Policial

Alerta máximo: Paraná investiga 41 vítimas traficadas

Tríplice fronteira é uma das principais portas de saída de mulheres, crianças e homossexuais levados para exploração

Alerta máximo: Paraná investiga 41 vítimas traficadas

Reportagem: Juliet Manfrin

Curitiba – Mulheres jovens, de 18 a 44 anos, atraentes, tanto de classe média baixa ou de famílias bem estruturadas em busca de um futuro melhor, atraídas por promessas de dinheiro fácil, uma vida glamourosa e reconhecimento profissional. Pode até parecer ilusório demais, mas essa ainda é a principal tática utilizada para atrair pessoas para o tráfico internacional de pessoas.

O agravante é que agora as quadrilhas estão atuando pelas redes sociais, quebrando barreiras físicas para o contato e o aliciamento. A interceptação ocorre com a análise de perfis, fotos mais ousadas, exposição extrema e quanto mais vulnerável a pessoa estiver mais facilmente se torna presa.

Somente no Paraná, órgãos de segurança confirmaram 41 registros de tráfico de pessoas em 2018 e pelo mundo foram pelo menos 50 mil, números que vêm aumentando ano após ano, também graças aos canais de denúncia mais articulados em rede e acessíveis.

Contudo, esse número é muito maior. Se considerados os casos somados pelos meios de informação e dos radares dos órgãos que investigam essas situações eles representam mais de duas centenas neste momento pelo Paraná, considerando os registros dos últimos anos. A maioria sem qualquer tipo de pista sobre o paradeiro das vítimas.

Esses assuntos são o mote do 3º Seminário de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e ao Trabalho Escravo realizado na capital do Estado desde ontem com programação que segue nesta quarta-feira (31).

O evento coincide com o Dia Mundial de Combate ao Tráfico de Pessoas, lembrado por todo o mundo ontem e é organizado pela Secretaria de Estado da Justiça, Família e Trabalho, em parceria com a Polícia Rodoviária Federal, na principal ação da campanha Coração Azul, da ONU (Organização das Nações Unidas) no combate e no enfrentamento ao tráfico humano.

Apesar de ser na capital, o evento tem um olhar bastante dimensionado à tríplice fronteira, onde se estima que a maior parte dos casos seja registrada no Paraná, considerando as regiões de Barracão e Santo Antônio do Sudoeste (fronteira com a Argentina) e de Foz do Iguaçu (a principal porta de saída), Guaíra e cidades próximas (fronteira com o Paraguai).

Exploração sexual

Além do tráfico de pessoas, que por si só é um crime de difícil identificação e de rastreamento – muitos casos nem sequer são investigados porque jamais são levados ao conhecimento das autoridades -, muitos registros de tráfico estão ainda associados a outros crimes: a exploração sexual e o trabalho análogo à escravidão. A estimativa é de que oito em cada dez traficados sejam levados forçadamente para exploração sexual.

Além das mulheres jovens, outro público que passou a ser olhado com potencial pelas quadrilhas, cujos coiotes ficam espalhados por todos os cantos do Paraná – muitos deles na região oeste justamente pela proximidade com a fronteira por onde as vítimas deixam o País sem deixar muitos rastros – que passaram a identificar também homens jovens, homossexuais e que podem ser cooptados para a prostituição, sobretudo na Europa.

Por outro lado, não são raros os casos de tráfico mesmo dentro do Brasil, quando a vítima é levada de uma região para outra e aí entra o importante papel da PRF, que atua nas rodovias, importantes caminhos para esse tipo de crime.

Programação do Seminário

Coube ao pesquisador do Centro Internacional para o Desenvolvimento de Políticas Migratórias, Maurício Carlos Rebouças, falar ontem sobre o tráfico de pessoas no Brasil e no mundo, suas principais evidências e características. No período da tarde, foram colhidos depoimentos e experiências de vítimas de tráfico para exploração sexual. Um deles foi trazido com exclusividade pelo Jornal O Paraná em março deste ano. Trata-se de uma jovem curitibana levada para a Ásia, onde seria vítima de exploração sexual. Ela não chegou a ficar em poder da quadrilha por lá e foi trazida de volta para o Brasil logo após sua chegada à China. Aliás, a China tem se tornado outro importante destino a mulheres e homens traficados do Paraná.

Já o procurador de Justiça Olympio de Sá Sotto abordou o tráfico de pessoas para fins de exploração sexual. Ele é coordenador do Centro de Apoio às Promotorias de Justiça de Proteção aos Direitos Humanos do Ministério Público do Estado do Paraná.

Silvia Cristina Xavier, coordenadora do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Sejuf/PR, participou da mesa redonda que tratou amplamente do tema: “Esse é um tipo de crime muitas vezes subnotificado. É preciso enfrentar o tráfico de pessoas porque ele existe, está próximo e é extremamente nocivo à sociedade”, alertou a coordenadora.

Isso porque os registros não param de crescer. Condição identificada principalmente a partir de 2017. Naquele ano, o Estado registrou 148 denúncias que resultavam em mais de 200 pessoas traficadas.

Apesar de as quadrilhas agirem de forma independente, não são incomuns os casos em que elas trocam informações entre si e até mesmo de vítimas. Com uma capilaridade considerada gigantesca, há cerca de dois anos o tráfico de crianças e adolescentes também ganhou novas proporções no Estado. Estima-se que até quatro em cada dez pessoas traficadas tenha menos de 18 anos, muitas inclusive cooptadas na porta das escolas e em áreas de convívio comum, como parques e shopping center.

No ano passado, a coordenadora do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Sejuf/PR alertou para situações identificadas, inclusive, em igrejas.


Denúncias

Para denunciar as suspeitas de tráfico de pessoas, tanto do desaparecimento de suspeitos quanto de um possível envolvimento de aliciadores, entre em contato pelo telefone 181. Sua identidade será preservada.