Cascavel – Quem tem a oportunidade de visitar o Centro de Treinamento do Futebol Clube Cascavel, ou acompanha aos jogos das categorias de base, escuta uma mistura de sotaques, que vão desde o “s” chiado do “carioquês” até o arrastado jeitinho baiano de falar. Isso porque o clube abriu as portas do CT para a gurizada de todo o Brasil, buscando fortalecer a base de atletas, e oportunizando que muitos meninos que estavam desacreditados tenham uma nova chance, dentro e fora de campo.
“A maioria chega aqui sem condições financeiras e até psicológicas. Muitos são menores, alguns já pararam os estudos. Então, fornecemos o transporte até o colégio, material escolar e uniforme, para que eles sejam não só bons jogadores, mas bons cidadãos”, detalha o gerente-geral do clube, Sebastião Marques.
Diferentes cidades de Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia… Os campos do FC Cascavel se transformaram num verdadeiro intercâmbio cultural. Maicon Douglas Dissena, de 17 anos, é um exemplo: veio de Nova Iguaçu (RJ), abraçando a oportunidade de estar no FC Cascavel, depois de já ter pensando em desistir do futebol.
“Eu era obeso, pesava 110 kg, então nunca cogitei ser jogador profissional. Mas me incentivaram a cuidar da saúde e consegui chegar aqui. A chance no FCC veio no momento que eu estava precisando. Estava em um clube no Rio e logo que acabou o campeonato carioca, todo mundo foi dispensado. Quando eu já pensava em desistir, surgiu essa oportunidade. Agora espero ser campeão paranaense, ajudar bastante o clube, me dedicar nos treinos”.
Como uma família
Já Breno Herick, de 17 anos, é maranhense e saiu aos 12 anos de casa porque via poucas oportunidades de jogar futebol no Maranhão. “Tive uma infância muito desacreditada. Saí cedo de casa para treinar, fiquei dois anos fora, longe da minha família e acabei me desmotivando. Para mim o futebol não valia mais… Até que me mudei para Santa Catarina, entrei num projeto e acabei conhecendo o Jean, que assumiu como técnico do Sub-17 do FC Cascavel, e consegui estar aqui. O FC é outro mundo para mim, é o céu”, comemora. O treinador Jean Pereira diz que apesar de contar com jogadores com características bem distintas, a união tem prevalecido: “Como já estive no lugar deles, dou muitos conselhos. Quase como um pai ou irmão mais velho. Eles contam como era no estado deles, a gente se diverte. É a famosa ‘resenha’! Gostamos muito dessa gurizada. Mas sabemos a hora de brincar e a hora de cobrar. Tentamos socializar todos, para mostrar que temos que estar unidos. E eles se dão muito bem!”.