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Simeone, o técnico que mudou a história do Atlético de Madrid

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Dentro de campo, Zinedine Zidane foi um jogador incomparavelmente superior a Diego Simeone. Mas uma das grandes estrelas da final da Liga dos Campeões deste sábado, às 15h45m (de Brasília), no estádio Giuseppe Meazza, em Milão, na Itália, é o treinador do Atlético de Madrid, time que tentará impedir a 11ª conquista europeia do Real Madrid.

FINAL DA LIGA DOS CAMPEÕES 24-05

Idolatrado pela torcida numa proporção superior até ao que Cristiano Ronaldo representa para o Real, Simeone tentará fazer o seu Atlético conquistar o título que lhe falta e escapou nos segundos finais da decisão de dois anos atrás, quando Sérgio Ramos empatou a partida no Estádio da Luz, em Lisboa, aos 48 minutos do segundo tempo, e o Real acabou conquistando La Décima com a goleada de 4 a 1 construída na prorrogação.

A Liga dos Campeões é o título que falta ao Atlético de Simeone, que em cinco anos fez o clube voltar a desafiar os gigantes da Espanha e da Europa e conquistar quase todos os títulos possíveis. Foi campeão espanhol (2014), da Copa do Rei (2013), da Liga Europa (2012), da Supercopa da Europa (2012) e da Supercopa da Espanha (2014). Um feito enorme em um país que tem duas superpotências mundiais como Real Madrid e Barcelona. A título de comparação, desde que Simeone chegou ao clube, o time catalão levantou dez taças, enquanto o rival da cidade foi campeão seis vezes. A diferença é que ambos tiveram o gosto de serem campeões europeus, algo que o Atlético tentará conquistar em sua terceira decisão (a outra foi em 1974).

Se é inegável o papel de Zidane nessa caminhada do Real Madrid até a final, pois o treinador francês pacificou o vestiário, fez os jogadores exibirem um futebol minimamente coletivo e deu ao conjunto uma cara de time de futebol que inexistia no curto período de Rafa Benitez, há uma unanimidade em apontar Simeone como o técnico que transformou o Atlético de Madrid.

Ele é para o Atlético o que Guardiola foi para o Barcelona. Incluindo o fato de ter deixado uma marca no estilo de jogo

– Ele é para o Atlético o que Guardiola foi para o Barcelona. Incluindo o fato de ter deixado uma marca no estilo de jogo. Simeone é o clube. A palavra dele tem mais peso do que a de qualquer outro no Atlético. Incluindo o presidente ? analisa o jornalista Ladislao Moñino, do ?El Pais?, de Madri.

A comparação com Pep Guardiola é possível, ainda que ambos tenham adotado posturas diametralmente opostas na formação dos seus times. Enquanto o Barcelona de Guardiola, e também o Bayern de Munique que ele dirigiu até o fim desta temporada, são times que apostavam no futebol ofensivo e no controle obsessivo da posse de bola, Simeone é o guardião de um estilo que pode ser visto por muitos como feio. Um jogo baseado num sólido sistema defensivo, muita marcação e velocidade nos contra-ataques. O Atlético joga por uma ou duas bolas e aposta no erro do adversário. É um time que faz do sacrifício uma virtude para alcançar os seus objetivos.

E tem conseguido. Só nesta Liga dos Campeões eliminou o Barcelona nas quartas e o Bayern na semifinal. Dois times mais talentosos e mais poderosos financeiramente do que a equipe colchonera. Não houve um momento no mata-mata em que o time não tivesse sofrido. Incluindo a disputa por pênaltis nas oitavas de final contra o PSV, campeão holandês. Mas cada vitória dramática representava uma reafirmação do ?cholismo? como estilo que é a cara do Atlético.

– Os grandes times do Atlético sempre jogaram dessa maneira. Sempre foram aguerridos, jogavam no contra-ataque, foram passionais. Ele sempre foi o time mais sul-americano da liga espanhola ? conta o editor do diário ?As?, de Madri, Fernando Kallás, que diz que Simeone é o grande responsável pela transformação do clube.

– Antes de Simeone, o time conseguiu ganhar uma Liga Europa (2010), mas depois continuou sendo irregular como todo time médio da Espanha. Ele conseguiu fazer o mais difícil, que é manter uma regularidade vencedora onde ele é muito inferior economicamente, esportivamente e em infraestrutura.

MAESTRO DO CALDERÓN

De fato, fazer um time como o Atlético desafiar anualmente os gigantes espanhóis é um tremendo feito. A título de comparação, mesmo hoje nesta fase de sucesso, o Atlético é o 11º time do mundo em valor de mercado. Seu elenco é avaliado em ? 363,5 milhões (R$ 1,4 bilhão), segundo o site ?Transfermarkt?, quase a metade do Real Madrid, cujo elenco é avaliado em ? 697,8 milhões (R$ 2,8 bilhões). E bem inferior ao Barcelona (? 693 milhões ou R$ 2,7 bilhões) e ao Bayern (? 572,6 milhões ou R$ 2,3 bilhões), o segundo e o terceiro colocado da lista.

Já o último levantamento da ?Forbes? das equipes esportivas mais ricas do planeta, incluindo todos os esportes, mostra Real Madrid e Barcelona nas duas primeiras posições, com US$ 3,4 bilhões (R$ 12,3 bilhões) e US$ 3,2 bilhões (R$ 11,5 bilhões), respectivamente, enquanto o Atlético não aparece nem entre os 50 mais ricos.

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Por isso que aplicação tática, garra, luta e resiliência são a marca do Atlético de Simeone. Além da comunhão com a torcida que vê o seu treinador como um Deus. E o argentino sabe disso. Tanto que ele atua como uma espécie de maestro do Vicente Calderón.

– Para os torcedores ele é um Deus. Eles o idolatram por tudo o que o Atlético está passando. E há uma ligação muito grande entre ambos. Quando Simeone nota que a equipe não está bem, agita os braços para o público e a torcida responde imediatamente. Não há uma partida em que a torcida não responda a Simeone ? conta Mañino.

Em Milão, o Atlético não contará com um estádio inteiro a favor, mas muitos torcedores viajaram para a cidade italiana com a esperança de verem o seu clube ser campeão pela primeira vez. Entre eles, está Javier Casado, presidente da torcida Cholo Simeone de Morata de Tajuña, pequeno município situado na grande Madri. Casado esteve no Vicente Calderón em todos os jogos do Atlético nesta temporada. Para ele, Simeone é ?o treinador mais importante da história? do clube.

– Estamos num ciclo (de vitórias) que nunca estivemos. O Atlético está entre as equipes mais poderosas do mundo e, consequentemente, da Espanha, ganhamos todos os títulos e vamos jogar nossa segunda final de Liga dos Campeões em três anos.

Cholo representa muito bem os valores do Atlético de Madrid de coragem, trabalho e luta

A torcida foi criada na temporada 1995-96, quando o Atlético conquistou o doblete (Copa do Rei e Campeonato Espanhol) e o então volante Simeone era idolatrado pelos torcedores pelo futebol aguerrido que exibia em campo. Depois que o volante deixou o clube, o Atlético só voltaria a ser campeão espanhol em 2014, quando o argentino já era treinador do time.

– Decidimos criar uma torcida com o nome de Simeone porque Cholo representa muito bem os valores do Atlético de Madrid de coragem, trabalho e luta. E com o tempo ficou claro que não estávamos equivocados ? disse Casado, que destaca a goleada de 4 a 0 sobre o Real Madrid na temporada passada como um dos momentos mais memoráveis da atual passagem do argentino.

GRIEZMANN, O SÍMBOLO

O Atlético não perdeu para o Real nesta temporada, mas enfrentará um rival que só sofreu cinco derrotas em 51 partidas. O time de Zidane marcou 140 gols (média de 2,74 por jogo) e sofreu 36 (média de 0,70). E tem Cristiano Ronaldo, autor de 51 gols nesta temporada e em busca de quebrar o próprio recorde de gols em uma única edição da Liga dos Campeões. Ele tem 16 gols. Sua marca é de 17 na temporada 2013-14.

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O Atlético exibe números um pouco mais modestos. Sofreu dez derrotas em 56 jogos, marcou 88 gols (média de 1,57) e sofreu apenas 30 (média de 0,53), comprovando que a defesa é a sua grande virtude.

Mas o time também tem talento a exibir, como o francês Griezmann. O atacante de 25 anos pode ser considerado o símbolo do Atlético na atual temporada. Boa parte dos seus 32 gols foram decisivos. Sete deles, foram marcados na Liga dos Campões. Incluindo um em Munique na derrota de 2 a 1 para o Bayern que foi fundamental para a classificação do time para a final. No Atlético de Simeone, Griezmann virou uma estrela e um exemplo de sucesso que um jogador alcança quando compra a ideia de Simeone.

– Quando ele chegou ao Atlético, diziam que lhe faltavam pulmões. Hoje é uma estrela da equipe ? conta Moñino, que exalta a intensidade do treinamento de Simeone. ? No trabalho de Simeone, se você crê, você pode (chegar lá) e deve lutar até as últimas consequências (para atingir o objetivo). Ele faz uma exigência brutal dos seus jogadores. Quando você vê um treinamento do Atlético, pensa que eles são lutadores. Nem todos aguentam. Jogadores como Jackson Martinez, foram embora. Ele elevou os jogadores a um plano físico superior ao que tinham em qualquer equipe normal. Não há um time no mundo que treine com a intensidade do Atlético.

Fernando Kallás também vê Griezmann como um símbolo do Atlético atual, que vê como um time mais trabalhador e resiliente, enquanto o que chegou à final há dois anos era mais brigador e truculento.

– Se você rever os dois jogos contra o Bayern, quando o Bayern saia com a bola, ele parecia um Mascherano marcando. É impressionante a aplicação tática e como os jogadores de frente ajudam na marcação. Como não tem a qualidade de um Real Madrid, Barcelona ou Bayern, ele corre o tempo todo ? diz Kallás, destacando que mesmo com a mudança de jogadores ao longo das temporadas, o Atlético consegue se manter lutando por títulos.

? Por isso que o sucesso tem muito a ver com a tática. Aqui na Espanha, o bloco é uma palavra muito repetida. Fala-se do bloco do Simeone e que o Atlético funciona como um relógio suíço. Precisa de cada peça para o conjunto funcionar ? afirmou.

Será esse sistema quase perfeito na defesa que o Real terá que superar para conquistar mais um título europeu. Mas do outro lado, haverá um grupo sedento por vingança (cinco jogadores estavam em campo na final de 2014) e pronto para dar a vida pelo seu treinador e para entrar em definitivo na história do Atlético.