Esportes

Marta e Rafaela podem significar mudança de atitude no país, diz jornal americano

latimes.pngRIO ? “Agora os nomes de Rafaela e Marta parecem estar por todo lugar”. Foi a partir desta constatação que o jornal americano “Los Angeles Times” frisou a possibilidade de o protagonismo da judoca campeã olímpica e da estrela do futebol feminino indicar uma mudança de atitude no Brasil. O destaque às dua mulheres negras de origem humilde, escreve o diário, desponta como “profundamente significativo” em um país “marcado por racismo, desigualdade brutal e machismo nos esportes”.

De acordo com o diário, o Brasil trouxe à tona vários atletas pobres e negros ? mas raramente eram mulheres. Tanto o futebol quanto o judô seriam vistos como modalidades voltadas aos homens. O deslocamento do foco para elas provê às meninas uma perspectiva diferente.

? Devo dizer que tenho me emocionado muito ? disse ao “LA Times” Larissa Cayala, estudante de 20 anos. ? Considere o contexto. O Brasil é um país que pode ser extremamente racista e misógino. A elevação destas fortes mulheres em esportes tradicionalmente masculinos mostra que é possível superarmos as dificuldades. É prova de que não estamos mais nos tempos de nossos avós, que comandamos a nós mesmas, nossos sonhos e nosso futuro.

Na opinião de Didi Lima, de 29 anos, o significado deste destaque dá às crianças brasileiras exemplos de heroínas durante as Olimpíadas no próprio país ? algo ainda mais importante, ela reforça ao jornal americano, “já que o Brasil nunca teve ídolos femininos no esporte, apenas Pelés e Ayrtons Senna”.

FORÇA FEMININA

Como exemplo da centralidade das atletas na competição, o jornal cita a repercussão online, que teria afirmado a força feminina nas modalidades com as máximas “jogue como uma mulher” e “Marta é melhor que Neymar”. No mesmo dia em que a judoca ganhava o primeiro ouro brasileiro em casa, o nome da camisa 10 era entoado pela torcida desapontada pelo empate sem gols frente ao Iraque da seleção masculina, que trouxe ao Rio como líder o astro do Barcelona.

camisamarta.jpgOs gritos de “Marta!”, em Brasília, se somaram às imagens de torcedores que escreveram o nome dela na camisa da selação ao riscar o nome de Neymar, depois do que o jornal chamou de “retumbante vitória de 5 a 1, liderada por Marta, sobre a Suécia”. Da mesma forma, o diário recuperou a trajetória de Rafaela, criada na Cidade de Deus e alvo de insultos racistas após a desclassificação em Londres-2012. “Falaram que eu era uma vergonha para a minha família. Agora eu sou campeã olímpica”, citaram aspas da campeã.

A reação inédita não significa, ressalva o jornal, que o sexismo, o racismo ou a homofobia tenham desaparecido dos esportes brasileiros: os times de Canadá e Austrália ouviram cantos homofóbicos durante a partida e “comentaristas conservadores” usaram os casos de Rafaela e Marta para “tentar provar que mulheres e negros não sofrem opressão e não precisam de ajuda”.