RIO O baiano Robson Conceição, de 27 anos, conquistou nesta terça-feira o primeiro ouro olímpíco da história do boxe ao derrotar o francês Sofiane Oumiha no ringue do Pavilhão 6 do Riocentro.
Contando com grande apoio da torcida, que desde o início gritava “O campeão chegou” e cantava “Uh, vai morrer!” para o francês, o pugilista dos pesos ligeiro (até 60kg) finalmente realizou o sonho de ser campeão olímpico depois de duas derrotas frustrantes na primeira rodada em Pequim-2008 e Londres-2012.
Robson assim, supera a prata de Esquiva Falcão em Londres. Este era até então o melhor resultado do esporte em Jogos Olímpicos.
Baiano, Robson começou a carreira em Salvador, onde iniciou os treinamentos na academia de Luiz Dórea aos 15 anos. No início, era um tímido jovem que brigava na rua. Com o boxe, ganhou disciplina e uma chance de mudar a própria vida.
Um amigo me falou: “Tenho dois meninos que eu queria que você treinasse. Nas suas mãos eles vão virar ouro”. Eram o Robson e o Robenilson (de Jesus, que disputou as três últimas Olimpíadas). O Robson era muito humilde. Queria ser campeão de boxe, campeão olímpico. Desde criança eu via o potencial que ele tinha conta Luiz Dórea, até hoje treinador do baiano. O Robson é um atleta destemido, focado. Tem um nível técnico muito bom e atitude de campeão.
A primeira disputa de Olimpíada de Robson foi em Pequim-2008. Mas ele acabou perdendo na estreia para o chinês Li Yang. Quatro anos depois, foi para Londres e teve o mesmo destino ao perder para o britânico Josh Taylor na primeira rodada.
Mas Robson não deixou que estas derrotas o abalassem. Quatro anos depois, a casa seria sua e era a sua chance de fazer história. Trabalhou duro com o seu técnico na Bahia e os técnicos da seleção brasileira de boxe. E foi colhendo frutos. Os mais importantes, as medalhas nos dois mundiais que disputou.
Em Almaty, no Cazaquistão, em 2013, Robson foi vice-campeão mundial. Perdeu apenas a decisão para o cubano Lázaro Álvarez, o mesmo que derrotou na semifinal olímpica no domingo passado. Dois anos depois, em Doha, no Qatar, foi medalha de bronze e poderia novamente ter encontrado Lázaro na decisão se não tivesse sido derrotado por Albert Selimov, do Azerbaijão, nas semifinais. No meio disso tudo, chegou a liderar o ranking mundial da sua categoria.
Na Olimpíada, foi derrotando um por um os seus rivais. Robson pegou logo de cara Anvar Yunusov, do Tadjiquistão, e medalhista de bronze no Mundial de Baku, em 2011. O combate durou apenas um round porque Anvar havia machucado a mão em sua estreia contra o chinês Shan Jun e o brasileiro aproveitou essa vantagem para impor um ritmo intenso à luta e obter uma vitória depois que o rival desistiu no primeiro round.
A luta seguinte, contra Hurshid Tojibaev, do Uzbequistão, já valia uma medalha. Uma vitória garantia a Robson um bronze, pois no boxe não há disputa do terceiro lugar. Quem perde na semifinal, ganha uma medalha referente ao terceiro lugar. O baiano foi muito bem, resistiu aos golpes mais fortes do rival, principalmente no jogo de curta distância, e venceu por decisão unânime dos juízes.
Ai veio a luta contra Lázaro. Um rival sempre complicado, mas com um histórico e equilíbrio entre os dois: uma vitória para cada lado. Como esperado, foi um combate cheio catimba e que deixou todos com os nervos à flor da pele. Mas ao fim, o baiano levou a melhor, venceu por decisão unânime dos juízes e acabou com a “marra” do cubano. Ou, nas palavras de Robson, Lázaro “teve o que mereceu” por não ser humilde. Foi uma vitória com a marca da campanha do baiano no Rio: muita garra, concentração e técnica no estilo de boxe praticado pelo brasileiro.