O grito de ?campeão voltou? já virou clichê entre as torcidas brasileiras, mas quando ele é entoado pelo mesmo Mineirão lotado que viu a seleção brasileira desaparecer diante dos alemães há dois, ele ganha significado especial. Não se vinga o 7 a 1, mas a categórica vitória desta quinta-feira sobre a Argentina, seu maior rival, por 3 a 0,fez o Brasil superar definitivamente o luto pela tragédia de 2014.
O pentacampeão lidera as Eliminatórias sul-americanas, abriu oito pontos de vantagem para a primeira seleção fora da zona de classificação para a Copa e na próxima terça-feira enfrenta o Peru, em Lima.
Se pode soar exagero classificar como uma exibição de gala da seleção, o clássico de ontem mostrou a enorme diferença entre um time organizado, que sabe o que precisa fazer em campo, e outro que ainda busca minimamente se encontrar. O Brasil de Tite, além de produzir, não toma gols (sofreu apenas um em cinco jogos). Depois que abre o placar, dá poucas chances ao adversário.
A Argentina ia bem enquanto o jogo seguia o roteiro desejado por ela. A partir do primeiro gol, o time portenho foi cada vez mais se perdendo. Descontada a humilhação de ser atropelado pelo grande rival, em termos de classificação a rodada não foi tão ruim para a Argentina. O empate entre Colômbia e Chile e as derrotas de Equador (para o Uruguai) e Paraguai (para o Peru) deixam os argentinos ainda em sexto, mas a dois pontos do terceiro lugar.
O Brasil chegou à quinta vitória seguida, lidera absoluto e navega tranquilo para a Copa de 2018. ?Olê, olê, olê, Tite, Tite?, cantou a torcida mineira, identificando o principal responsável pelos novos tempos, logo após Paulinho fazer o terceiro gol brasileiro.
gol de Coutinho muda o jogo
Nos primeiros 20 minutos, a estratégia do técnico argentino Edgardo Bauza para marcar a seleção vinha dando certo, e colaborava para isso a pouca movimentação do time brasileiro com a boa. Os duelos individuais de marcação estavam encaixados, e o Brasil não saía dali: os laterais Zabaleta e Más cuidavam dos pontas Coutinho e Neymar; os ponteiros argentinos, Pérez e Di María, seguravam os avanços de Marcelo e Daniel Alves; no meio, os volantes Mascherano e Biglia impediam os armadores brasileiros, Paulinho e Renato Augusto, de criar.
O Brasil tocava a bola de um lado para o outro e não conseguia penetrar. A Argentina era perigosa com Messi. Aos 23, ele fugiu pela ponta direita e, ao atrair a marcação dupla de Marcelo e Paulinho, fez Biglia ficar livre, e achou o companheiro que chutou para boa defesa de Alisson.
No minuto seguinte, o Brasil abriu o placar ao fazer o que precisava para criar espaços. Philipe Coutinho saiu da ponta direita para a esquerda, e não foi acompanhado pelo lateral Más, que guarneceu seu setor. Achou um lugar entre o volante Mascherano e o zagueiro Otamendi. Parecia escondido, menos para quem tem a visão de jogo de Neymar. O passe saiu preciso, Coutinho arrancou para o meio e bateu cruzado, no ângulo. Um golaço, ao estilo dos que costuma fazer pelo Liverpool.
A desvantagem fez a Argentina avançar um pouco mais, Messi era quem mais buscava o jogo, mas o Brasil se defendia bem. Começou a haver espaço para o contra-ataque, pouco aproveitado pelo Brasil. No último minuto antes do intervalo, Gabriel Jesus apareceu. De um belo giro sobre Otamendi, considerado o melhor zagueiro argentina, criou o lance para o gol de Neymar. O palmeirense de 19 anos é um inegável acerto de Tite à frente da seleção.
Necessitado de buscar o empate, Bauza trocou Enzo Pérez por Aguero e, sintoma de uma equipe desorganizada, a Argentina virou dois times em campo: na frente, quatro jogadores (Aguero, Di María, Messi e Higuaín) tentavam resolver na individualidade, e ninguém mais voltava para marcar. Os de trás sofriam com o time brasileiro.
Os espaços se ofereciam, e o terceiro gol saiu aos 13 minutos, quando Paulinho aproveitou rebatida errada da zaga após cruzamento de Marcelo. O placar poderia ter sido maior se os atacantes brasileiros tivessem sido menos preciosistas em vários momentos.
Neymar, principalmente, tentou dribles e jogadas de efeito que atrasaram ou dificultaram alguns ataques. A torcida, porém, aprovou, vibrava com os dribles e se divertia cantando ?olé?.
O segundo tempo foi para o torcedor da seleção lavar a alma no Mineirão.