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O que significa Vanderlei acender a pira olímpica?

A escolha do ex-maratonista ensina sobre o Brasil e o espírito dos jogos

3wcfTYRu.jpgRIO – A escolha do atleta que acende a pira olímpica não tem uma regra: se tivesse, não teria resultados tão inesperados. Pode ser uma homenagem a um gigante, ponto pacífico, como foi com o eterno campeão Muhammad Ali, em 1996. Pode ser uma reparação metonímica, como a escolha de Cathy Freeman, Sydney-2000, que representava a nação aborígene marginalizada na Austrália. Ou pode ser um projeto de país, como os jovens que se uniram para acender a de Londres.

Para o Rio, a honra coube a Vanderlei Cordeiro de Lima, colosso de simpatia desde que sua triste figura liderava a maratona de Atenas-1996 até ser abalroado por um maluco irlandês. Ficou com um bronze, mas foi com tal felicidade para esse bronze que deu ao mundo uma lição de espírito esportivo: não havia a quem culpar, apenas a má sorte, aquela que os leprechauns irlandeses trazem.

A verdade é que, se uma cerimônia de abertura é um espetáculo construído pelos séculos de cultura, educação e avanço de uma civilização, o momento em que a pira entra no estádio e é finalmente acesa é um retrato do momento. É uma carta ao mundo, um envelope das mensagens urgentes que o país precisa emitir — para dentro e para fora — e um teste para a criatividade com que as emite. É muito para ser simbolizado numa só pessoa, e, por isso, todas as apostas têm seus prós e contras.

Numa nação de tradições olímpicas modestas como o Brasil, de enorme identificação com o futebol, Pelé seria a aposta mais óbvia. Campeão universal, que ascendeu do berço humilde ao título de rei, reconhecido por todo o mundo circunscrito na paixão pela bola — tão indiscutível que nem nos damos conta de como ele ainda é uma poderosa bandeira verde-amarela.

Mas, e o consumo interno? Eleger Pelé é dizer a nós mesmos que, sim, devemos focar no futebol, porque é ali que somos bons. Guga? Simpático, mas precisamos de algo de dimensão olímpica sobre este exato momento.

A pira de Vanderlei é sobre encarar as dificuldades e, mesmo sem alcançar o padrão ouro, cruzar a linha com dignidade e aquela patológica alegria. É sobre os Jogos do Rio e o Brasil exatamente neste ponto: a maldição das crises combinada à vocação para fazer, sempre que possível, um novo carnaval.