.

O maior aumento observado foi para o Japão. De janeiro e outubro de 2019, o país importou do Brasil US$ 913,9 milhões a mais que no mesmo período de 2018. Outro destaque é a China, principal importador de carnes de frango, bovina e suína do Brasil. O país asiático enfrentou problemas de abastecimento, com a peste suína africana, e foi obrigado a importar proteínas animais de vários outras nações, principalmente do Brasil.

Em 2019, a soja em grão liderou o ranking das exportações brasileiras, com US$ 23,2 bilhões em vendas. Em seguida vieram celulose (US$ 6,56 bilhões), milho (US$ 5,92 bilhões), carne de frango in natura (US$ 5,5 bilhões), e carne bovina in natura (US$ 4,98 bilhões).