O fim do calvário na Série B não aliviou imediatamente a expressão de Jorginho. O técnico do Vasco chegou à entrevista coletiva, 45 minutos após o apito final da vitória por 2 a 1 sobre o Ceará, com expressão fechada e olhar tenso, e raramente esboçou sorrisos. Nem parecia que o clube tinha conseguido o sonhado acesso à primeira divisão. Esse clima tenso ficou claro nas vaias e nos protestos contra o presidente do clube, Eurico Miranda, ao fim do jogo.
TABELA: Confira resultados e classificação final da Série B
Com jeito de desabafo, Jorginho se emocionou e chegou a falar em tom de despedida quando viu que o auxiliar, Zinho, assistia à entrevista coletiva. O treinador fez questão de abraçar o parceiro e declarar sua admiração por ele. Acabou dizendo que “foi bom trabalhar” com Zinho. Por mais de uma vez, o treinador vascaíno mencionou “nuvens” dentro do clube que tentaram colocar seu trabalho em xeque diante da queda de desempenho do time na reta final da Série B.
– Tensão altíssima. Foi difícil dormir, pressão enorme. Eu me senti com 300 kg nas costas. Ninguém queria o peso de não conseguir esse acesso à primeira divisão. Não é fácil trabalhar com essa pressão toda – admitiu Jorginho.
Antes da sofrida vitória de virada na “final” sobre o Ceará, o último jogo do Vasco no Maracanã havia acontecido no dia 8 de maio e com outra decisão, aquela, sim, valendo taça: foi o empate em 1 a 1 com o Botafogo, resultado que garantiu ao Vasco o título do Campeonato Carioca, já que havia vencido a primeira partida por 1 a 0.
O herói desta vez foi o atacante Thalles, revelado pelo próprio Vasco e que marcou os dois gols da vitória que confirmou o acesso. Jorginho apontou a melhora do atacante na parte física como essencial para a atuação, e frisou também a importância da substituição de Diguinho por Éder Luis:
– Acho que a mudança (no intervalo) foi fundamental para que a virada acontecesse. Tentamos dar mais liberdade ao Douglas, mas ele não foi bem naquela formação. Eu sabia que o Diguinho estava melhor no jogo que ele, mas o potencial que esse jovem tem me fez acreditar no que ele poderia fazer caso a equipe estivesse mais organizada. A troca pelo Éder foi perfeita, e encaixamos dois gols – valorizou.
EURICO SEM APARECER
O resultado deste domingo manteve o status de “infalível” do Maracanã quando se trata de garantir acessos do Vasco. Nas duas participações anteriores na Série B, em 2009 e 2004, os retornos à primeira divisão foram garantidos no estádio – vitória sobre o Juventude e empate com o Icasa, respectivamente. Nunca, no entanto, o suspense havia se estendido até a última rodada, fator que levou a pressão sobre o time às alturas.
Apesar das vaias recorrentes, inclusive quando seu nome foi anunciado no telão do estádio após a escalação do time, Jorginho preferiu enaltecer a presença maciça de torcedores. Mesmo com o mau momento do time, reconhecido pelo próprio treinador, o Maracanã teve mais de 50 mil vascaínos:
– Quero dizer, em primeiro lugar, que fiquei muito feliz com a nossa torcida. Passar pelo que eles passaram e ainda lotar o Maracanã é uma demonstração de amor e fidelidade. É normal que aconteça uma vaia ou outra, mas estou impressionado com a força dessa torcida. Tenho certeza que eles foram decisivos.
A pressão na reta final da Série B, que fez Jorginho balançar no cargo, será ingrediente indissociável da próxima reunião do treinador com o presidente do clube, Eurico Miranda, que deve acontecer ao longo da semana. Alvo de xingamentos e protestos da torcida do início do jogo até depois do apito final, Eurico manteve a rotina reclusa dos últimos tempos e não apareceu na sala de entrevistas para falar com os jornalistas.
– O Vasco é um clube bem diferente de todos os outros. Quem manda aqui é o presidente, nenhuma outra pessoa, e eu tenho compromisso com ele. Sei que algumas informações saem, de nuvens dentro do Vasco, mas em nenhum momento me senti ameaçado porque quem manda é o presidente, e eu tinha um compromisso com ele – disse Jorginho, indicando a presença de vozes contrárias à sua permanência nos bastidores do clube: – Ninguém manda aqui dentro, só ele (Eurico), e isso me dava tranquilidade para trabalhar mesmo com algumas vozes falando outras coisas ali dentro. Existem vozes internas e vozes externas. É uma coisa que vou guardar para mim – encerrou.