Não era domingo, não tinha foguetes nem bandeiras, mas o torcedor foi ao
Maracanã e o Brasil foi campeão. O estádio, lotado, reviveu as grandes decisões,
que começam no trajeto apertado de metrô e trem, passam pelas filas ? nem foram
tão longas desta vez, mesmo com as revistas de segurança ? e terminam no coro de
?O campeão voltou?. A alma foi lavada antecipadamente pela chuva que caiu horas
antes do jogo, cujo auge foi o hino nacional cantado a uma só voz.
Até chegar ao carnaval em que se tornou o estádio após o pênalti cobrado por
Neymar, o torcedor sofreu, e muito. Mas cumpriu bem o seu papel. Transformou as
vaias, tão criticadas pelos estrangeiros, em cântico de guerra. Bastava um
alemão tocar na bola, na prorrogação, para subir a voz num tom absurdamente
alto. Não faltou fôlego para segurar o polêmico ?uhhh? por até um minuto.
Os torcedores estavam tão cientes da própria força para ?vingar? os 7 a 1 da
Copa do Mundo e ser parte da conquista histórica do ouro olímpico, que limaram
as canções mais patrióticas e clichês, consideradas de má sorte. O sonoro ?Ah,
eu acredito!? até tentou fazer frente pouco antes da disputa de pênaltis, mas
foi prontamente substituído por ?Uh, sai do chão/quem é pentacampeão!?.
De alguma maneira, um reserva da seleção alemã, Robert Bauer, entendeu as
provocações da torcida, que lembrava que o Maracanã não era o Mineirão. Ao sair
do gramado, antes da premiação das medalhas, o defensor mostrou o número 7 com
as mãos para tentar calar os corinhos.
A festa teve a olímpica presença do velocista Usain Bolt, convidado por
Neymar, que assistiu a todo o tempo regulamentar de um camarote. O jamaicano
fotografou e fez vídeos do show das arquibancadas, que postou em redes sociais.
Não viu o camisa 10 cobrar o pênalti decisivo, pois deixou o estádio rumo ao
Engenhão aos 90 minutos, a fim de receber seu nono ouro, o dos 4x100m.
Os últimos acordes do verso ?Pátria amada, Brasil? foram a deixa para igualar
torcedores e jogadores, e o craque Neymar se misturar a eles na arquibancada.
Todos deixaram o Maracanã, como cantaram nas rampas de saída, com a certeza de
que ali não era o Mineirão. Não era domingo, mas foi como se fosse.
E a festa se espalhou pela cidade. Em um dos dias mais cheios do Boulevard
Olímpico, na Praça Mauá, as pessoas viveram a mesma emoção do estádio. Foi um
grito de desabafo, mais do que o de um gol. Parecia final de Copa do Mundo. E
lavou as almas brasileiras igualzinho.