Esportes

Refugiados se encontram em treino no Estádio Aquático

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O treino na piscina de aquecimento contígua ao Estádio Aquático, no Parque Olímpico na Barra, parecia comum nestes dias que antecedem o início dos Jogos. Poucos atletas davam as primeiras braçadas, as primeiras bandeiras dos países começavam a ser afixadas por equipes para demarcar territórios, poucas equipes de imprensa apareceram na área. O dia de preparação, porém, marcou um reencontro entre dois atletas nas raias de uma piscina.

Yusra Mardini, de 18 anos, e Rami Anis, 25, representavam a Síria em competições de natação e treinavam juntos. A guerra civil no país os colocou como refugiados, ela na Alemanha, ele na Bélgica. Os Jogos Olímpicos permitiram ontem aos dois estar em raias paralelas, uma cena não vista há anos.

Yusra e Rami são dois dos dez integrantes do time de atletas refugiados, uma novidade numa Olimpíada. Eles foram os primeiros – e até agora os únicos do time – a chegar à Vila dos Atletas na Barra.
No fim da tarde e início da noite de ontem, Yusra e Rami treinaram juntos pela primeira vez nas instalações do Estádio Aquático. Os dois vão disputar – sem chances de medalhas – os 100 metros livres e os 100 metros borboleta.

Atletas em formação, e com formação interrompida por uma situação de conflito, eles querem melhorar seus próprios tempos. As braçadas na piscina, televisionadas para bilhões de espectadores, terão um forte valor simbólico.

– Eu sinto que estou competindo por todos: pelos refugiados, pela Síria, pela Alemanha – diz Yusra.

Rami pensa em Tóquio em 2020:

– É claro que eu queria competir pelo meu país, pela Síria. Talvez esta seja uma possibilidade em Tóquio.

A delegação da Síria tem sete atletas nos Jogos Olímpicos no Rio. Um homem, Azad Albarzi, de 28 anos, e uma mulher, Baean Jouma, 22, disputam modalidades da natação. Yusra diz conhecer os atletas.
A jovem, que era treinada pelo pai na Síria, hoje tem como técnico um alemão. Rami é treinado por uma belga, Carine Verbauwen, que disputou os Jogos Olímpicos de Montreal em 1976 e de Moscou em 1980.

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Os dois refugiados chegaram à Europa em 2015. Antes, Rami se refugiou na Turquia, entre 2011 e 2015. Eles chegaram a treinar na equipe da Síria por oito anos. Os treinos foram retomados em solos alemão e belga.

– Eu tenho um tempo e quero melhorar este tempo. Este é meu objetivo – diz Rami.

– Meu objetivo é este também: fazer o melhor tempo possível – completa Yusra.

Na Vila dos Atletas, os dez refugiados vão ocupar um andar inteiro. Estão próximos dos atletas da República Tcheca, no prédio 15. Yusra chegou ao Rio por volta das 5 horas de ontem e decidiu treinar no mesmo dia. Rami treinou pela segunda vez na piscina de aquecimento do Estádio Aquático.

Eles são os únicos sírios do time de refugiados. Integram a delegação dois judocas da República do Congo e que moram no Brasil, mais especificamente no Rio. Eles entram amanhã na Vila dos Atletas. Outros cinco atletas são do atletismo. Eles deixaram o Sudão do Sul para morar no Quênia. O décimo atleta, um maratonista, é da Etiópia e mora em Luxemburgo.

O time foi criado pela primeira vez para uma Olimpíada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Primeiro, foram identificados 43 atletas refugiados. A lista foi afunilada para os dez que vão competir no Rio. A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) auxiliou neste processo.
A chefe de missão do time dos refugiados é Isabela Mazão, que atua na ACNUR em São Paulo. Ela planeja levar Yusra e Rami para conhecer o Rio quando acabar a participação deles na competição.

– A fuga da Síria afetou o treinamento dos dois. Eles voltaram a treinar nos países para onde fugiram. Se algum dos dez atletas ganhar uma medalha, ela não vai para nenhum país, mas para o time dos refugiados. Era um sonho para cada um deles participar de uma Olimpíada – diz Isabela.