Agronegócio

25% dos casos de ferrugem do País estão no oeste do PR

Corbélia – As irregularidades observadas no campo numa varredura anual voltada para o cultivo da safra de verão 2018/2019 feita pelo escritório regional do Crea-PR (Conselho Regional de Engenharia e Agricultura do Paraná), com sede em Cascavel, pode ter reflexos em dados preocupantes no campo.

Em 2017, em toda a regional – com abrangência de 52 municípios – foram realizadas 490 fiscalizações em empreendimentos agrícolas e em mais de 90% das fiscalizações foi identificado algum tipo de irregularidade. Cerca de quatro em cada dez eram por falta de responsável técnico, o que configura exercício ilegal da profissão pelo proprietário.

Neste ano os dados são ainda mais alarmantes. Houve um aumento nas fiscalizações em 10%, somando próximo de 550 propriedades, e em mais de 95% delas havia irregularidades. Em 37% dos casos não existia responsável técnico. Na prática, isso não indica que 95% das propriedades no oeste estão com problemas de orientação técnica ou pendências afins, mas, como a autarquia tem um mapeamento de onde atuam os 2,3 mil profissionais credenciados a ela, as fiscalizações têm sido concentradas nas que indicam descumprimentos de determinações legais, justamente por não contarem com acompanhamento técnico especializado.

Um dos perigos de não ser assistida por um profissional é a disseminação mais fácil de doenças. E, no campo, essas estatísticas podem ser traduzidas em perdas.

Segundo o Consórcio Antiferrugem da Embrapa Soja, o oeste do Paraná concentra um em cada quatro casos de ferrugem asiática neste ciclo. Em todo o País houve até agora 62 confirmações em lavouras comerciais, das quais pelo menos 15 estão no oeste, número sete vezes maior que o registrado no mesmo período do ano passado. Situação que sinaliza para outros motivos além dos fatores climáticos para a proliferação dessa que é considerada a doença mais letal já identificada em ação nas lavouras da soja, cujas perdas que podem alcançar a totalidade da produção.

O município com maior número de casos até agora é Corbélia, com quatro diagnósticos positivos. “Hoje a ferrugem pode ser considerada a doença mais agressiva da soja, tanto que a aplicação preventiva de fungicida já está no calendário do agricultor”, explica o agrônomo Nei Omar, da Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná).

Uma doença altamente letal

Para a gerência do Crea-PR, “dispensar uma assessoria qualificada pode levar ao prejuízo ou a ações que minimizam os ganhos com a lavoura”.

A intensificação das fiscalizações envolve desde as propriedades rurais até as plantas industriais, como cooperativas, por exemplo. O objetivo é verificar a atuação e a habilitação do engenheiro agrônomo nas entidades. “A importância do engenheiro agrônomo na propriedade rural vai desde o planejamento da propriedade, a análise do solo, a verificação de possíveis deficiências de nutrientes, a recomendação de correção no plantio, a verificação de possíveis doenças e pragas, as recomendações dos agroquímicos para combater e controlar essas pragas, a colheita, o armazenamento e a comercialização da safra, até a regulagem dos maquinários”, destaca o gerente da regional do Crea-PR em Cascavel, Geraldo Canci.

“No caso da ferrugem, ele contribui com monitoramento, orientações sobre os melhores horários para aplicação do fungicida, dosagem, receituário. Ele é o profissional qualificado para isso”, completa o gerente ao reforçar que a “importância da fiscalização está em fazer cumprir a legislação vigente no que se refere à atuação dos profissionais registrados no Conselho, com o objetivo de impedir que pessoas sem habilitação ou leigas exerçam atividades que são regulamentadas e que exigem conhecimentos e habilidades adquiridos durante a formação acadêmica.

Ferrugem: realidade pode ser mais preocupante

Segundo pesquisador da Embrapa Soja, o agrônomo Rafael Moreira, os números expressados pelo mapa da ferrugem certamente são ainda maiores. Isso porque o Consórcio não consegue ter uma abrangência precisa em todos os municípios e os números lançados dizem respeito às informações repassadas por laboratórios parceiros como cooperativas, repartições públicas que fazem o monitoramento e o apoio técnico. “Temos mantido um cuidado de lançar apenas os casos confirmados, mas certamente há mais registros do que constam no mapa, não temos como acompanhar tudo”, reforçou.

Para o pesquisador, entre os fatores que também podem ter influenciado no aparecimento mais cedo dos casos da doença está a antecipação do fim do vazio sanitário. Ele se encerraria no dia 15 de setembro no Paraná, mas foi trazido para o dia 10. “Então no dia 10 de setembro já era possível ter a planta emergida, o primeiro caso em lavoura comercial foi no distrito de Porto Mendes, em Marechal Rondon, e ali, certamente, o produtor cultivou no início daquele mês. (…) No Paraná se cultiva a soja mais cedo, então aqui os casos também aparecem mais cedo”.

Questionado se uma das alternativas para acomodação dos registros do fungo seria a adoção fiel do período do vazio, que ocorre durante 90 dias de junho a setembro, o pesquisador reforça que sim.

Além disso, ele destaca a identificação da presença do fungo em cultivos considerados voluntários ainda no período do vazio. São essas plantas que servem como hospedeiras do fungo que se prolifera entre as lavouras comerciais no cultivo da safra propriamente dito.

A doença pode erradicar lavouras inteiras e, apesar do aumento expressivo dos casos semana após semana, o Deral (Departamento de Economia Rural) ainda não estima perdas provocadas pela doença no oeste. São 1,1 milhão de hectares cultivados que devem produzir 3,9 milhões de toneladas de soja.