Agronegócio

Consolidada, piscicultura mira mercado externo

Apesar dos desafios comerciais e das exigências dos compradores, o Estado está de olho neste potencial filão

Foto: Divulgação Emater
Foto: Divulgação Emater

Nos últimos anos, a piscicultura paranaense tem avançado mais rápido que “rastro de lambari”. Porém, esse avanço tem relação com outra espécie, a tilápia. Originária do continente africano, com a ajuda dos produtores do Paraná, esse animal encontrou águas propícias para prosperar em território paranaense. Tanto que as 27 mil toneladas da espécie produzidas no Estado em 2010 saltaram para 123 mil toneladas em 2018, segundo dados da Associação Brasileira da Piscicultura. O Estado é o maior produtor do Brasil e contribui de forma decisiva para o país ocupar o quarto lugar mundial entre as nações que mais produzem a proteína.

O potencial nos próximos anos no País – e principalmente no Paraná – é de continuidade desse ritmo de crescimento. De acordo com Francisco Medeiros, presidente da Associação Brasileira da Piscicultura, o Estado lidera com folga a produção de tilápia utilizando tanques escavados na maioria das criações. No caso de usar lagos de usinas hidrelétricas, com tanques-redes, por exemplo, esse potencial sobe substancialmente. “Para se ter ideia, somente no Lago de Itaipu a capacidade de suporte para a criação de peixes é de 400 mil toneladas. Ou seja, o Estado tem como crescer muito utilizando os recursos hídricos já existentes”, aponta.

O incremento substancial na produção teria um propósito definido: aumentar o fornecimento além das fronteiras do Brasil.

Segundo Medeiros, existe um mercado de exportação a ser ocupado pelos paranaenses. “O mercado maior que podemos alcançar, entre todos, é o de exportação. E essa movimentação em busca dele já começou a acontecer. Nós tínhamos um problema cambial até um tempo atrás, pois, com o dólar na casa dos R$ 3, nós perdemos a competitividade. Mas, como nos últimos semestres esse cenário mudou, vender para fora voltou a ser atrativo”, aponta. “Nesse primeiro momento, quem está aproveitando são aquelas empresas que já estavam exportando. Mas há espaço para outras organizações apostarem nesse negócio”.

Em Palotina

A C.Vale, cooperativa com sede em Palotina, abate 80 mil tilápias por dia. Os planos são de chegar a 90 mil/dia ainda este mês. A longo prazo, a intenção é alcançar as 150 mil tilápias processadas diariamente.

Segundo o presidente da cooperativa, Alfredo Lang, além da expansão, o mercado internacional também está na mira da organização, apesar de haver alguns entraves a serem vencidos. Hoje as negociações esbarram principalmente em preferências alimentares e questões sanitárias.

“Os norte-americanos, por exemplo, preferem consumir carne de tilápia resfriada. Então, temos que viabilizar uma logística diferenciada, transportar de avião, se quisermos vender para eles. A Europa está impondo ao peixe criado em cativeiro as mesmas restrições do peixe capturado em mar aberto, que fica em barcos por muitas horas. O peixe de cativeiro chega vivo ao abatedouro, sem riscos à qualidade da carne. É uma questão de negociação que envolve as áreas técnica e diplomática do governo brasileiro. Normalmente, são negociações demoradas, mas precisamos ser persistentes e produzir o que o mercado externo quer consumir”, explica.

Oferta capacitada faz a diferença

Dentro da porteira, o planejamento para ampliar a produção e, consequentemente, o fornecimento para as indústrias está consolidado. Jean Bottini, produtor rural em Palotina, tem cerca de 1 milhão de tilápias em uma área de aproximadamente 17 hectares. A sua trajetória ajuda a entender o que vem acontecendo no setor.

No mercado há duas décadas, apenas há dois anos Bottini começou a trabalhar em um sistema de integração, inspirado nos modelos de aves e suínos, que tem turbinado a criação na região do Estado.

Um dos aspectos que mais têm feito a diferença, segundo o piscicultor, é o fato de haver uma proximidade maior com a assistência técnica. “Como eu trabalho há muitos anos no ramo, a gente acaba pensando que tem bastante conhecimento. Mas vê que há muitas novidades e procedimentos mais eficientes para determinados manejos. De 15 em 15 dias eu peso o peixe e informo à assistência técnica. Então, o técnico manda a tabela e acompanhamos o desenvolvimento de acordo com todos os critérios zootécnicos”, diz.

Nesse sistema integrado, Bottini é responsável pela infraestrutura (incluindo energia elétrica) e mão de obra (no caso dele, 13 funcionários que são treinados via cursos do Senar-PR). Os alevinos, a assistência técnica, a ração e os outros insumos necessários são fornecidos pela empresa integradora. O pagamento, no fim, é obtido por meio de uma fórmula que considera viabilidade e ganho de peso dividido pela conversão alimentar. “Quanto maior o número, mais você recebe. Também é considerada a conversão em filé nesse cálculo. Pegamos o peixe entre 20 e 50 gramas e entregamos com 900 para o processamento, peso ideal para a indústria e que dá o melhor resultado ao produtor”, revela.